terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Fuzilamento de jovens negros, no Rio, segue um padrão de suspeito com fundamento racista, afirma sociólogo




Estado precisa reconhecer que fuzilamento de jovens pobres não foi apenas um erro, diz sociólogo

Professor defende mudança efetiva na mentalidade das instituições


O fuzilamento dos cinco jovens no Complexo da Pedreira, Zona Norte do Rio, com cinquenta tiros no último sábado, (28) não se trata de um erro ou ação exagerada da Polícia Militar, é fruto de "um procedimento que gera rotina" em determinadas partes da cidade, destaca o sociólogo e cientista político, Paulo Baia, professor da UFRJ. Ele defende uma mudança efetiva na mentalidade das instituições, para que situações como esta, entre tantas outras, não se repitam.
"A análise [deste caso] é a de sempre. Você tem uma cidade segregada e você tem um padrão de suspeito, com um fundamento racista. Esses episódios que são colocados como 'erros' e 'casos isolados' não são erros nem casos isolados, são um sistema que se repete. Você não enxerga isso como um padrão geral em todo o território da cidade do Rio. Na Zona Sul, isto não acontece. Se as pessoas dentro de um carro são brancas, elas não são suspeitas", comentou o professor em conversa com o JB
Para Paulo Baia, é um passo importante o Estado reconhecer um erro, mas é necessário assentir que não se trata apenas de um erro. "Não há diferença desse caso para vários outros casos que já aconteceram. Não está havendo aumento da criminalização da pobreza, há continuidade da criminalização da pobreza."


Cinco jovens foram fuzilados com cinquenta tiros por PMs no Complexo da Pedreira
Cinco jovens foram fuzilados com cinquenta tiros por PMs no Complexo da Pedreira

O professor também salientou que a instalação de uma política de segurança, como levantado pelo governo estadual com a possibilidade de abertura de uma UPP na região, poderia ser um avanço. No entanto, sem uma mudança efetiva na mentalidade das instituições, que retire o conteúdo de natureza racial dessas ações, por exemplo, o procedimento continuará sendo o mesmo.
Antônio Carlos da Costa, fundador do Rio de Paz, ressaltou em nota que o que houve em Costa Barros é sintomático de uma cultura de guerra. “O Rio de Janeiro não suporta mais a cultura do 'não se faz omelete sem quebrar os ovos'. Somente este ano, cinco crianças morreram em troca de tiro entre policiais e bandidos.” Para o Movimento, não basta punir o policial que pratica esse tipo de crime. É necessário também responder a questões como se haverá alguma mudança na segurança pública do Rio.
A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, em nota assinada pelo seu presidente Jefferson Moura, também manifestou repúdio contra o assassinato dos jovens. "A ação, extremamente violenta e desproporcional na correlação de ação x reação, (...)  traz à tona, mais uma vez, o despreparo e inobservância dos direitos fundamentais à dignidade humana e aos tratados internacionais de direitos humanos ratificados pelo Brasil."
A nota chamou a atenção ainda para o procedimento adotado pelos policiais responsáveis pelas mortes, que indicaram a princípio que se tratava de auto de resistência. "É lamentável saber que todos os dias um número significativo de pessoas são assassinadas por agentes do Estado e que esses crimes fiquem sem a devida investigação. Entram, lamentavelmente, na estatística dos autos de resistência, forjados em muitos casos."
Roberto de Souza, 16 anos; Carlos Eduardo da Silva Souza, 16 anos; Cleiton Correa de Souza, 18 anos; Wesley Castro, 20 anos, e Wilton Esteves Domingos Junior, 20 anos, foram mortos pela polícia depois de passarem o dia no Parque de Madureira. Um deles comemorava o recebimento de seu primeiro salário. Outro tinha acabado de se formar em um curso técnico de administração. Um ato está sendo organizado para esta quinta-feira (3), no Parque de Madureira, contra o genocídio da juventude negra

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