sexta-feira, 30 de março de 2018

O Brasil vive um calvário, mas espera por ressurreição

Carta Capital
por Magali do Nascimento Cunha 


O momento no País é de sofrimento, violência e morte
nSharerO Brasil vive um calvário, mas espera por ressurreição
Jovens mortos em uma chacina em Maricá, Rio de Janeirouivo Pessoal




No clima da semana chamada santa por cristãos e cristãs, difícil não pensar que o Brasil vive um calvário. Além dos tempos árduos de se viver, com redução de direitos que sucateiam trabalho, educação e saúde, as disputas políticas polarizadas extrapolam palavras e símbolos e extremistas ganham protagonismo.
Este março de 2018 fica marcado pela execução da vereadora Marielle Franco e pela escalada de violência política. Somam-se a ela a morte dos cinco jovens do hip hop de esquerda de Maricá, no Rio de Janeiro, ameaças à integridade física do ministro do Supremo Edson Fachin e sua família, e os atentados terroristas à caravana do ex-presidente Lula, no Sul do País.
Vive-se aqui o calvário, sinônimo de sofrimento, violência, silenciamento do oposto, morte.
Em busca de reflexão sobre estes tempos dramáticos, deparo-me com estes versos de “Que estou fazendo se sou cristão?”, compostos durante a ditadura pelo pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil João Dias de Araújo (1931-2014), transformados em canção pelo médico e músico Décio Lauretti:
Que estou fazendo se sou cristão? Se Cristo deu-me o seu perdão
Há muitos pobres sem lar, sem pão, há tantas vidas sem salvação
Meu Cristo veio pra nos remir, o homem todo sem dividir,
não só a alma do mal salvar, também o corpo ressuscitar.
Há muita fome em meu país, há tanta gente que é infeliz,
Há criancinhas que vão morrer, há tantos velhos a padecer.
Milhões não sabem como escrever, milhões de olhos não sabem ler
Nas trevas vivem sem perceber que são escravos de outro ser.
Aos poderosos eu vou pregar, aos homens ricos vou proclamar
Que a injustiça é contra Deus, e a vil miséria insulta aos céus
(A canção pode ser ouvida na gravação do Grupo Milad, disco Água Viva, 1985) https://www.youtube.com/watch?v=rnQ643PBVJw)
Para além da busca pela salvação da alma com uma morada no céu, o pastor João Dias e muita gente no seu tempo havia construído um jeito de entender a fé e a relação com Deus, transpondo a dimensão individualista. Isto significava um olhar sensível dirigido para o ser humano, sem dividi-lo em alma e corpo, com os óculos da misericórdia e da solidariedade, inspirado na ação de Jesus de Nazaré, o grande mestre.
Esta fé relacionada com a vida gerava compromissos por relações justas entre os indivíduos e se desdobrava em ações com base na compreensão expressa no refrão de 1966: "A injustiça é contra Deus e a vil miséria insulta os céus".
Nestes dias em que cristãos recordam a última semana de Jesus de Nazaré, vale pensar como Deus é insultado pelo que acontece em nosso País. Importa recordar a esperança da passagem (Páscoa) do calvário (morte imposta) para a ressurreição (vida plena). Com isto, nos unimos a cristãos que insistem em buscar viver a fé na contramão das teologias em predominantes expressas em pregações e nas paradas de sucesso gospel.
Entretanto, como foi em 1966 com o pastor João Dias de Araújo, grupos cristãos que caminham nessa direção são incrivelmente acusados de marxistas e comunistas, e recebem xingamentos atualizados como “esquerdopatas” e “petralhas”.
Além de ignorância e maldade, uma compreensão sobre isto pode estar nos próprios estudos do pastor João Dias. Em um deles, denominado “Imagens de Jesus Cristo na cultura do povo brasileiro”, de 1974, ele aponta quatro formas de apresentação de Jesus na mente e nas práticas populares: um Cristo morto, distante, um Cristo sem poder, um Cristo que que não inspira respeito e um Cristo desencarnado.
Provavelmente, quem acusa e xinga quem quer ver “o homem (e a mulher) todo sem dividir”, crê nestas formas de Cristo e desconhece Jesus de Nazaré, aquele das narrativas dos Evangelhos, que viveu nas periferias, se misturou com gente que não era vista como “de bem” pela cultura da época, confrontou injustiças e abusos do poder político e da religião, chorou e caminhou com o povo sofrido e excluído.
Por isso foi condenado à pena de morte, depois de ser preso e torturado. Viveu o calvário, mas segundo a fé de seus seguidores, experimentou a passagem para a vida, a ressurreição, fonte de toda esperança de que as forças da morte imposta não prevalecerão.
Quem desconhece Jesus de Nazaré precisa de conversão (e aqui uso linguagem evangélica). É a chance de se juntar a outros, como o pastor João Dias de Araújo, tantos que os precederam e a muitos do Brasil de hoje que se inspiram na humanidade divina de Jesus e buscam respostas para a pergunta "Que estou fazendo se sou cristão?"
Gente que empenha a vida para “não só a alma do mal salvar, também o corpo ressuscitar”, no compromisso com a justiça e se insere em inúmeros esforços de solidariedade: com empobrecidos, com dependentes químicos, com presos, com vítimas de violência nas cidades e no campo, com indígenas, com mulheres, com pessoas com deficiência, com a população negra, com imigrantes. Nos processos de transformação das realidades de exclusão e discriminação. Na militância política institucional e nos movimentos sociais, nas ruas, nas redes digitais.
Com isso, cidadãos de boa vontade permanecem reavivando a fé de que podemos viver um calvário, mas a Páscoa virá, tornando possível a passagem da morte, imposta por um sistema político e econômico injusto, para a vida plena, que é nosso direito humano: Ressurreição.

quarta-feira, 28 de março de 2018

Atentado a tiros e o Brasil mergulha no fascismo

A UM PASSO DA BARBÁRIE!
Em qualquer lugar minimamente civilizado, todas as autoridades e organizações sociais, independentemente de sua orientação ideológica, repudiariam o ataque.
Mas por aqui, não. Incrível!

