Grupo de padres sinodais refazem o ato e a promessa de opção preferencial pelos pobres, incentivados pelos temas apresentados na assembleia sobre a Região Pan-Amazônica
Dom Helder Câmara foi um dos mentores do texto do documento histórico (Divulgação)
Mirticeli Medeiros*Especial para o Dom Total
Cidade do Vaticano – Participantes do Sínodo da Amazônia se reunirão neste domingo (20) para renovar o chamado Pacto das Catacumbas, um documento assinado por mais de 40 bispos latino-americanos às vésperas da conclusão do Concílio Vaticano II, em 1965. O evento aconteceu na catacumba de Santa Domitila, em Roma.
O grupo que participará do ato será conduzido por dom Erwin Kräutler, bispo emérito da prelazia do Xingu (PA). Por volta das 6h50 da manhã (1h50 no horário de Brasília), alguns membros da assembleia sinodal seguirão em caravana rumo ao local que testemunhou esse momento histórico para a Igreja Católica, marcadamente para a Igreja latino-americana.
Dom Helder Câmara
Na ocasião do ato, em 1965, entre os 42 signatários, estiveram presentes cinco brasileiros: dom João Batista da Mota e Albuquerque (1909-1984), então arcebispo de Vitória; dom Francisco Austregesilo de Mesquita Filho (1924-2006), bispo de Afogados de Ingazeira (PE); dom José Alberto Lopes de Castro Pinto (1914-2007), bispo auxiliar do Rio de Janeiro; dom Henrique Hector Golland Trindade (1897-1974), bispo de Botucatu (SP); e dom Antônio Batista Fragoso (1920-2006), bispo de Crateús (CE).
Um dos idealizadores desse compromisso público e colaborador do texto foi dom Helder Câmara (1909-1999), à época arcebispo de Olinda e Recife e referência na defesa dos direitos humanos no Brasil. No texto foram elencadas 13 promessas de desapego aos bens materiais e aos privilégios ligados à vida episcopal.
O pacto influenciou o surgimento da Teologia da Libertação, uma postura de vigília às ditaduras autoritárias vigentes no continente latino-americano, além de ter motivado a convocação da segunda Conferência Geral do Episcopado Latino Americano (Celam), realizada em Medellín, na Colômbia, em 1968.
Em um dos trechos da carta, os bispos prometem “dar todo o tempo, reflexão, coração, meios etc., ao serviço apostólico e pastoral das pessoas e dos grupos laboriosos e economicamente fracos e subdesenvolvidos”. O texto fala, inclusive, de cobrar das autoridades “a observação das leis em favor da justiça, da igualdade e do desenvolvimento harmônico e total do homem todo em todos os homens”.
Leia alguns trechos do documento de 1965:
"Procuraremos viver segundo o modo ordinário da população, no que concerne à habitação, à alimentação e aos meios de locomoção"
"Para sempre renunciamos à aparência e à realidade da riqueza"
"Não possuiremos nem imóveis, nem móveis, nem conta em banco"
"Confiaremos a gestão financeira em nossa diocese a uma comissão de leigos"
"Recusamos ser chamados com nomes que signifiquem a grandeza e o poder (Eminência, Excelência, Monsenhor...). Preferimos padre"
"Evitaremos aquilo que pode parecer conferir privilégios"
"Mostrar-nos-emos abertos a todos, seja qual for a sua religião"
*Mirticeli Dias de Medeiros é jornalista e mestre em História da Igreja pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. Desde 2009, cobre o Vaticano para meios de comunicação no Brasil e na Itália e é colunista do Dom Total, onde publica às sextas-feiras.
Assista:
Do Pacto das Catacumbas a Francisco
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