sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Saúde Coletiva em Odontologia: algumas considerações


Neste 25 de outubro, dia do Dentista, é importante ressaltarmos a Saúde Coletiva em Odontologia.

Inicio destacando o  seguinte texto do livro " Saúde Bucal no Brasil - Muito Além do Céu da Boca" (Narvai, P. C., & Frazão, P. (2008). Saúde bucal no Brasil: muito além do céu da boca. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz.):

" A saúde-doença na boca envolve aspectos objetivos e subjetivos e decorre de um complexo causal no qual estão envolvidos muitas variáveis. Algumas dessas variáveis, apenas algumas se localizam no campo das competências dos profissionais de saúde e um número ainda menor diz respeito diretamente ao trabalho propriamente odontológico".
( Do livro "Saúde Bucal no Brasil - Muito Além do Céu da Boca"  - Paulo Capel Narvai e Paulo Frazão )

O livro trata do contexto do sistema e das políticas de saúde bucal no Brasil. Os autores compreendem a saúde bucal em suas várias dimensões, transitando do biológico ao social e ao psicológico e analisando suas implicações políticas. 


Saúde Coletiva em Odontologia

O Brasil é marcado pela profundidade dos contrastes sociais e pela exclusão de parcela expressiva da nossa população aos elementares direitos sociais.
Na área da saúde  a construção do SUS é um exemplo da luta por justiça social. No dia a dia de nossas cidades e na zona rural, muitas imagens expressam o quanto as desigualdades sociais humilham, degradam  e fazem sofrer milhões de pessoas.




A promoção  de saúde bucal está inserida num conceito amplo de saúde que transcende a dimensão meramente técnica do setor odontológico.
Significa  a construção de políticas públicas saudáveis, o desenvolvimento de estratégias direcionadas a todas as pessoas da comunidade. Os profissionais da equipe de saúde bucal devem desenvolver a capacidade de propor alianças, seja no interior do próprio sistema de saúde , seja nas ações desenvolvidas com outras áreas   (intersetorialidade).

A seguir trechos do artigo do Prof. Paulo Capel Narvai,, dentista sanitarista, especialista, mestre e doutor e livre docente em Saúde Pública da USP :

Avanços e desafios da Política Nacional de Saúde Bucal no Brasil
( Tempus- Actas de Saúde Coletiva - Saúde Bucal. V. 5, nº3, 2011)

¨ No dia-a-dia das nossas cidades e na zona rural, muitas imagens expressam o quanto desigualdades sociais humilham, degradam e fazem sofrer milhões de pessoas. São imagens cruéis, expressão e símbolo da chaga da exclusão social. Muitas dessas imagens são do corpo humano, dentre elas imagens de bocas e dentes. As condições dentárias são, sem dúvida, um dos mais significativos sinais de exclusão social. Seja pelos problemas de saúde localizados na boca, seja pelas imensas dificuldades encontradas para conseguir acesso aos serviços assistenciais, dentes e gengivas registram o impacto das precárias condições de vida de milhões de pessoas em todo o país.

 A escolaridade deficiente, a baixa renda, a falta de trabalho, enfim, a má qualidade de vida produz efeitos devastadores sobre gengivas, dentes e outras estruturas da boca. O conhecimento científico disponível corrobora essas associações. Problemas na boca dão origem a dores, infecções e 
sofrimentos físicos e psicológicos. Por essa razão, o enfrentamento, em profundidade, dos problemas nesta área exige mais do que ações assistenciais desenvolvidas por profissionais competentes. Requer políticas públicas com ações intersetoriais, a integração de ações preventivas, curativas e de reabilitação e enfoque de promoção da saúde, universalização do acesso, responsabilidade pública de todos os segmentos sociais e, sobretudo, compromisso do Estado com o envolvimento de instituições das três esferas de governo. Como, aliás, determina com toda clareza a Constituição da República. 

Para que o direito humano à saúde bucal não seja letra morta em documentos oficiais, como leis e relatórios variados, deve ser objeto de ações públicas e privadas que lhe deem concretude. Em decorrência, as ações realizadas nessa área, seja pelo Estado seja por particulares, devem se constituir, cabe reiterar, em políticas públicas formuladas, implementadas e avaliadas na esfera pública, com ampla e democrática participação da sociedade. Em “Saúde Bucal no Brasil: muito além do céu da boca”, livro que publiquei em 2008 com Paulo Frazão, afirmamos que o conflito fundamental que caracteriza a Política Nacional de Saúde Bucal (PNSB) em curso no Brasil, na primeira década do século XXI, é travado entre as correntes que identificamos como ‘saúde bucal coletiva’ (SBC) e ‘odontologia de mercado’ (OM), pois ambas, sendo articuladas e fazendo parte de correntes político-ideológicas, procuram influenciar os rumos da PNSB, na defesa de seus respectivos interesses. 


POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE BUCAL

Manter a saúde bucal na agenda da gestão das políticas públicas exigirá esforços.... Nesse processo será fundamental o papel do Estado, tanto na garantia do aprofundamento da democracia e dos princípios republicanos na vida nacional, quanto na implementação de soluções adequadas para regular os conflitos gerados pelo exercício de direitos coletivos e a preservação das liberdades individuais. 

Avançar nessa direção implica, conforme tem sido apontado por diferentes atores sociais, superar o ideário liberal-privatista e, levando em conta o interesse público, desenvolver e fortalecer a capacidade de gestão das políticas públicas, da política de saúde e da PNSB, colocando- as em sintonia com os interesses populares.

 Implica, em suma, avançar nas concepções e práticas que possibilitem romper a hegemonia da Odontologia de Mercado, transformar o modelo de atenção e, com isso, avançar na desodontologização da saúde bucal e na universalização dos cuidados odontológicos, preconizados pela Saúde Coletiva, tornando concreto para todos, também em seu componente bucal, o direito humano à saúde.¨



terça-feira, 22 de outubro de 2019

Papa Francisco recebe a biografia de Pedro Casaldáliga

Religion digital.org

El papa Francisco recibe con alegría la biografía de Pedro Casaldáliga



Mons. Adriano Ciocca entrega la biografia de Casaldáliga al Papa

Mons. Adriano Ciocca entrega la biografia de Casaldáliga al Papa

El Papa Francisco "ciertamente conoce la historia de Pedro y debe haber quedado contento de haber recibido un libro que recuerda el recorrido de este profeta"

“Creo que el Papa Francisco está muy cerca de Pedro Casaldáliga. Es el Papa con el que siempre soñó”


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En la Amazonía, Brasil y en todo el mundo, la figura de Pedro Casaldáliga es reconocida por su profetismo y defensa del pueblo. Alguien que ha vivido en la Amazonía durante más de 50 años, ha sido una fuente de inspiración para mucha gente. Esto se ha recopilado en infinidad de artículos periodísticos, revistas y libros. Uno de ellos es "Un obispo contra todas las Cercas", la biografía publicada este año por la periodista Ana Helena Tavares, donde se recogen muchos elementos presentes en la vida de aquellos que durante más de tres décadas fue obispo de São Felix do Araguaia. Él fue pastor como le gusta al Papa Francisco, con olor a oveja.
Esta biografía ha sido entregada al Papa Francisco al comienzo de los trabajos de la última semana del Sínodo para la Amazonía, donde se quieren hacer realidad los nuevos caminos que Don Pedro soñó, en el aula sinodal, este 21 de octubre. Según Monseñor Adriano Ciocca, obispo de São Félix do Araguaia, "lo ha agradecido", como se puede ver en las fotos del momento, pero reconoce que fue algo rápido, porque siempre hay una fila de personas que desean entregar algo o hablar con el Papa Francisco. Según Monseñor Adriano, "ciertamente conoce la historia de Pedro y debe haber quedado contento de haber recibido un libro que recuerda el recorrido de este profeta".

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Para Ana Helena Tavares, biógrafa de Casaldáliga, este momento “significa que todo valió la pena. Cinco años de trabajo han sido coronados hoy". Según la periodista brasileña, “creo que el Papa Francisco está muy cerca de Pedro Casaldáliga. Es el Papa con el que siempre soñó”.
Está agradecida de que Monseñor Adriano haya entregado el libro, “por lo que sigo y según la información que tengo, él es un obispo que está a la altura de la caminata de Pedro. Entonces, además de la alegría de ver el libro en las manos del Papa, es un honor también que fue entregado por el actual obispo de São Félix".
En las últimas semanas ha habido rumores sobre el empeoramiento de la salud de Pedro Casaldáliga, que posteriormente ha sido negado por los más cercanos al obispo emérito de São Félix do Araguaia, quien lleva años conviviendo con el "Hermano Parkinson", como él mismo ha dicho repetidamente.