Leiam dois comentários sobre o ocorrido:



Luiz Felipe Miguel
Professor da UnB
Do seu facebook

Menos de duas semanas após a execução de Marielle Franco, o atentado contra a caravana de Lula comprova que descemos um patamar na civilidade da disputa política no Brasil. A intimidação aberta e o assassinato político entraram de vez para o repertório da direita, não como sobrevivências do passado nos grotões, mas nas maiores cidades e na política nacional.

Marielle, ao que parece, foi vítima da convergência entre crime organizado e aparelho repressivo de Estado. A incrível lentidão da investigação corrobora a tese. O ataque a tiros contra Lula, tudo indica, partiu de militantes de extrema-direita radicalizados pelo discurso de ódio contra o PT e o ex-presidente, alimentado há anos na mídia.

Assim como a narcopolítica, para além dos grupos de extermínio, tem laços com o establishment, a direita que se quer civilizada e a extrema-direita fascista fazem uma tabelinha. Geraldo Alckmin e João Doria não foram capazes de condenar o atentado contra Lula. Pelo contrário, condenaram as vítimas. Recorreram ao discurso de que os petistas "estão colhendo o que plantaram" e que "o PT sempre utilizou da violência". São afirmações mentirosas, que não encontram um único indício que as sustente, mas que ecoam no público da direita por terem sido repetidas à exaustão por seus líderes. São afirmações que servem de combustível para os atiradores; que não apenas os absolvem, mas os inocentam. Alckmin e Doria tornaram-se cúmplices da violência contra Lula.

Lula e o PT optaram por um caminho de moderação extrema, cuidando de não enfrentar privilégios para conseguir reduzir a miséria. Mas a elite brasileira prefere mergulhar no fascismo a viver em um país um pouco menos desigual.

Face da Legalidade Democrática
facebook

O atentado contra a democracia no Paraná

Relato da jornalista Eleonora Lucena, ex Zero Hora e Folha de São Paulo, que estava no ônibus atacado a tiros no Paraná, por milícias fascistas, protegidas pela segurança do Estado, que tentam, desesperada e agressivamente, parar a caravana Lula no sul do país:

"Foi um atentado. A escalada fascista subiu mais um degrau. Grupos ultradireitistas não enxergam limites. Ovos, pedras, projéteis, chicotes. São milícias armadas que planejam atentados. Como as gangues que precederam as SS nazista. O mesmo modus operandi terrorista.

Vi isso num crescendo nos últimos dias. Adeptos de Bolsonaro, ruralistas, pessoas violentas que berram e xingam. Eu mesma levei uma ovada na cabeça no sábado só por estar saindo do hotel onde estava hospedado Lula. "Lincha, é comunista", ouvi em algum momento.

O país precisa reagir. O atentado não foi só contra Lula. O projétil foi contra a democracia. Democratas precisam aprender com a história e formar já uma frente ampla contra o fascismo."

A complacência da imprensa faz parte do cenário de terror em desenvolvimento.



segunda-feira, 26 de março de 2018

Com plateia de seguidores, ódio se alastra pela internet

O Tempo

Redes sociais reproduzem uma sociedade violenta e punitivista, e 78% das pessoas se informam por elas


Nas primeiras 42 horas após o assassinato da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista, Anderson Gomes, a internet foi inundada por uma enxurrada de comentários polarizados entre o ódio e a defesa dos direitos humanos. De acordo com o levantamento da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV-DAPP), somente no Twitter a notícia mobilizou 1,16 milhão de menções, superando o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
A postagem mais compartilhada nesse período, com mais de 32 mil retuítes, rebate críticas direcionadas a Marielle, que muitas vezes tentam culpar a própria vítima por seu assassinato. Essa postagem faz coro com a maior parte das menções no debate, que levanta questionamentos a respeito das motivações da morte da vereadora, segundo a FGV-DAPP. Um deputado federal do DEM e uma desembargadora foram denunciados pela Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD) ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) pelos crimes de ódio cometidos nas redes sociais contra a vereadora.
Ataques racistas, misóginos, ameaças a outras pessoas e bullying, que agora se traduzem no termo “discurso do ódio”, também já foram analisados pelo escritor italiano Umberto Eco, morto em 2016. “As mídias sociais deram o direito à fala a uma legião de imbecis que, anteriormente, falavam só no bar, depois de uma taça de vinho, sem causar dano à coletividade. Diziam imediatamente a eles para calar a boca, enquanto agora eles têm o mesmo direito à fala que um ganhador do Prêmio Nobel”, disse.
As redes sociais reproduzem o que acontece na própria sociedade “extremamente violenta e punitivista”, complementa o doutorando e mestre em ciência política pela USP, Rafael Moreira. Para ele, estamos atravessando processos de transformação social e cultural bastante amplos. “O empoderamento de categorias sociais que estavam excluídas gera medo. Não é à toa que esse ódio que a gente vê parte desse tipo de categorias e pessoas que têm um espaço de privilégio.”
Para a psicóloga clínica Stephanie Mascarenhas, na internet esse ódio parece ser mais abundante. Há uma falsa sensação de segurança na rede, junto com a possibilidade de nos escondermos. Ela também lembra que mecanismos como os algoritmos do Facebook, por exemplo, contribuem com a disseminação desse tipo de discurso.
Estudo. É latente a impressão de que a raiva predomina na internet e que postagens agressivas se disseminam mais rápido pelas redes sociais. Mas, de acordo com a FGV-DAPP, dentre as mais de 427 mil reações no Facebook referentes ao assassinato de Marielle, 75,49% foram de tristeza, 9,74% de raiva, 9,46% de amor, 2,67% de risadas e 2,64% de espanto. Mas o impacto dos posts negativos é maior.
A maioria dos brasileiros (78%) se informa pelas redes sociais, diz estudo da Advice Comunicação Corporativa – 42% admitem já ter compartilhado notícias falsas, e só 39% checam com frequência as notícias.
O casal de fotógrafos Luiz Áureo de Paula e Pamela Martins foi espancado em Araruama, no Rio de Janeiro, após um boato de que estariam sequestrando crianças viralizar no WhatsApp. Em maio de 2014, Fabiane Maria de Jesus foi morta em um linchamento no Guarujá, litoral paulista, depois de ser vítima de boato e confundida com uma suposta sequestradora de crianças.
O projeto Comunica que Muda (CqM), que monitora as redes sociais, mostra que foram capturadas quase 220 mil menções de ódio em 2017, contra as mais de 500 mil registradas em 2016. A diferença deve-se ao cenário de intolerância política no ano do impeachment de Dilma Rousseff. “O impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff em 2016 provavelmente levou a esse destaque, tendo, no ano passado, havido um certo cansaço para o debate político, mas que deve ressurgir em 2018, ano eleitoral”, analisa a jornalista e coordenadora geral do estudo, Bia Pereira.
A perspectiva de melhoria em longo prazo é também observada pela coordenadora do Observatório Permanente de Discursos de Ódio na Internet e professora da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Rosane Leal da Silva. Segundo ela, além de esses usuários não estarem dispostos a repensar suas opiniões, o poder Judiciário, muito lentamente, começa a enquadrar o discurso de ódio como uma categoria jurídica.
“Aquele que é radical e que tem na sua constituição o desrespeito aos direitos humanos vai apenas acirrar isso na internet, porque é onde tem plateia e seguidores. Há um momento político bastante oportuno para isso”, diz.
Decisão da justiça
Liminar. Na sexta-feira, a juíza Márcia Holanda determinou ao Google e ao Youtube a retirada da internet de 16 vídeos que propagavam mentiras sobre Marielle Franco. A ação foi protocolada na quarta-feira por familiares dela.
Ilegais. A juíza diz que os vídeos “extrapolaram o que a Constituição fixou como limite ao direito de livremente se manifestar”, vinculando, sem provas, o nome de Marielle a “facções criminosas e tráfico ou imputações maliciosas sobre as suas bandeiras políticas”.

