Assista a reportagem da TV Minas e em seguida leia o texto de Roberto Andrés explicando a revolta das águas causado pela atividade humana .
Roberto Andrés
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Ontem diversos córregos de BH transbordaram, entrando em casas, bares, arrastando carros, derrubando árvores.
A revolta das águas será cada vez mais frequente em um contexto de aquecimento do planeta.
Mas, na verdade, o stress no ambiente natural que a atividade humana tem gerado já vem de longe. Esse caso do córrego do Leitão, um dos que transbordou ontem, ilustra bem.
*** “Era uma vez um leitão que parecia manso, mas era bravo e sujo – muito sujo. Quando enchia, entrava até na casa dos outros. O córrego do Leitão não respeitava nada.
Hoje o Leitão está por baixo dessa nova e ampla avenida, que vai ajudar a resolver os nossos problemas de trânsito. Cenas de enchentes, você nunca mais verá.” As frases acima são ditas por um narrador de voz grave, estilo Cid Moreira, em um vídeo veiculado pela Prefeitura de Belo Horizonte na década de 1960
. Naquele momento, a Prefeitura tocava o projeto NOVA BH 66, que preparou a cidade para o progresso rodoviário que viria. Córregos foram cobertos, árvores foram cortadas, os trilhos do bonde foram sepultados, mais de um milhão de metros quadrados de vias foram asfaltados.
O córrego do Leitão foi ainda transformado em um personagem malvado, sujo e feio, nos materiais de divulgação da Prefeitura. Mas, na verdade, a história era outra.
*** Era uma vez um Leitão que serpenteava límpido por um vale repleto de árvores frondosas e sabiás cantantes.
Atravessava uma grande fazenda, passava pelas franjas de um pequeno arraial e desembocava no ribeirão Arrudas. Esse Leitão abrigava peixes, fornecia água para as pessoas e era lugar de brincadeiras infantis.
Um dia, apareceu naquelas paragens uma espécie de Lobo Mau: a comissão construtora da nova Capital de Minas Gerais. Esse pessoal não respeitava nada e logo começou a jogar esgoto no córrego, retificar seu leito em canais de concreto, construir nas suas áreas de cheia.
O Leitão, coitado, seguiu sua vida de rio: diminuir na seca, vazar nas chuvas.
Só que agora as várzeas em que o córrego se espalhava alegremente em tempos melhores estavam ocupadas por prédios, casas, ruas. E suas águas estavam contaminadas pelo cocô dos novos moradores – na pressa de inauguração da capital, deixou-se para depois o planejado sistema “separador”, que tiraria o esgoto dos rios.
*** Tudo isso levou às situações lastimáveis que o vídeo da Prefeitura expunha, mas é preciso dizer que a promessa de que “cenas de enchente, você não vai ver nunca mais”, obviamente não se cumpriu. Não foram poucas as vezes que o córrego encheu, vazando pelos bueiros, transformando a avenida Prudente de Morais em um piscinão.
Talvez aquela prefeitura do governo militar, um tipo de Lobo Mau armado com a espingarda do caçador, acreditasse que bastava cobrir o córrego para que ele deixasse de existir. Mas as águas não funcionam assim. Ademais, com o crescimento da cidade, a impermeabilização do solo e a canalização dos afluentes, a água das chuvas passou a chegar cada vez mais forte e rápida aos fundos dos vales.
*** A soberba e o desrespeito aos limites naturais na ocupação do território urbano sempre foi a ponta de lança da destruição planetária, agora evidenciada. As águas sempre foram o termômetro desse modo de vida em que as outras espécies não cabem nas escolhas do modo de vida humano - da sociedade ocidental, diga-se, porque os povos ameríndios sempre souberam lidar com a natureza de modo muito mais inteligente. Agora, o aquecimento do planeta tornará esses eventos cada vez mais frequentes. A mudança de paradigma é para anteontem.
Gerenciar " tromba d´água " é para poucos.
ResponderExcluirMuito elucidativo
ResponderExcluirQuem brinca com a natureza envenena a própria mesa. Já passou da hora de cuidar da natureza envez de destrui-la
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