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segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Notícias do Chile, por Otavio Rojas


Jornal GGN

Notícias do Chile

por Otavio Rojas

Como muitos já estão acompanhando, há uma verdadeira rebelião popular em curso no Chile. O país que era o exemplo sul-americano de estabilidade e modernidade explodiu.
Quero contar um pouco de como estão as coisas por aqui desde o início da rebelião.
Na semana passada o governo anunciou um aumento da passagem dos ônibus e metrôs de Santiago. O aumento anunciado foi de 30 pesos, mais ou menos 4 centavos de dólar. Um valor irrisório, se não fosse só a ponta do iceberg. No entanto, o buraco é mais embaixo, como dizemos no Brasil.
O Chile foi um dos berços ou laboratórios do que se conhece como neoliberalismo. Aqui, desde a ditadura de Pinochet, todo o plano econômico dos neoliberais da Escola de Chicago foi implementado desde fins da década de 1970. A maioria dos serviços públicos foi privatizada. As universidades públicas são todas pagas. No Brasil, temos a ideia de que algo público é gratuito, mas isso não é assim em vários países. No Chile, uma mensalidade em uma universidade pública pode custar mais do que em uma universidade privada. Como os salários das famílias são muito baixos (mais de 50% da população vive com menos de salário mínimo), as famílias não têm dinheiro para pagar as mensalidades. Isso gerou, há anos, um enorme problema de endividamento dos estudantes e de suas famílias. Aqui, um estudante que termina seu curso universitário e pode passar 10 ou 15 anos pagando os empréstimos que tomou.
A saúde pública também é paga. Não existe um SUS. Os hospitais públicos são caóticos, todos os anos morrem milhares de pessoas nas filas de espera. Quem tem dinheiro para pagar um plano de saúde privado acaba comprometendo grande parte de sua renda nisso, já que os planos não cobrem todos os gastos de atendimento hospitalário, internações, cirurgias, etc. Se uma pessoa fica doente e se salva, seguramente sairá com uma enorme dívida que terá que pagar pelos próximos anos.
Os direitos trabalhistas foram destruídos pela ditadura. A jornada de trabalho é de 45 horas, as férias são de 15 dias, os trabalhadores têm meia hora de almoço. A maioria dos sindicatos não têm nenhum poder de negociação, já que dentro de uma mesma empresa é permitida a existência de muitos sindicatos do mesmo setor (dentro de uma mina, por exemplo, podem existir 20 ou 30 sindicatos). O resultado disso é que os patrões fazem o que querem. A possibilidade de reação dos trabalhadores é pequena. E quando há sindicatos fortes, estão na mão de burocratas que defendem mais os patrões do que os trabalhadores.
Uma das heranças mais nefastas da ditadura é o sistema de aposentadorias. Todo o sistema é privado. A aposentadoria dos trabalhadores é administrada pelas AFPs, Administradoras dos Fundos de Pensão. São empresas privadas que utilizam a enorme quantidade de recursos que é descontada todos os meses dos salários dos trabalhadores para lucrar. O dinheiro das aposentadorias é utilizado para financiar os negócios dos próprios empresários, comprar ações de empresas, etc. Os próprios donos das AFPs, que também são donos de muitas outras empresas, bancos, seguradoras, etc., utilizam esse dinheiro para financiar, com baixíssimas taxas de juros, seus outros negócios. É uma mina de ouro. Esse é o modelo de capitalização individual que Bolsonaro e Guedes quiseram implementar já com essa Reforma da Previdência no Brasil. Ainda não conseguiram, mas o projeto virá logo mais. Trata-se de destruir o sistema público (INSS) para que as empresas privadas administrem o dinheiro acumulado pelos trabalhadores. A lógica das AFPs é nefasta. Essa enorme soma de recursos é investida no mercado. Se há ganhos, isso fica pros acionistas das AFPs, se há perdas, esse dinheiro é retirado da aposentadoria dos trabalhadores. E o pior, a maioria dos trabalhadores se aposenta com menos de 30% do que recebia antes. Isso explica em grande parte o enorme aumento do número de suicídios de idosos na última década.