 

Falhas e efeitos legais desse comportamento

Segundo a advogada especialista em direito digital e proprietária da Truzzi Advogados, Gisele Truzzi, alguns mitos estão relacionados a acreditar que a internet é uma terra sem lei e que é impossível encontrar alguém que pratique crime eletrônico, especialmente porque algumas pessoas ainda confundem liberdade de expressão e discurso de ódio.
“São duas coisas completamente diferentes. Liberdade de expressão é uma garantia constitucional prevista na nossa Constituição Federal e está associada a sua liberdade de pensamento de opinião. Porém, essa opinião não pode ofender a terceiros resultando em calúnia, injúria ou difamação. Quando é muito excessiva ou é voltada a grupos sociais e determinadas minorias e tiver relacionada a questões de raça, etnia, crença ou localização geográfica, isso pode ser entendido como um discurso de ódio”, afirma Gisele.
Revenge porn, difamação, ciberbullying e ameaça são alguns dos crimes já tipificados no Código Penal brasileiro. “Quando enquadrados no crime de preconceito racial ou discriminação, a pena é prevista pelo artigo 20 da Lei 7.716. Incorre nesse crime não só quem pratica, mas também quem divulga, compartilha e incita esse tipo de conduta, podendo ser submetido à pena de reclusão de até quatro anos”, diz.
No entanto, nossa legislação ainda é falha em alguns casos. “Há a necessidade de uma reforma referente aos crimes de ódio para também abranger as questões relacionadas às ofensas à comunidade LGBT, pois, se for enquadrado como crime de ódio, a gravidade é maior e a pena certamente será maior”, diz a advogada Gisele Truzzi.

quarta-feira, 21 de março de 2018

Papa Francisco ligou para a família de Marielle: Solidariedade

Papa telefona para família de Marielle para manifestar solidariedade


Dona Marinete da Silva, mãe de Marielle Franco, revelou na missa de sétimo dia da filha que a família recebeu um telefonema de solidariedade do Papa. A iniciativa de Francisco foi resultado de uma articulação acontecida na Argentina, sem qualquer participação da Arquidiocese do Rio ou da CNBB.
Por Mauro Lopes
A mãe de Marielle Franco, Marinete da Silva, falou aos presentes à missa de sétimo dia celebrada ontem (20) na Igreja Nossa Senhora do Parto, no centro do Rio – a missa foi transferida da Maré para que todos pudessem em seguida participar do ato/culto ecumênico na Cinelândia.  Ao final da celebração, o sacerdote convidou a família a se pronunciar, caso desejasse. Dona Marinete agradeceu o carinho recebido e informou então que o Papa Francisco havia telefonado.

Marielle foi mãe aos 19 anos, sem ser casada -chegou a morar junto com o pai de Luyara, sua filha, mas rapidamente separou-se dele, depois de sofrer violência doméstica. Antes de morrer, planejava oficializar seu casamento –com uma mulher. O suficiente para que fosse discriminada e tivesse os dedos apontados contra si no ambiente católico carioca. Francisco disse em 2015 que “não existe mãe solteira, pois mãe não é um estado civil”; um ano depois, conversando com jornalistas na viagem de avião do Rio a Roma, o Papa afirmou: “se uma pessoa é gay, procura ao Senhor e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?” A visão do Papa não demoveu nem  comoveu os padres, leigos e leigas integristas que pululam à volta do arcebispo do Rio, o cardeal Orani Tempesta, que continuam a atuar como “réguas do mundo”. Livre, Marielle afastou-se da Igreja e aproximou-se cada vez mais das religiões de matriz afro-brasileira.
A família de Marielle é católica. Sua mãe é devota de Nossa Senhora Aparecida e foi ministra da Eucaristia na Maré. A última foto que Anielle recebeu de sua irmã, ainda viva, horas antes do assassinato, foi das duas diante de um altar em uma igreja no Rio. Marielle foi catequista e ativa participante da Pastoral da Juventude ainda adolescente. Depois, afastou-se da Igreja Católica que vive, no Rio, um clima quase irrespirável de conservadorismo e censuras e condenações e falso rigorismo moral.
A Arquidiocese do Rio de Janeiro não teve qualquer participação no telefonema do Papa. Dom Orani Tempesta manteve-se à distância da família, soltou uma nota e uma mensagem frias, quase de condenação a Marielle por suas posturas políticas libertárias, e o clero ao seu redor iniciou uma campanha de ataques à memória da vereadora, com todo tipo de difamação. A CNBB igualmente não teve participação no telefonema –a entidade dos bispos brasileiros sequer pronunciou-se sobre o assassinato que comoveu e provocou mobilização em todo o país e no Exterior.
O caminho do telefonema deu-se por uma ponte entre a família da Marielle e a Argentina, envolvendo Luyara. Ela escreveu uma carta ao Papa dois dias depois da morte da mãe, que chegou rapidamente a Francisco por iniciativa do professor argentino Gustavo Vera, amigo pessoal do Papa e presidente da Fundación Alameda, dedicada ao combate ao tráfico de pessoas. Participou da articulação Lucas Schaerer, do Partido del Bien Común e assessor de comunicação da fundação. “Estamos muito felizes por este gesto de amor do Papa”, disse ele a Caminho Pra Casa na noite de ontem (20).
O episódio confirma pela mais uma vez Francisco como o grande líder-compaixão do planeta neste início de século 21. É também uma triste ilustração da situação da Igreja no Brasil. O caminho mais curto entre o povo brasileiro e seu amado Papa não é a hierarquia local –passa por Buenos Aires.]

terça-feira, 20 de março de 2018

A igreja que se cala sobre Marielle não tem nada a dizer sobre Jesus.

