Vi o Mundo
Por Jeferson Miola
Não é preciso ser adivinho para presumir como a Lava Jato agiria se Fabrício Queiroz fosse petista ou outro inimigo do regime de exceção.
Assim como não é necessário grande esforço de raciocínio para concluir que a Lava Jato safou da cadeia o chefe do Queiroz, o deputado Flavio Bolsonaro, como também livrou Jair Bolsonaro de investigações sobre os [pelo menos] R$ 24 mil depositados na conta da esposa Michele e sobre a retenção de 99% do salário da Nathália Queiroz – contratada como “laranja” no gabinete em Brasília enquanto se desempenhava como personal trainer de celebridades nas praias cariocas.
Fabrício Queiroz é um ponto fora da curva; é uma peça que fugiu do controle da Lava Jato, que fez de tudo para escondê-lo e deixá-lo no anonimato para proteger Flavio Bolsonaro.
A Lava Jato abafou o quanto pôde a participação do Queiroz. Ele somente foi descoberto devido ao vazamento do COAF que a onipresente falange do Moro não conseguiu evitar.
Queiroz foi escondido pela Lava Jato desde sempre. É preciso recordar que a Operação Furna da Onça, da Lava Jato/RJ, deliberadamente excluiu Flavio Bolsonaro da investigação realizada nos gabinetes dos 10 deputados e 16 assessores que incorreram nos mesmos ilícitos e que, em vista disso, foram presos.
Por inexplicável coincidência, os Bolsonaro demitiram Queiroz e a filha Nathália dias antes da Furna de Onça ir a campo, numa espécie de “limpeza” da cena do crime.
Quando Queiroz foi descoberto, para surpresa geral o coordenador da Lava Jato e paladino da moralidade Deltan Dallagnol mostrou incrível inapetência em investigar ele e Bolsonaro, e então repassou a investigação ao MP estadual do Rio, ao passo que os demais denunciados continuam sendo investigados pela Lava Jato!
Em reportagem de André Barrocal, a Carta Capital traz interessante abordagem a respeito [ler aqui].
Queiroz é um incômodo para a Lava Jato; é um acidente de percurso. O sumiço dele, além de já fazer parte do folclore burlesco e do anedotário nacional que o candidata a marchinha de carnaval, serve para se fazer uma profunda autopsia do regime.
Está claríssimo que vivemos um momento obscuro, de arbítrio e de ruptura constitucional.
A cassação daquela liminar do Marco Aurélio de Mello que restaurava a Constituição mostra claramente 2 perspectivas.
A primeira, é que o regime de exceção mantém um padrão permanente de aprofundamento da ditadura jurídica. Qualquer brecha ou iniciativa política e legal que ameace a higidez do regime, tem como resposta mais arbítrio e mais violência contra a Constituição e as leis.
A segunda perspectiva, é que o regime tem hierarquia de mando. Alguém como Moro, Dallagnol, e Toffoli, por exemplo, que tem um general de estimação na inusitada assessoria militar da presidência do STF, se situa no topo da cadeia alimentar da ditadura – que, por enquanto, ainda não é militar.
A Lava Jato nunca foi uma genuína operação jurídico-policial. A vinculação partidária dos seus agentes incrustrados no judiciário, no MP e na PF está fartamente documentada.
A eleição do Bolsonaro empodera ainda mais os já empoderadíssimos agentes fascistas da Operação e inaugura a fase 2.0 da Lava Jato, que tem Sérgio Moro como piloto do Estado policial.
Por debaixo do discurso hipócrita de combate à corrupção se esconde uma ideologia ultraliberal e um projeto de poder que, para ser concretizado, requer o aniquilamento dos inimigos – Lula, PT, esquerda, progressistas e toda resistência democrática e popular.
Em razão disso, e a despeito dos robustos indícios de peculato, lavagem de dinheiro, organização criminosa e aumento patrimonial ilícito, Bolsonaro não foi e não será alvo de qualquer investigação, porque ele é o vetor desse projeto bárbaro que a burguesia quer impor no Brasil na base do arbítrio e atentando contra a Constituição.
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