Nos últimos anos milhões de chilenos saíram às ruas de forma pacífica contra as AFPs e defendendo a volta de um sistema público de aposentadorias (como o nosso INSS). A resposta dos governos (de “esquerda” e de direita) foi fazer promessas e não mudar nenhuma vírgula. Agora, pior, o governo de Piñera (atual presidente) mandou ao Congresso uma reforma que entrega ainda mais dinheiro para as empresas.
Nas principais empresas do país, a exploração é brutal. O Chile é o maior produtor de cobre do mundo. Os mineiros, com um longo histórico de lutas, e suas famílias, sofrem diariamente as consequências mais nefastas da mineração – as doenças pulmonares (como a silicose), doenças musculares, psicológicas, etc. Muitos mineiros trabalham longe de suas casas, em turnos de 10/10 (10 dias de trabalho, 10 de descanso), o que os leva a ter uma dinâmica familiar muito difícil e penosa.
A situação do principal povo originário, os mapuches, é dramática. Há séculos esse povo vem resistindo às ofensivas dos empresários e do Estado para tomar suas terras, que se concentram principalmente na região sul (a mais fértil) do país. Há séculos há uma verdadeira guerra contra os mapuches.
Dito tudo isso, agora podemos voltar ao aumento da passagem.
Na semana passada, então, o governo decidiu aumentar o preço da passagem. Um trabalhador ou uma trabalhadora que toma dois metrôs por dia pode chegar a gastar em um mês, 1/6 do salário mínimo.
O aumento, claro, não foi bem recebido. Nos dias seguintes ao anúncio, muitos estudantes secundaristas começaram a convocar “pulas-catracas” nos metrôs. O movimento se massificou. O governo respondeu dizendo que não ia diminuir o preço da passagem e colocou a polícia nas estações de metrô. Daí pra frente a coisa foi piorando. Muitos vídeos mostram a polícia jogando bombas de gás lacrimogênio dentro das estações, crianças vomitando, mães chorando, policiais empurrando estudantes pelas escadas. Obviamente o efeito dessas ações foi o aumento das manifestações.
Na sexta-feira (18) o governo militarizou completamente as estações, diante das convocatórias massivas dos estudantes. No horário de pico de saída dos trabalhadores, 18h-19h, o governo resolveu fechar as estações para evitar os pulas-catracas. Essa decisão fez com que milhares de trabalhadores não pudessem voltar às suas casas e tivessem que caminhar. Isso gerou manifestações espontâneas em várias partes da cidade. Na sexta a noite, os conflitos mais violentos começaram.
Em todos os bairros começaram os protestos e confrontos com a polícia. De noite, a coisa já tinha se generalizado. Em todas os bairros da capital já havia protestos. As famílias se somaram à juventude. A polícia reprimiu e reprimiu. A revolta tomou um caráter mais violento. Nessa noite, 16 estações de metrô e um enorme edifício da empresa de energia Enel (localizado na principal avenida de Santiago) foram queimados, houve saques em alguns supermercados e barricadas por toda a cidade. A polícia já não conseguia mais controlar as manifestações.
Na noite de sexta-feira, diante de uma enorme rebelião popular, o governo anuncia o Estado de Emergência na cidade, restringindo os direitos a manifestação e reuniões e passando o controle da cidade às mãos de um general. As Forças Armadas são autorizadas a ocupar a cidade. Mais de 300 pessoas são presas.
A intervenção das Forças Armadas jogou ainda mais lenha na fogueira. Aqui há uma enorme raiva de amplos setores sociais contra as Forças Armadas pelo papel que tiveram na ditadura – os milhares de torturados, assassinados e desaparecidos. A maioria dos militares envolvidos nesses casos nunca foi punida.
A noite de sexta-feira foi de conflitos e barricadas. Não sabíamos como iria amanhecer o dia seguinte. A presença das Forças Armadas seguramente intimidaria os manifestantes, pensava o governo. Nada mais equivocado.