Por Henrique Vieira

Jesus era do pessoal dos direitos humanos.
Porque andava com as pessoas mais pobres, oprimidas e vulneráveis da sociedade. Porque denunciava a violência, a sede de vingança e as práticas de ódio. Porque interrompia processos de exclusão e execução. Porque promovia a paz e a justiça e não descartava pessoas por conta das diferenças. Por essas razões também foi difamado, preso, torturado e assassinado.

A igreja que se cala sobre Marielle não tem nada a dizer sobre Jesus.

#MariellePresente
#AndersonPresente
#FéNaVida


segunda-feira, 19 de março de 2018

19 de março: A chegada do primeiro Péret ao Brasil

Dia 19 de março ... data para a família Péret comemorar. É a chegada do primeiro Péret ao Brasil, em 1857.
E assim começou a história dos Péret no Brasil...


Guillaume Amédée Péret chegou ao Brasil numa quinta-feira no dia 19 de março de 1857, ele era o passageiro de um Galeão francês de 611 toneladas de nome Carioca, que saiu do Porto de Le Havre na França num domingo 8 de fevereiro de 1857, foram 43 dias de viagem ate desembarcar no Brasil; os passageiros que fizeram esta viagem na mesma embarcação e desembarcaram juntos: D. Emilia Gerardot e um filho menor; D. Luiza Vauthier; e os franceses Nicolas Jean Didier, Louis Barbelane, Armard Jilibert, Guillaume Amédée Péret e Antoire Durande.
Fonte: Correio Mercantil – Rio de janeiro, 20 de março de 1857.

Depois, Guillaume mudou-se para Ouro Preto.

Meu tataravô Guillaume Amédée Péret escreveu vários poemas e livros sobre esta terra e este povo... um famoso foi Origine des Peuples D'Amérique - Poème Épique en Douze Livres - 1890.


sexta-feira, 16 de março de 2018

Os argumentos dos despudorados, por Rudá Ricci

Por Rudá Ricci :

A disputa de narrativas sobre a execução de Marielle

Disputa política em cenário de alto embate é assim: as tragédias passam a ser capturadas pelos diversos atores.
O caso da execução da vereadora do PSOL - é que denunciava a violência de Estado - não deixa de seguir este script.

São diversas tentativas de apropriação.

Rodrigo  Maia, ontem, tentou discretamente emplacar a absurda sugestão da necessidade de se ampliar a intervenção. As manchetes da imprensa revelam que, neste momento, não teve coro. Marielle, repito, se opunha à intervenção.

Há quem teve o desplante de afirmar que foi mais um dentre tantos casos. Não foi. Foi uma emboscada contra uma vereadora de esquerda de uma capital que é ícone do turismo mundial. Encostamos na realidade crua e cruel do México. Uma execução política. A tragédia diária e inadmissível de assassinatos de mulheres negras em nosso país não pode ser naturalizada em estatísticas. Assim como o caso de Marielle não pode ser diluído nessas estatísticas.

 Trata-se de uma execução política, de direita, contra uma autoridade pública de esquerda.

Há, ainda, os que sugerem que nada tem a ver com disputa ideológica. Teria sido um "recado" às favelas. Discurso delirante. As favelas recebem "recados" diários. Não há necessidade de uma emboscada no centro da cidade. A tal intervenção federal revela como o grau de violência diária é tal que pode ser até usada para catapultar governos raquíticos de legitimidade. O recado foi para a militância de esquerda. Esta nova militância, jovem, negra, feminista. Não a midiática. A que se firma contra o avanço da direita. Que aponta o dedo para os grupos de extrema-direita.

Enfim, a tragédia já é palco de disputa política.  Mesmo pelos que utilizam os mais descarados argumentos. Os argumentos dos despudorados.

quinta-feira, 15 de março de 2018

Marielle | "A primeira execução política da intervenção militar"




