Por Rudá Ricci :
A disputa de narrativas sobre a execução de Marielle
Disputa política em cenário de alto embate é assim: as tragédias passam a ser capturadas pelos diversos atores.
O caso da execução da vereadora do PSOL - é que denunciava a violência de Estado - não deixa de seguir este script.
São diversas tentativas de apropriação.
Rodrigo Maia, ontem, tentou discretamente emplacar a absurda sugestão da necessidade de se ampliar a intervenção. As manchetes da imprensa revelam que, neste momento, não teve coro. Marielle, repito, se opunha à intervenção.
Há quem teve o desplante de afirmar que foi mais um dentre tantos casos. Não foi. Foi uma emboscada contra uma vereadora de esquerda de uma capital que é ícone do turismo mundial. Encostamos na realidade crua e cruel do México. Uma execução política. A tragédia diária e inadmissível de assassinatos de mulheres negras em nosso país não pode ser naturalizada em estatísticas. Assim como o caso de Marielle não pode ser diluído nessas estatísticas.
Trata-se de uma execução política, de direita, contra uma autoridade pública de esquerda.
Há, ainda, os que sugerem que nada tem a ver com disputa ideológica. Teria sido um "recado" às favelas. Discurso delirante. As favelas recebem "recados" diários. Não há necessidade de uma emboscada no centro da cidade. A tal intervenção federal revela como o grau de violência diária é tal que pode ser até usada para catapultar governos raquíticos de legitimidade. O recado foi para a militância de esquerda. Esta nova militância, jovem, negra, feminista. Não a midiática. A que se firma contra o avanço da direita. Que aponta o dedo para os grupos de extrema-direita.
Enfim, a tragédia já é palco de disputa política. Mesmo pelos que utilizam os mais descarados argumentos. Os argumentos dos despudorados.
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