No sábado a cidade amanheceu com panelaços e conflitos em praticamente todos os setores populares e alguns bairros de classe-média. Os conflitos agora não eram só com os policiais, mas com as próprias Forças Armadas. Ontem (sábado), os protestos se expandiram para todo o país, de norte a sul, de Arica a Magallanes. O governo decretou estado de Emergência em Valparaíso (cidade portuária com longa trajetória de lutas) e Concepción (uma das principais cidades do sul). Em Santiago, muitos supermercados de grandes empresas (Wallmart, por exemplo) foram saqueados ou queimados. Em um dos incêndios, três pessoas morreram queimadas. Muitas farmácias e grandes lojas foram saqueadas. Sobre os saques, há cenas muito interessantes.
Muitos deles foram protagonizados por famílias e pela população em geral. Em um vídeo que circula pela internet é possível ver um jovem lúmpen que sai carregando uma enorme televisão. Os trabalhadores que organizavam a barricada, ao ver o jovem saindo com a televisão, tomam-na de suas mãos e a atiram na fogueira da barricada. O televisor começa a arder em chamas. Os alimentos saqueados, em vários lugares, foram repartidos pelos trabalhadores presentes nas barricadas.
O processo é totalmente espontâneo e sem direção. Os partidos tradicionais não conseguem controlá-lo. O governo está perdido. Ontem, teve que retroceder e declarou a revogação do aumento da passagem. Ao mesmo tempo, o general encarregado de Santiago, anunciou um toque de recolher a partir das 22h. Nada poderia enfurecer ainda mais a população, que saiu às ruas massivamente após o toque de recolher e passou a noite nas barricadas enfrentando-se com a polícia e o exército. Os protestos ganharam muito apoio popular, apesar da campanha dos grandes meios de comunicação para criminalizar os “vândalos” que estavam queimando os metrôs e saqueando os supermercados. Entre os trabalhadores se armou também um grande debate sobre as táticas que devem ser utilizadas no movimento, já que a destruição do transporte público ou outros espaços públicos seguramente acabará significando uma perda para a própria população. Mas a raiva foi incontrolável.
Os vídeos da brutalidade policial e do exército circulam sem parar. Ontem, a cidade de Valparaíso, uma das mais combativas do país, foi completamente ocupada por tropas do exército. Os conflitos se estenderam por toda a noite de ontem. Muitos panelaços foram realizados de norte a sul do país.
Hoje o dia amanheceu relativamente tranquilo. Alguns ônibus circulavam por Santiago. O aeroporto, no entanto, não funcionou. Muitos voos foram cancelados, o que está gerando um colapso. Logo no início da manhã começaram as concentrações nas praças e outros lugares públicos. Na emblemática Plaza Itália, o conflito com o exército e a polícia não pararam um minuto. Mais incêndios, mais saques, muitas barricadas. O governo novamente anunciou o toque de recolher para as 19h (há duas horas).
Um novo fenômeno começou a aparecer. Grupos armados de traficantes ou relacionados com a própria polícia começam a assustar as populações mais combativas, atacar feiras e outros pequenos negócios. Há notícias de corte de água em vários lugares de Santiago. Os vídeos da brutalidade das Forças Armadas não param de circular. Se ainda não há nenhum assassinado pela pelas forças militares ou paramilitares, essa é uma possibilidade grande nas próximas horas ou dias.
A fúria popular é enorme e não parece que diminuirá tão cedo. O governo não tem outra resposta além da repressão. Já são 9 mil militares distribuídos pelas cidades ocupadas.
Enquanto escrevo essas linhas, escuto gritos, tiros e bombas ao lado de fora do lugar onde estou.
Bem vindos ao Chile, um oásis de modernidade e estabilidade da América Latina.
(Nos últimos minutos o governo anunciou que já subiu para 7 o número de mortos, que vai aumentar a repressão, ampliar o estado de Emergência para mais regiões)
Texto Otavio Rojas
Sociólogo