Brasil de Fato

Poderia ter sido mais um caso da violência do Estado no Rio de Janeiro. Marielle Franco tinha o perfil da maioria das jovens assassinadas pelas forças de segurança no país: jovem, negra e moradora de periferia. Mas a brutal execução da vereadora de apenas 38 anos não entrará só para as estatísticas da violência. Ela havia ousado chegar ao parlamento municipal carioca, com mais de 40 mil votos, sendo a quinta mais votada nas últimas eleições. O crime teve forte repercussão na mídia nacional e internacional, além de grandes mobilizações pelo país.
Fez da tribuna um importante palanque de denúncia do massacre cotidiano da juventude das favelas cariocas. Para Márcia Tiburi, filósofa, escritora e amiga de Marielle, não há dúvidas sobre os motivos do crime, ocorrido na noite da última quarta-feira (14), na região central do Rio de Janeiro.
“O crime é político. Marielle fez denúncias que a tornaram uma pessoa 'perigosa' para muitos. Ela está entre os indesejáveis para o sistema de opressão e privilégios. Sua execução é uma mensagem que os algozes dão aos cariocas, aos ativistas, aos lutadores. Trata-se de um evidente silenciamento em função da voz que ela era. A voz de todas nós e a voz das mulheres negras, das favelas, da comunidade que é massacrada pelo racismo”, afirma.
Tiburi disse estar chocada com o crime, assim como todo o Brasil. “Marielle era uma das pessoas mais queridas, uma companheira para todas as horas. Eu a admirava imensamente. Por sua inteligência, sua coragem e também por sua potência. Marielle era uma amiga, além de ser uma companheira de luta”.
O crime
Marielle Franco foi assassinada a tiros na noite da última quarta-feira (14), por volta das 21h, no bairro Estácio, região central do Rio de Janeiro. Anderson Pedro Gomes, motorista da vereadora, também morreu. 
A parlamentar saía de uma atividade com ativistas negras. Um dia antes do crime, ela havia publicado nas redes sociais mais uma grave denúncia da atuação da Polícia Militar (PM) na comunidade do Acari, zona norte da capital fluminense. “Mais um homicídio de um jovem que pode estar entrando para a conta da PM. Matheus Melo estava saindo da igreja. Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe?”, dizia a mensagem.
Em outra postagem do dia 10 de março, Marielle chamou o 41° BPM de "Batalhão da morte". "O que está acontecendo agora em Acari é um absurdo! E acontece desde sempre! O 41° batalhão da PM é conhecido como Batalhão da Morte. Chega de esculachar a população! Chega de matarem nossos jovens", escreveu. O batalhão é o mesmo dos policiais envolvidos na morte da menina Eduarda, também na comunidade do Acari, fato que ganhou grande repercussão nacional. No próximo dia 30 de março faria um ano da morte da adolescente de 13 anos. 
A principal linha de investigação das autoridades é de execução, já que os criminosos fugiram sem levar nada. Testemunhas já foram ouvidas pela polícia, entre elas, uma assessora da vereadora que estava presente na hora do crime. Ela chegou a ser atingida por estilhaços e teve ferimentos leves. A vereadora Marielle Franco foi atingida por nove tiros, quatro na cabeça, e o motorista, Anderson Gomes, recebeu três tiros. 
Reações
Partidos políticos e movimentos sociais das mais variadas matizes ideológicas divulgaram nota se solidarizando com os familiares, amigos e companheiros de militância da vereadora Marielle Franco.
O partido de Marielle, o Psol (Partido Socialismo e Liberdade) afirmou em nota que não é possível “descartar a hipótese de crime político, ou seja, uma execução. Marielle tinha acabado de denunciar a ação brutal e truculenta da PM na região do Irajá, na comunidade de Acari. Além disso, as características do crime com um carro emparelhando com o veículo onde estava a vereadora, efetuando muitos disparos e fugindo em seguida reforçam essa possibilidade. Por isso, exigimos apuração imediata e rigorosa desse crime hediondo”. 
A ex-presidenta Dilma Rousseff também divulgou nota, na qual se diz “chocada, estarrecida e indignada” com o assassinato da parlamentar e seu motorista. “Espero que as investigações apontem os responsáveis por este crime abominável. As mortes violentas de Marielle e de Anderson precisam ser apuradas com o rigor da lei. Tristes dias para o país onde uma defensora dos direitos humanos é brutalmente assassinada”, afirmou.
Entidades de defesa dos Direitos Humanos também emitiram nota sobre o caso. A ONG internacional Human Rights Watch também defendeu que haja uma ‘investigação rápida, rigorosa e imparcial’, com ‘a responsabilização de todos os envolvidos’. Já o Grupo Tortura Nunca Mais considera o assassinato de Marielle como sendo “a primeira execução política da Intervenção Militar no Estado do Rio de Janeiro”. Segundo a organização, “o país está sob um Estado de Exceção em que as forças fascistas estão agindo sem qualquer limite e avançando sobre a nossa sociedade”. 
Para Rose Nogueira, integrante do grupo de direitos humanos, o assassinato da vereadora carioca é mais um efeito da intervenção militar no estado. “Tudo leva a crer que se trata de uma execução política porque dois dias antes ela havia denunciado os crimes que ocorrem contra a população negra, pobre, da periferia, da favela”. “A intervenção militar acaba levando a essa sensação do ‘pode tudo’. É uma guerra contra os pobres. Até agora foi só contra pobres, o exército só atuou nas favelas”. 
Mobilizações foram convocadas em todo o país para prestar homenagens a Marielle Franco e Anderson Gomes e exigir a apuração rigorosa do crime e a responsabilização dos criminosos

terça-feira, 13 de março de 2018

Cinco anos de Francisco: a Igreja de volta





Francisco em sua primeira aparição: curvado diante da humanidade

Em cinco anos, Francisco tirou a Igreja da irrelevância a que se reduzira. Recolocou os pobres no centro da mensagem, da ação e da oração de uma instituição que havia se rendido aos ricos e às regras -e desmoralizada pela falsidade e vida dupla de muitos de seus líderes 
Por Mauro Lopes
Neste 13 de março completam-se cinco anos do papado de Francisco. Tudo o que seria seu papado estava anunciado três gestos na noite em que apareceu diante do povo na Praça São Pedro. Estava tudo lá. Mas, somos cabeças duras –como o texto bíblico afirma textualmente por nada menos que quatro vezes em dois dos textos fundantes do judaísmo e, por consequência, do cristianismo, no Êxodo e no Deuteronômio. Não entendemos nada.
Mas Francisco apresentou o  seu “programa de governo” naquela noite, com três gestos simples:
1. Escolheu o nome de Francisco – foi uma confusão! Quando seu nome como papa foi anunciado pelo cardeal francês Jean Louis Tauran, antes da entrada de Bergoglio na praça, houve confusão, que se prolongou: seria o nome tomado de Francisco Xavier, um santo do início do século XVI, jesuíta como Bergoglio, e tido como aquele que mais gente converteu ao cristianismo na história? Seria Francisco I? A confusão demorou a dissipar-se. Era apenas Francisco, como o poverello de Assis. E este Francisco, como o outro, parece ter ouvido uma voz surgida das origens da caminhada: “Francisco, vai e reconstrói a minha Igreja que está em ruínas”. Simples, pobre entre os pobres, alegre e disponível.
2. Apareceu à praça vestido de branco – quando Francisco assomou ao púlpito naquela noite, foi um espanto. Esperava-se um papa como os demais: empetecado, dado ao ouro reluzente, cheio de sobrevestidos. No entanto, apareceu um homem vestido de branco, numa imagem surpreendente: cercado de cardeais, era ele o que se vestia de maneira mais simples. Há uma história que se conta sobre o momento em que Bergoglio foi vestido para aparecer ao povo, nunca comprovada; mas, como dizem os italianos, “se non è vero, è ben trovato” (se não é verdade, é um bom achado”: quando lhe chegaram com as roupas luxuosas para vesti-lo como papa, ele teria rejeitado com um gesto de mão e tido “não, não, acabou o Carnaval”. No peito, em vez da cruz de ouro dos papas anteriores, utilizada à farta por cardeais e bispos pelo mundo adentro, Francisco apareceu com a cruz peitoral que carrega desde os tempos de Buenos Aires, de ferro. Veja na foto abaixo os sapatos de Bento XVI e os de Francisco; a imagem carrega em si mesma dois projetos de papado.



