Neste 25 de outubro, dia do Dentista, é importante ressaltarmos a Saúde Coletiva em Odontologia.
Inicio destacando o seguinte texto do livro " Saúde Bucal no Brasil - Muito Além do Céu da Boca" (Narvai, P. C., & Frazão, P. (2008). Saúde bucal no Brasil: muito além do céu da boca. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz.):
" A saúde-doença na boca envolve aspectos objetivos e subjetivos e decorre de um complexo causal no qual estão envolvidos muitas variáveis. Algumas dessas variáveis, apenas algumas se localizam no campo das competências dos profissionais de saúde e um número ainda menor diz respeito diretamente ao trabalho propriamente odontológico".
( Do livro "Saúde Bucal no Brasil - Muito Além do Céu da Boca" - Paulo Capel Narvai e Paulo Frazão )
O livro trata do contexto do sistema e das políticas de saúde bucal no Brasil. Os autores compreendem a saúde bucal em suas várias dimensões, transitando do biológico ao social e ao psicológico e analisando suas implicações políticas.
Saúde Coletiva em Odontologia
O Brasil é marcado pela profundidade dos contrastes sociais e pela exclusão de parcela expressiva da nossa população aos elementares direitos sociais.
Na área da saúde a construção do SUS é um exemplo da luta por justiça social. No dia a dia de nossas cidades e na zona rural, muitas imagens expressam o quanto as desigualdades sociais humilham, degradam e fazem sofrer milhões de pessoas.
A promoção de saúde bucal está inserida num conceito amplo de saúde que transcende a dimensão meramente técnica do setor odontológico.
Significa a construção de políticas públicas saudáveis, o desenvolvimento de estratégias direcionadas a todas as pessoas da comunidade. Os profissionais da equipe de saúde bucal devem desenvolver a capacidade de propor alianças, seja no interior do próprio sistema de saúde , seja nas ações desenvolvidas com outras áreas (intersetorialidade).
A seguir trechos do artigo do Prof. Paulo Capel Narvai,, dentista sanitarista, especialista, mestre e doutor e livre docente em Saúde Pública da USP :
Avanços e desafios da Política Nacional de Saúde Bucal no Brasil
( Tempus- Actas de Saúde Coletiva - Saúde Bucal. V. 5, nº3, 2011)
¨ No dia-a-dia das nossas cidades e na zona rural, muitas imagens expressam o quanto desigualdades sociais humilham, degradam e fazem sofrer milhões de pessoas. São imagens cruéis, expressão e símbolo da chaga da exclusão social. Muitas dessas imagens são do corpo humano, dentre elas imagens de bocas e dentes. As condições dentárias são, sem dúvida, um dos mais significativos sinais de exclusão social. Seja pelos problemas de saúde localizados na boca, seja pelas imensas dificuldades encontradas para conseguir acesso aos serviços assistenciais, dentes e gengivas registram o impacto das precárias condições de vida de milhões de pessoas em todo o país.
A escolaridade deficiente, a baixa renda, a falta de trabalho, enfim, a má qualidade de vida produz efeitos devastadores sobre gengivas, dentes e outras estruturas da boca. O conhecimento científico disponível corrobora essas associações. Problemas na boca dão origem a dores, infecções e
sofrimentos físicos e psicológicos. Por essa razão, o enfrentamento, em profundidade, dos problemas nesta área exige mais do que ações assistenciais desenvolvidas por profissionais competentes. Requer políticas públicas com ações intersetoriais, a integração de ações preventivas, curativas e de reabilitação e enfoque de promoção da saúde, universalização do acesso, responsabilidade pública de todos os segmentos sociais e, sobretudo, compromisso do Estado com o envolvimento de instituições das três esferas de governo. Como, aliás, determina com toda clareza a Constituição da República.
Para que o direito humano à saúde bucal não seja letra morta em documentos oficiais, como leis e relatórios variados, deve ser objeto de ações públicas e privadas que lhe deem concretude. Em decorrência, as ações realizadas nessa área, seja pelo Estado seja por particulares, devem se constituir, cabe reiterar, em políticas públicas formuladas, implementadas e avaliadas na esfera pública, com ampla e democrática participação da sociedade. Em “Saúde Bucal no Brasil: muito além do céu da boca”, livro que publiquei em 2008 com Paulo Frazão, afirmamos que o conflito fundamental que caracteriza a Política Nacional de Saúde Bucal (PNSB) em curso no Brasil, na primeira década do século XXI, é travado entre as correntes que identificamos como ‘saúde bucal coletiva’ (SBC) e ‘odontologia de mercado’ (OM), pois ambas, sendo articuladas e fazendo parte de correntes político-ideológicas, procuram influenciar os rumos da PNSB, na defesa de seus respectivos interesses.
POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE BUCAL
Manter a saúde bucal na agenda da gestão das políticas públicas exigirá esforços.... Nesse processo será fundamental o papel do Estado, tanto na garantia do aprofundamento da democracia e dos princípios republicanos na vida nacional, quanto na implementação de soluções adequadas para regular os conflitos gerados pelo exercício de direitos coletivos e a preservação das liberdades individuais.
Avançar nessa direção implica, conforme tem sido apontado por diferentes atores sociais, superar o ideário liberal-privatista e, levando em conta o interesse público, desenvolver e fortalecer a capacidade de gestão das políticas públicas, da política de saúde e da PNSB, colocando- as em sintonia com os interesses populares.
Implica, em suma, avançar nas concepções e práticas que possibilitem romper a hegemonia da Odontologia de Mercado, transformar o modelo de atenção e, com isso, avançar na desodontologização da saúde bucal e na universalização dos cuidados odontológicos, preconizados pela Saúde Coletiva, tornando concreto para todos, também em seu componente bucal, o direito humano à saúde.¨
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