domingo, 20 de outubro de 2019

Firmado hoje o Pacto das Catacumbas pela Casa Comum


Dom Cláudio Hummes usou a estola que foi de Dom Helder Câmara e no final da celebração entregou-a a Dom Erwin Klauter como reconhecimento pela sua opção profética.

Do facebook de Jaime C. Patias
Conselheiro Geral do IMC



#amazoniacasacomun #sinodoamazonico #pactodascatacumbas

 Pacto das Catacumbas pela Casa Comum. Por uma Igreja com rosto amazônico, pobre e servidora, profética e samaritana.

 Recordando os bispos que ao término do Concílio Vaticano II, em 1965, firmaram o "Pacto por uma Igreja servidora e pobre", nas Catacumbas de Santa Domitila, participantes do Sínodo para a Amazônia e convidados voltaram ao mesmo lugar para repetir o gesto. No início da celebração que foi presidida pelo Card. Cláudio Hummes e concelebrada por vários padres sonodais, Pe. Oscar Beozzo recordou a história do Pacto e destacou a liderança de Dom Helder Câmara, Dom Leonidas Proaño e Dom Enrique Angelelli. Este Pacto pela Casa Comum foi assinado por todos os presentes (mais de 200 pessoas inclusive membros de outras igrejas) com destaque para os indígenas e as mulheres. Dom Cláudio usou a estola que foi de dom Helder Câmara e6 no final da celebração entregou-a a Dom Erwin Klauter como reconhecimento pela sua opção profética. Em Domitila, fazendo memória do Mártir Jesus e de todos os que pela fé n'Ele derramaram seu sangue renovamos a nossa opção pelos pobres na defesa da Casa Comum. Confira abaixo a íntegra do Documento. Pacto das Catacumbas pela Casa Comum Por uma Igreja com rosto amazônico, pobre e servidora, profética e samaritana Nós, participantes do Sínodo Pan-amazônico, partilhamos a alegria de habitar em meio a numerosos povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, migrantes, comunidades na periferia das cidades desse imenso território do Planeta. Com eles temos experimentado a força do Evangelho que atua nos pequenos. O encontro com esses povos nos interpela e nos convida a uma vida mais simples de partilha e gratuidade. Marcados pela escuta dos seus clamores e lágrimas, acolhemos de coração as palavras do Papa Francisco: “Muitos irmãos e irmãs na Amazônia carregam cruzes pesadas e aguardam pela consolação libertadora do Evangelho, pela carícia de amor da Igreja. Por eles, com eles, caminhemos juntos” . Evocamos com gratidão aqueles bispos que, nas Catacumbas de Santa Domitila, ao término do Concílio Vaticano II, firmaram o Pacto por uma Igreja servidora e pobre . Recordamos com veneração todos os mártires membros das comunidades eclesiais de base, de pastorais e movimentos populares; lideranças indígenas, missionárias e missionários, leigas e leigos, padres e bispos, que derramaram seu sangue, por causa desta opção pelos pobres, por defender a vida e lutar pela salvaguarda da nossa Casa Comum . À gratidão por seu heroísmo unimos nossa decisão de continuar sua luta com firmeza e coragem. É um sentimento de urgência que se impõe ante as agressões que hoje devastam o território amazônico, ameaçado pela violência de um sistema econômico predatório e consumista. Diante da Trindade Santa, de nossas Igrejas particulares, das Igrejas da América Latina e do Caribe e daquelas que nos são solidárias na África, Ásia, Oceania, Europa e no norte do continente americano, aos pés dos apóstolos Pedro e Paulo e da multidão dos mártires de Roma, da América Latina e em especial da nossa Amazônia, em profunda comunhão com o sucessor de Pedro, invocamos o Espírito Santo, e nos comprometemos pessoal e comunitariamente com o que se segue: 1. Assumir, diante da extrema ameaça do aquecimento global e da exaustão dos recursos naturais, o compromisso de defender em nossos territórios e com nossas atitudes a floresta amazônica em pé. Dela vêm as dádivas das águas para grande parte do território sul-americano, a contribuição para o ciclo do carbono e regulação do clima global, uma incalculável biodiversidade e rica socio diversidade para a humanidade e a Terra inteira. 2. Reconhecer que não somos donos da mãe terra, mas seus filhos e filhas, formados do pó da terra (Gn 2, 7-8) , hóspedes e peregrinos (1 Pd 1, 17b e 1 Pd 2, 11) , chamados a ser seus zelosos cuidadores e cuidadoras (Gn 1, 26) . Para tanto, comprometemo-nos com uma ecologia integral, na qual tudo está interligado, o gênero humano e toda a criação porque a totalidade dos seres são filhas e filhos da terra e sobre eles paira o Espírito de Deus (Gn 1, 2). 3. Acolher e renovar a cada dia a aliança de Deus com todo o criado: “De minha parte, vou estabelecer minha aliança convosco e com vossa descendência, com todos os seres vivos que estão convosco, aves, animais domésticos e selvagens, enfim, com todos os animais da terra que convosco saíram da arca (Gn 9, 9-10 e Gn 9, 12-17 ). 