Os sapatos de Bento XVI e os de Francisco: para caminhadas diferentes

3. Curvado diante da humanidade sofredora –nunca se viu nada parecido como o gesto que marcou sua “estreia” como papa. Em vez de um rei, de aspecto imperial, um homem humilde, que se curvou diante do povo reunido na praça –diante de boa parte da humanidade que assistia à cena naquela noite. Pediu que rezassem por ele. Pediu silêncio. Pediu abertura de coração. Veja o vídeo do momento –no oitavo minuto, o gesto.
Interrompendo 35 de inverno conservador, com João Paulo II e Bento XVI, Francisco retomou a primavera de João XXIII e tem buscado recolocar a Igreja nos passos do Concílio Vaticano II.
Olhar para Francisco é olhar para o Vaticano II. Mais que isso, é olhar para o que de mais importante aconteceu num concílio no qual o peso da Igreja imperial ainda se fez presente com desejo de continuação, como observou um dos grandes nomes do encontro, o padre dominicano Ives Congar, desgostoso com o desfile dos bispos e cardeais vestidos e comportando-se como príncipes:
“Vejo o peso daquilo a que nunca se renunciou, do período em que a Igreja se comportava como um senhor feudal, quando detinha poder temporal,  quando o papa e os bispos eram lordes que tinham suas cortes, eram mecenas de artistas e pretendiam uma pompa igual à dos Césares. A isso a Igreja nunca repudiou em Roma. Deixar o período constantino para trás nunca fez parte de seu programa”.[1]
O que de mais importante aconteceu no Vaticano não estava nos salões e sim nos subterrâneos. O coração do Concílio expressou-se nos subterrâneos. No Pacto das Catacumbas da Igreja Serva e Pobre firmado numa eucaristia, em uma basílica dentro da Catacumba de Domitila na noite de 16 de novembro de 1965, às vésperas do encerramento do Concílio -as catacumbas eram locais de reunião secreta dos cristãos durante as perseguições do Império Romano.
Naquela noite, 40 participantes assinaram texto, pelo qual comprometeram-se a uma vida eucarística, de pobreza, partilha, uma vida de lavar os pés dos pobres e com eles conviver. Os signatários assumiram 13 compromissos naquela noite histórica, dentre eles: viver como o povo, abrir mão dos títulos e roupas luxuosas, assim como do uso e ouro e prata, abrir mão de toda propriedade pessoal, estabelecer relações horizontais de diálogo em suas dioceses.
Eles curvaram-se em serviço amoroso diante de toda a humanidade. O gesto dos 40 das catacumbas finalmente veio à luz com Francisco, curvado na Praça São Pedro na noite de 13 de março de 2013.
Desde então, Francisco tem procurado arrancar a Igreja Católica da irrelevância a que se reduziu e recolocar os pobres no centro da mensagem, da ação e da oração de uma instituição se rendeu anos a fio aos ricos e às regras, desmoralizada pela falsidade e vida dupla de seus líderes.

segunda-feira, 12 de março de 2018

O conluio é escancarado, na cara do Brasil

Por Antônio Mello
Blog do Mello

Cármen Lúcia e Temer, Moro e Aécio, o sorriso dos poderosos na cara do Brasil

Carmen Lucia com TemerMoro com Aécio


O conluio é escancarado. Só não vê quem não quer.

Enquanto o pedido de entrevista do novo advogado de Lula, Sepúlveda Pertence (ex-ministro do Supremo e professor de Carmén Lúcia), adormece em berço esplêndido na mesa da presidente do STF, no sábado, ela recebeu em sua casa o golpista Temer, na mesma semana em que outro ministro supremo, Fachin, e a PGR Dodge pediram abertura dos sigilos fiscal e bancário de Temer, para investigar acusações de corrupção de milhões no porto de Santos.

Eles se confraternizam. Sorriem. Como Moro com Aécio (o mais delatado do país). Impunemente. Na cara da nação. 

Com o STF, com tudo.

domingo, 11 de março de 2018

JUCÁ ESTAVA CERTO: “COM SUPREMO, COM TUDO”, O NOVO BRASIL JÁ É UMA REALIDADE

Encontro fora da agenda oficial  na manhã de sábado

Por Ricardo Kotscho
Do Balaio do Kotscho

Uma das figuras mais abomináveis da política brasileira, o senador Romero Jucá, do MDB de Roraima, presidente do partido no poder, estava certo.
“Com o Supremo, com tudo”, como ele anunciou ao delator Sérgio Machado, a estratégia para derrubar Dilma Rousseff e colocar Michel Temer em seu lugar já é uma realidade num caminho sem volta.
Menos de dois anos após o golpe parlamentar, tudo o que está acontecendo confirma as previsões de Jucá.
Ao receber Temer em sua casa na tarde de sábado, posando sorridente para os fotógrafos, aos abraços com o presidente multi-denunciado por corrupção, a presidente do STF, Cármen Lúcia, deixou bem claro de que lado está.
Está, como sempre esteve, ao lado do golpe, sem disfarces.
Podem reparar. Em todas as suas últimas e breves declarações, com seu ar pomposo de madre superiora, ela repete o roteiro clamado pelos editoriais da grande imprensa: Lula tem que ser preso.
A pretexto de não “apequenar o STF”, como se isso ainda fosse possível, ao não colocar em julgamento o pedido de habes corpus preventivo do ex-presidente, a beata Cármen Lúcia está levando o tribunal supremo ao degrau mais baixo de sua história recente, algo que nem os generais da ditadura conseguiram, colocando em risco o que resta de Estado de Direito.
A suprema ministra já não ouve ninguém fora da mídia, faz ou não faz o que lhe dá na telha, monocraticamente.
As condenações e a iminente prisão do ex-presidente Lula são apenas o desfecho anunciado desta tragédia tropical encenada nos últimos três anos, desde a quarta vitória consecutiva do PT nas eleições presidenciais.
Com Lula liderando todas as pesquisas, só a Justiça poderia impedir que uma nova vitória do PT, a quinta em seguida, acontecesse em 2018.
O Partido da Justiça de Moro e Dallagnol, que prometia um novo Brasil passado a limpo, fez a sua parte. E o STF de Cármen Lúcia está seguindo a receita de Romero Jucá.
Os paneleiros e as marchadeiras dos patos amarelos da Fiesp estão achando tudo ótimo, era preciso mesmo acabar com o PT.
O único problema é que não conseguem encontrar um candidato com votos e podem entregar o Brasil de mão beijada ao ex-capitão Jair Bolsonaro.
Pensando bem, tem tudo a ver: um cruzamento de patos amarelos com o uniforme verde oliva combina com a nova República da Farda & Toga.
E lá vai o Brasiiiiiiiiiiiiillll! ladeira abaixo, a caminho do seu grande destino bananeiro, sem escalas.
Vida que segue.

