sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Gente Inocente, por Fabrício Carpinejar

CRÔNICA DO FABRÍCIO CARPINEJAR SOBRE A TRAGÉDIA DE JANAÚBA

GENTE INOCENTE
Arte de Giotto

Fabrício Carpinejar
 Do seu facebook

Como explicar alguém que queima crianças de 4 a 5 anos? Que sabe o que está fazendo, que conscientemente chama para perto uma turma absolutamente indefesa e frágil e joga álcool nela e depois ateia fogo sem piedade nenhuma?

Não há vingança que justifique tamanha crueldade, não há acerto de contas que amenize o desamparo, não há atenuante humano, não há perdão divino. Nem o suicídio é um desconto.

O que se viu em Janaúba, no Norte de Minas Gerais, na manhã desta quinta-feira (5), adoecerá os olhos do país pelo resto de nossa história.

O guarda do Centro Municipal de Educação Infantil Gente Inocente, no Bairro Rio Novo, matou covardemente os pequenos estudantes. Quatro deles morreram carbonizados na hora, dois deles faleceram no hospital e doze estão internados, com mais de 30 por cento da pele queimada.

Quem não tem filho já não aguenta ler a notícia até o fim, imagine quem tem? Subirá até garganta o grito de cinzas do lugar destruído, engoliremos o fogo maldito da imoralidade. Acordaremos com o gosto ruim na boca, o desgosto perpétuo de fantasiar o quanto os anjos sofreram sem ao menos entenderem o que acontecia.

Serão lágrimas que jamais secarão no colo dos pais.

Serão pais que jamais dirão: isso passa! Porque nunca passará.

As labaredas roubaram as velas de aniversário da vida inteira de seis crianças.

Como chegar perto daquele endereço de novo, atravessar a rua Rosenda Pereira, sem o frio na espinha? Nem o frio da espinha apagará um dia o fogo.

Famílias estarão na frente do portão aguardando a saída dos filhos às 18h para todo o sempre.

Talvez as crianças estivessem rindo, talvez pensassem que o tio, que era segurança da escolinha, estivesse fazendo uma brincadeira. Não pressentiram o perigo. A inocência nunca cogita o pior. A inocência confia. A inocência jura que o adulto pode ser bom, pode querer brincar de roda, de ciranda, de jogar líquido na cabeça. Não enxerga a maldade. Não enxerga a ameaça crescendo.

É uma tragédia que não me fará desacreditar em Deus. Mas começo a acreditar firmemente que o Diabo existe.








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