4. Renovar em nossas igrejas a opção preferencial pelos pobres, em especial pelos povos originários, e junto com eles garantir o direito de serem protagonistas na sociedade e na Igreja. Ajudá-los a preservar suas terras, culturas, línguas, histórias, identidades e espiritualidades. Crescer na consciência de que estas devem ser respeitadas local e globalmente e, consequentemente favorecer, por todos os meios ao nosso alcance, que sejam acolhidas em pé de igualdade no concerto mundial dos demais povos e culturas. 5. Abandonar, como decorrência, em nossas paróquias, dioceses e grupos toda espécie de mentalidade e postura colonialista, acolhendo e valorizando a diversidade cultural, étnica e linguística num diálogo respeitoso com todas as tradições espirituais. 6. Denunciar todas as formas de violência e agressão à autonomia e direitos dos povos originários, à sua identidade, aos seus territórios e às suas formas de vida. 7. Anunciar a novidade libertadora do evangelho de Jesus Cristo, na acolhida ao outro e ao diferente, como sucedeu com Pedro na casa de Cornélio: “Vós bem sabeis que a um judeu é proibido relacionar-se com um estrangeiro ou entrar em sua casa. Ora, Deus me mostrou que não se deve dizer que algum homem é profano ou impuro” (At 10, 28) . 8. Caminhar ecumenicamente com outras comunidades cristãs no anúncio inculturado e libertador do evangelho, e com as outras religiões e pessoas de boa vontade, na solidariedade com os povos originários, com os pobres e pequenos, na defesa dos seus direitos e na preservação da Casa Comum 9. Instaurar em nossas igrejas particulares um estilo de vida sinodal, onde representantes dos povos originários, missionários e missionárias, leigos e leigas, em razão do seu batismo, e em comunhão com seus pastores, tenham voz e voto nas assembleias diocesanas, nos conselhos pastorais e paroquiais, enfim em tudo que lhes compete no governo das comunidades. 10. Empenhar-nos no urgente reconhecimento dos ministérios eclesiais já existentes nas comunidades, exercidos por agentes de pastoral, catequistas indígenas, ministras e ministros e da Palavra, valorizando em especial seu cuidado em relação aos mais vulneráveis e excluídos. 11. Tornar efetiva nas comunidades a nós confiadas a passagem de uma pastoral de visita a uma pastoral de presença, assegurando que o direito à Mesa da Palavra e à Mesa de Eucaristia se torne efetivo em todas as comunidades. 12. Reconhecer os serviços e a real diaconia do grande número de mulheres que hoje dirigem comunidades na Amazônia e procurar consolidá-los com um ministério adequado de mulheres dirigentes de comunidade. 13. Buscar novos caminhos de ação pastoral nas cidades onde atuamos, com protagonismo de leigos e jovens, com atenção às suas periferias e aos migrantes, aos trabalhadores e aos desempregados, aos estudantes, educadores, pesquisadores e ao mundo da cultura e da comunicação . 14. Assumir diante da avalanche do consumismo um estilo de vida alegremente sóbrio, simples e solidário com os que pouco ou nada tem; reduzir a produção de lixo e o uso de plásticos, favorecer a produção e comercialização de produtos agroecológicos, utilizar sempre que possível o transporte público. 15. Colocar-nos ao lado dos que são perseguidos pelo profético serviço de denúncia e reparação de injustiças, de defesa da terra e dos direitos dos pequenos, de acolhida e apoio a migrantes e refugiados. Cultivar amizades verdadeiras com os pobres, visitar as pessoas mais simples e os enfermos, exercitando o ministério da escuta, da consolação e do apoio que trazem alento e renovam a esperança. Conscientes de nossas fragilidades, de nossa pobreza e pequenez diante de tão grandes e graves desafios, confiamo-nos à oração da Igreja. Que sobretudo nossas Comunidades Eclesiais nos socorram com sua intercessão, afeto no Senhor e, sempre que necessário, com a caridade da correção fraterna. Acolhemos de coração aberto o convite do Cardeal Hummes para nos deixarmos guiar pelo Espírito Santo nestes dias do Sínodo e no retorno às nossas igrejas: “Deixem-se envolver no manto da Mãe de Deus e Rainha da Amazônia. Não deixemos que nos vença a auto-referencialidade, mas sim a misericórdia diante do grito dos pobres e da terra. Será necessária muita oração, meditação e discernimento, além de uma prática concreta de comunhão eclesial e espírito sinodal. Este sínodo é como uma mesa que Deus preparou para os seus pobres e nos pede a nós que sejamos aqueles que servem à mesa” . Celebramos esta Eucaristia do Pacto como “um ato de amor cósmico. “Sim, cósmico! Porque mesmo quando tem lugar no pequeno altar duma igreja de aldeia, a Eucaristia é sempre celebrada, de certo modo, sobre o altar do mundo”. A Eucaristia une o céu e a terra, abraça e penetra toda a criação. O mundo saído das mãos de Deus, volta a Ele em feliz e plena adoração: no Pão Eucarístico “a criação propende para a divinização, para as santas núpcias, para a unificação com o próprio Criador”. “Por isso, a Eucaristia é também fonte de luz e motivação para as nossas preocupações pelo meio ambiente, e leva-nos a ser guardiões da criação inteira”.
 Catacumbas de Santa Domitila Roma, 20 de outubro de 2019