quinta-feira, 8 de março de 2018

E se faz-de-conta que isso não é o que é, por Bob Fernandes

Bob Fernandes

O general Mourão passou à reserva na quarta, 28. Pregador de golpe militar, disse na despedida que o torturador Ulstra foi "um herói". . Disse, depois, que o general-interventor Braga Netto é "um cachorro acuado". E que a intervenção militar no Rio é só "meia-sola". Mourão quer sola inteira e acuados no ataque. . Mourão diz que vai apoiar Bolsonaro, o segundo colocado nas pesquisas. O primeiro é Lula, com o dobro da preferência por Bolsonaro. . À revista Piauí on-line o general Mourão anunciou: vai articular candidaturas de militares. Para o Congresso, assembleias e Poder Executivo. . Bolsonaro já defendeu: pau-de-arara em CPI, tortura, golpe, fechar o congresso, "guerra civil" e "matar uns 30 mil que a ditadura não matou".... "A começar pelo FHC". . Na eleição legislativa de 1928, na Alemanha, o Partido Nazista teve 2,6% dos votos. Crise de 29 e em 30 os nazistas já eram a segunda bancada. . Em 32, o Partido Nazista beirou à maioria. Em 33 os partidos de oposição foram eliminados do parlamento. E Hitler se tornou Chanceler. O demais a História conta. . O Brasil assiste o que se assiste no Rio apenas assistindo. Se faz-de-conta que tudo se resolvera por si mesmo. Que basta trazer generais de volta. . Temer já admitiu intervenções militares em outros estados. . E seu governo cancelou visita ao Brasil de Juan Pablo Bohoslavsky. Especialista Independente da ONU para Direitos Humanos, Finanças e Dívida Externa. . Juan Pablo viria avaliar impactos dos cortes de verbas na Saúde, Educação, Trabalho... . Se vende o faz-de-conta que tudo isso é natural, produto do nada ou do caos. Que é assim mesmo, a única saída possível. . Tudo às claras. Tudo escancarado. Inclusive o que avança. E o faz-de-conta de que nada disso é e significa tudo que isso é.

segunda-feira, 5 de março de 2018

Fazenda Annoni: os frutos conquistados da primeira ocupação do MST

Assistam os vídeos que apresentam um resgate histórico dos 32 anos da primeira ocupação do MST no Rio Grande do Sul, no latifúndio da Annoni, realizada no dia 29 de outubro de 1985.
O MST celebra os frutos conquistados pelas famílias assentadas.

Este curta faz parte do projeto Marco Universal.
Marcos Tiarajú foi o primeiro bebê nascido na Fazenda Annoni, em 1985.
Os pais fizeram parte das 1500 famílias na ocupação realizada pelo MST, início de uma nova etapa na luta pela reforma agrária no Brasil. Sua mãe, Rose, foi morta durante essa luta.

A história dessa ocupação, que culminou com a conquista da terra e de novas oportunidades de vida, é contada nos dois premiados documentários de Tetê Moraes, Terra para Rose e O Sonho de Rose, 10 anos depois.

Marcos é bolsista de medicina, em Cuba. Uma saga de conquista de direitos humanos, através da luta social, uma história de superação de desigualdades e injustiças, de marginalização e miséria.




Documentário de 2015
Documentário recorda a luta pela terra e comemora os 30 anos do acampamento Annoni, em Pontão, norte do estado do Rio Grande do Sul.



7º Prêmio Cine B de Cinema Brasileiro em São Paulo/SP (2016) Seleção oficial - Festival Iberoamericano Curta-SE Dezesseis em Aracaju/SE…
VIMEO.COM



Segue abaixo, alguns links relacionados ao assunto:
Terra para Rose👇
https://youtu.be/422xCGlJZR4
(O filme, contando a história da ocupação)

O sonho de Rose 👇
https://www.youtube.com/watch?v=xP2Jm23RJ9Y
(10 anos depois do filme "Terra para Rose", a história do filme)

sábado, 3 de março de 2018

A hora dos leigos? Mas de que leigos se está falando?...

