sábado, 26 de janeiro de 2019
Não foi acidente
Por Leonardo Sakamoto
Palavras são importantes. O que ocorreu, nesta sexta (25), em Brumadinho (MG) não foi um simples acidente e as mortes decorrentes tampouco são fruto do acaso. O que ocorreu é resultado da incapacidade da Vale em garantir que suas operações não matem seres humanos, polua a água, contamine o solo e destrua o meio ambiente e da incompetência de autoridades dos Três Poderes em punir devidamente a empresa quando ela causa tragédias ou prevenir antes que isso aconteça. Investigações vão apontar o que levou ao rompimento, mas o uso irresponsável da palavra "acidente" faz crer que tudo isso seria inevitável, concedendo na sorte e no azar uma responsabilidade que está nas mãos de empresas.
Neste momento, se eu fosse morador de municípios de Minas Gerais e de outros Estados com barragens semelhantes sob responsabilidade da empresa ou de suas controladas estaria bastante preocupado com a minha vida. Porque o "está tudo bem" da Vale, atestando riscos baixos de tragédia, não vale muita coisa.
Em novembro de 2015, uma barragem em Mariana, sob responsabilidade da Samarco, rompeu sobre o povoado de Bento Rodrigues, deixando 19 mortos e o maior desastre ambiental da história brasileira, mudando para sempre a vida no rio Doce. Pessoas ligadas à essa empresa e à Vale e à BHP Billiton, suas controladoras, foram denunciadas pelo Ministério Público Federal por homicídio
Nossa legislação deveria ser rigorosa na responsabilização das empresas, nas ações de prevenção, na garantia de estrutura para fiscalização e nas situações em que a proibição de exploração é o único caminho. Sim, porque às vezes para manter o interesse da maior parte do público, o minério deve ficar onde está até que se encontre uma maneira verdadeiramente racional de extraí-lo. E, uma vez extraído, as empresas devem gastar o que for necessário para que os riscos relacionados aos rejeitos seja limitados. Mesmo em prejuízo aos acionistas.
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