Governo Bolsonaro não faz nada sobre o óleo no Nordeste!

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Mapa produzido pela UFRJ mostra que a origem dos vazamentos é no meio do Oceano Atlântico (Reprodução: Tijolaço)
 artigo de Fernando Brito, no Tijolaço:

Óleo e ideologia não se misturam

Sabe-se pouco sobre as causas do vazamento de óleo que emporcalha 2 mil km de praias nordestinas.
Mas estamos vendo muito sobre aquilo que está fazendo com que o Estado brasileiro não cumpra o seu dever de combater e mitigar os efeitos deste desastre imenso, que não é só sobre o meio-ambiente, mas sobre a economia do Nordeste, à beira de iniciar sua temporada turística.
Não é preciso mais que citar um estudo do Ministério do Turismo em parceria com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), de 2013, que aponta as atividades ligadas ao turismo como responsáveis por 9,8% do PIB da região.
Tal como aconteceu com as queimadas na Amazônia, observou-se uma completa incapacidade de reação, ausência absoluta de coordenação e, pior, uma perversa tentativa de ideologização de um desastre.
Passamos quase um mês sem nenhum tipo de alarme nacional e, a seguir, mais uma quinzena atrás da bobagem de que “o óleo veio da Venezuela”, o que qualquer pessoa deveria saber que é uma impossibilidade, dado o sentido das correntes marítimas e do regime de ventos dominantes da região nordeste.
Muita gente, inclusive este blog, mostrou que seria impossível que um vazamento na Venezuela andasse na “contramão” do mar e do ar para chegar até o litoral do Nordeste. O modelo computacional feito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, reproduzido aí em cima, detalha o óbvio, mostrando que a origem do óleo é o alto-mar, justo na região onde se concentram (pontos escuros) as rotas de navegação da região atlântica, à altura do Saliente Nordestino.
Portanto, o óleo veio de um navio e, por isso, importa pouco para enfrentar o vazamento de onde tenha sido extraído, mas sim quem o transportava.
Depois, passamos ao “mistério dos barris” sem que haja, um mês após eles darem à praia com seus rótulos bem legíveis, com o número do lote e a data de enchimento perfeitamente claros, uma resposta da fabricante, a Shell, informação sobre para quem foram vendidos. Mesmo que o comprador não seja o responsável, sempre devem haver registro de quem recebeu e reutilizou os barris e qual embarcação pode ser a responsável do seu lançamento ao mar.
Que tenha vindo a público, nada sobre isso.
Se foi um vazamento durante transporte ou transbordo de petróleo não comunicado é praticamente impossível saber, mas é absolutamente necessário agir.
Por fim, vem o palpite presidencial de que o óleo é para “sabotar” megaleilão do nosso pré-sal, marcado para o próximo mês. Fundamento da denúncia? “Eu acho, talquei?”
Agora, quase dois meses depois da detecção das primeiras manchas de óleo, outra coisa fica clara: o governo brasileiro não tem a menor capacidade de coordenar esforços diante de um acidente de grandes proporções e desta natureza.
O óleo começou a dar à praia no dia 2 de setembro e só agora se começa a perceber um número maior de pessoas – e muitas delas voluntárias – dedicado à recolher o material.
A primeira nota da Marinha a respeito só veio a público no dia 27 de setembro e o inquérito para apurar o caso foi aberto um mês depois dos primeiros avistamentos.
Extintos por Bolsonaro, órgãos que integravam o Plano Nacional de Contingência para Incidentes de Poluição por Óleo em Água (PNC), criado em 2013, desfalcaram a reação estatal ao desastre, sem falar que o Ibama sobre, desde o início de governo, um processo de desmonte.
Enquanto isso, a turma do “Mito tem sempre razão” diz que não se protesta contra o vazamento como se protestou contra as queimadas.
O governo faria a fineza de dizer contra quem se deve protestar?

sábado, 19 de outubro de 2019

Glenn, em posts no twitter, expõe o verdadeiro Moro, um mentiroso patológico

Do Antropofagista:
Glenn, em posts no twitter, expõe o verdadeiro Moro, um mentiroso patológico.
Assista a este vídeo de 1 minuto para nunca esquecer que Moro é um mentiroso patológico: antes de #VazaJato, ele veementemente negou a fazer o que todos nós sabemos agora que ele fez repetidamente: mandaram da estratégia do MPF e da PF. Apenas observe-o mentir para o público:
Confira alguns dos posts:


Sempre se lembre: até mesmo procuradores do MP, quando conversando entre si, comentavam que Moro violou
os limites de seu papel de juiz. Em um conversa bem sincero, a procuradora Monique Cheker disse que "Moro viola sempre o sistema acusatório e é tolerado por seus resultados".




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Assista a este vídeo de 1 minuto para nunca esquecer que Moro é um mentiroso patológico: antes de , ele veementemente negou a fazer o que todos nós sabemos agora que ele fez repetidamente: mandaram da estratégia do MPF e da PF. Apenas observe-o mentir para o público:

O fato de Moro comandar a estratégia e os detalhes das operações da PF era tratado com tanta naturalidade pela força-tarefa que os procuradores pediam rotineiramente orientações ao então juiz. Santos Lima falou para Deltan em 2015, no grupo PF-MPF Lava Jato 2:




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Sempre se lembre: até mesmo procuradores do MP, quando conversando entre si, comentavam que Moro violou
os limites de seu papel de juiz. Em um conversa bem sincero, a procuradora Monique Cheker disse que "Moro viola sempre o sistema acusatório e é tolerado por seus resultados".




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Esses diálogos revelam pela primeira vez é que o Moro mandava no planejamento das operações, tendo inclusive direcionado quais materiais deveriam ser apreendidos — uma violação do sistema acusatório. 4 Mar 2016: a busca e apreensão e de condução coercitiva do Lula:




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O fato de Moro comandar a estratégia e os detalhes das operações da PF era tratado com tanta naturalidade pela força-tarefa que os procuradores pediam rotineiramente orientações ao então juiz. Santos Lima falou para Deltan em 2015, no grupo PF-MPF Lava Jato 2:




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A conduta imprópria de Moro foi tão severa - incluindo ordenando de *buscas por PF contra os acusados* que ele deveria julgar com objetividade mesmo *sem pedir do MPF* - que os delegados da PF ficaram chocados, riram, e concordaram em ficar "quietos" sobre Moro e "ajeitar" isso:




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