A imagem pode conter: 1 pessoa, barba, óculos e close-up
Por Cesar Kuzma
Do se Facebook
A hora dos leigos? Sim, foi o que se pensou com o Concílio Vaticano II e, em 2016, o Papa Francisco resgatou esta ideia dos teólogos conciliares e disse praticamente a mesma coisa, em uma carta enviada ao Cardeal Marc Ouellet. Para o Papa, uma hora que está tardando a chegar.
No entanto, diante de algumas manifestações e expressões que estamos vendo atualmente, vale lançar outra pergunta: de que leigos exatamente se fala e se espera nesta hora? Se o futuro da Igreja passa pelo viés dos leigos, como se diz, há nesta afirmação uma intenção eclesiológica, mas é necessário ficar atento para não se desviar da atenção primeira e para fazer clarear a novidade que se percebe e se propõe. Por certo, não estamos à espera de leigos clericalistas, obsessivos e extremamente fundamentalistas, que caem num moralismo radical e inconsequente, e doutrinariamente incitam mais o ódio e a falta de comunhão eclesial, que carecem de um bom senso, desrespeitando expressões, participações e membros da mesma Igreja, recusando a intenção do Concílio que lançou esta espera, ao reafirmar, com toda a Tradição, que a Igreja é Mistério e é Povo de Deus (Lumen Gentium), e que deve estar atenta aos sinais dos tempos (Gaudium et Spes). O Concílio trouxe ao leigo autonomia e corresponsabilidade na missão, podendo este agir e atuar de um modo próprio, contudo no viver de uma koinonia e em busca de uma maturidade que se abre à ação do Espírito e se empenha em seguir os passos de Jesus, agindo no tempo e na história para fazer acontecer de modo antecipado, escatologicamente, a construção do Reino prometido e esperado.
Neste ano em que a Igreja do Brasil vive o Ano do Laicato, faz-se necessário se ater ao que se quis no Documento 105 da CNBB, que traz os leigos como sujeitos da Igreja e do Mundo. E diz isso sem cair numa separação de realidades (Igreja e Mundo), mas fundamentado pelo Vaticano II e demais documentos pós-Conciliares, entendendo o compromisso da Igreja no mundo, não como um confronto, mas como um diálogo, onde ela é mestre e pode ensinar, mas também se insere e se encarna nas realidades, e pode aprender. Isso não é um demérito da sacralidade da Igreja, mas é a percepção da nossa vulnerabilidade na história, nos fazendo lembrar que não se pode absolutizar nenhum modelo, pois somos, como Igreja, sinal e testemunhas de algo maior, que transcende a todos e cada tempo, e que nos aponta para o absoluto da nossa existência e de toda a história, onde o encontro e a experiência de fé se realizam e se consomem em Deus.
Ser sujeito eclesial, hoje, significa ser autêntico e coerente com a fé que professa (Doc. Aparecida), significa testemunhar com a própria vida em todas as realidades que se vive, buscando o encontro e o diálogo, a abertura e a mansidão, o desprendimento e a misericórdia, a alegria e o amor. Ser sujeito eclesial, hoje, não é ser conflitivo, muito menos combativo, mas é ser testemunha de uma verdade que não está nos manuais de doutrina, mas no encontro vivo com o Ressuscitado. Não é ser divisor, mas promotor de comunhão. Não é ser mestre das verdades, mas alguém atento ao mistério e disposto a sempre aprender. Não é quem acusa, mas é quem se coloca ao lado dos outros, principalmente dos pobres e daqueles que mais sofrem e são perseguidos, até mesmo pela própria fé.
A riqueza do Concílio Vaticano II e de toda a teologia do laicato que daí se decorreu é que a Igreja decide por sair das sacristias e das catedrais e parte (sai) para viver no mundo, aceitando a fraqueza da história e os limites da missão, mas entendendo que o Reino cresce pela força da ação do Espírito, jamais pela locução de um ministro ou de quem quer que seja, pois aqui, nesta terra, somos simplesmente peregrinos, servos inúteis que arriscam viver uma experiência nova e libertadora. Entende-se, também, que o Reino não é uma instituição de pedras ou de doutrinas, muito menos um boulevard de vestes e paramentos medievais que dizem muito pouco nos nossos dias, mas sim um espaço vasto de amor, justiça e paz, onde todos podem viver e se manifestar, e a harmonia prevalece, sem lágrimas e sem luto, mas numa vida que se faz nova para toda criatura. Juntamente com o Evangelho, o Concílio proclama a bem-aventurança dos pobres e dispõe uma igreja de serviço, disposta a resgatar a vida concreta e atenta aos dramas humanos. Isso não é socialismo ou comunismo, isso não é ideologia, mas é a utopia que se deve buscar a partir da experiência que fazemos na fé, alimentada na esperança e fortalecida no amor.
Esta intenção do Concílio foi recepcionada na América Latina e aqui se atualizou em uma nova linguagem, adaptada à realidade e garantindo a essência. Pensou-se uma Igreja protagonista, profética e sensível ao Continente, marcado por uma colonização massacrante, dominação estrangeira, ditaduras militares e exploração humana. Nesta Igreja os leigos foram chamados ao protagonismo e receberam de seus pastores o apoio para empreender um jeito novo, um novo canto, por vezes oprimido e por vezes festeiro, mas rico na fé que existe e insiste em se manter acesa, mesmo diante de tamanha pobreza e opressão. Este é um lado da Igreja da América Latina e é um lado da visão do laicato que se tem, sem qualquer pretensão de ser um único modelo. A Igreja torna-se una na diversidade e a variedade de rostos e carismas torna a sua identidade ainda mais bela.
Por esta razão, digo que fico ofendido e chateado com algumas manifestações grosseiras e descomprometidas com uma causa verdadeira. Onde há divisão não pode haver o Espírito. Onde há certezas não há espaço para a fé. Onde há ódio, não se pode viver o amor. Acho uma pena que em pleno Ano do Laicato tenhamos que presenciar tais atitudes e comportamentos, alimentados por uma estrutura clericalista farisaica que olha mais a lei que a pessoa. Que falta faz o frescor do Evangelho, que tem um fardo leve e um jugo suave! É impossível sustentar a fé só de doutrina e não se vive um novo ethos cristão em cima de um moralismo desatento ao íntimo humano e ao olhar social, naquilo que gritam homens e mulheres e naquilo que grita a terra. Deste modo, faz-se necessário voltar-se a Jesus, ao homem do Evangelho, ao filho de Maria e José, ao carpinteiro da vila, ao amigo de Pedro e Tiago, aquele que nos olha nos olhos e nos chama pelo nome, e cuja ação nos desconcerta e nos destrói na razão. Olhar fixamente a Jesus nos fará perceber que ele foi sujeito em seu tempo, estando mais atento às pessoas que a Lei, amando a Deus e fazendo reconhecer este amor no dom de si mesmo ao outro, de quem se fez próximo.
É a hora dos leigos? Sim, é a hora! É a hora de um povo que fala, que reza, que luta, trabalha e professa. É o povo de Deus, transformando esta terra!
Que o olhar atento a Jesus de Nazaré nos mostre o caminho e que a comunhão nos fortaleça, sempre!
Cesar Kuzma é teólogo leigo, casado e pai de dois filhos. Doutor em Teologia pela PUC-Rio, onde atua como professor-pesquisador do Departamento de Teologia. É o atual presidente da SOTER (2016-2019) e autor de livros e artigos sobre a teologia do laicato. Dentre eles: Leigos e Leigas, Ed. Paulus, 2009.
r mais reações