O governo Dilma, as direitas fascistas e as esquerdas, por Roberto Bitencourt da Silva
SEX, 07/08/2015
Nunca vi, nem jamais li algo parecido com o que se passa no governo da sra. Dilma Rousseff. Uma presidente sem vontade de governo, sem projeto algum de País. Um governo e um partido (PT) subservientes àqueles que querem varrê-los da cena pública, por permitir umas parcas, tímidas, mas reais melhorias sociais nos últimos anos.
O governo federal e o PT acenam para o PSDB, elogiam as organizações Globo, lançam os juros lá em cima, adotam um ajuste fiscal que incide especialmente sobre as classes médias e populares. Um caso estranhíssimo de desistência – e ainda precoce! – do governo e de abandono da plataforma eleitoral, mesmo que bastante acanhada.
As direitas mais empedernidas, partidárias ou não, são diversificadas. Têm no PSDB um dos sujeitos coletivos que participa da linha de frente do golpismo. Tais direitas, que envolvem diferentes estratos sociais e uma cosmovisão que sinaliza para um liberalismo econômico extremado e uma percepção política fascistóide, não possuem uma pauta clara. São ”contra a corrupção”, na esteira da agenda dos meios massivos de comunicação. O foco que galvaniza as sensibilidades destes setores é “acabar com o PT”, o seu “bolivarianismo”, “comunismo”.
Parece piada, mas não é. Trata-se de um caso muito curioso, já que o PT tem se revelado um gestor "eficiente" do periférico capitalismo brasileiro. Tem combinado acolhimento acrítico e irrestrito de investimentos externos, medidas privatizantes, estímulos à exportação de bens primários, com incentivos à expansão do mercado interno, via programas sociais compensatórios e realização de grandes obras para eventos e moradia. Para qualquer pessoa minimamente razoável, de "socialismo", “comunismo” nem lembrança. Mas, para as direitas fascistóides, servem como demônios a serem “exorcizados” no Brasil.
Especialmente os bancos e o agronegócio ganharam bastante nestes anos Lula/Dilma. O comércio também foi bastante beneficiado com a elevação do poder de compra, sobretudo, das classes populares, agora em retrocesso. Do ponto de vista de alguns importantes estratos empresariais, nacionais e internacionais, é difícil reconhecer motivações salientes para adesão ao golpismo em marcha.
Contudo, os conglomerados de mídia consistem em setor decisivo. São agentes políticos, não apenas infocomunicacionais, que se arrogam a condição de controladores da agenda pública e de representantes, semiexclusivos, da opinião pública. Eles dão o tom, já que se encontram no centro do poder, de fato: um "príncipe eletrônico", como classificou o sociólogo Octavio Ianni anos atrás.
Frações das classes médias e trabalhadoras vão a reboque da cantilena destes conglomerados, contra os seus próprios interesses materiais e simbólicos, na esteira dos apelos midiáticos que visam canalizar a frustração e o descontentamento (reais, diga-se, mas mal dirigidos). A opinião pública, esta semana, já tem sido representada por meio de sondagens favoráveis ao impeachment. Instrumento pseudocientífico que visa legitimar ações e posicionamentos golpistas.
Importa frisar que, se essa turma golpista e fascistóide conseguir os seus objetivos, se pode argumentar que os direitos trabalhistas mínimos correm grande risco. Ademais, o incremento da sociedade policial, muito visível no Rio de Janeiro, ficaria, ou está, à espreita. Em relação aos trabalhadores, governos repressivos e nada ciosos com os direitos sociais, como os do PMDB, no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro, assim como do PSDB, em São Paulo e Paraná, dão uma amostra do que estaria por vir para todo o País.
De resto, o cenário político é grave, também por falta de opção, por conta da alta fragmentação e desconfiança generalizada entre os setores progressistas. Mormente os partidos mais à esquerda, talhados num enorme e rotineiro dispêndio de energia contra integrantes individuais e coletivos do próprio campo popular-democrático. Contentam-se mais com uma vitória em um centro acadêmico, um DCE ou um sindicato, do que em tecer articulações amplas em torno de programas comuns e iniciativas de relevo para a Nação. Uma triste e inócua realidade há tempos.
Faz-se necessário constituir uma plataforma unitária entre as forças progressistas, democráticas e nacionalistas, pois a sombra do fascismo paira seriamente em nosso País. Uma plataforma de atuação e de elaboração programática, que valorize e respeite as diferenças internas, que guarde maior atenção a um projeto de Nação, do que a vaidades ou "capitalizações políticas" medíocres e irrelevantes, tradicionalmente obtidas em microcosmos políticos corporativos. Urge sair das microesferas e chegar ao grosso da população. Sem unidade, impossível.
Roberto Bitencourt da Silva – doutor em História (UFF) e professor da FAETERJ-Rio/FAETEC e da SME-Rio.
Publicado no Diário Liberdade.
Publicado no Diário Liberdade.
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