A todos e a todas o meu desejo para 2021: saúde, solidariedade, tolerância, resistência, relações fraternas e energias positivas.
A vida com mais sorriso, com mais respeito e forças para seguirmos em frente tendo toda fé e esperança de que dias melhores virão. Com um país mais justo!
Não temos outra alternativa senão permanecermos otimistas. O otimismo é uma necessidade absoluta.
Como afirma João Guimarães Rosa , a vida quer da gente é coragem.
"Bolsonaro está sabotando o isolamento com a desculpa de que o país deve voltar ao normal. Mas insiste na ‘normalidade’ não pela vacinação, mas pelo prolongamento e pela intensificação da matança coletiva", escreve Moisés Mendes, do Jornalistas pela Democracia
Até a Hungria de Viktor Orbán começou a vacinação contra a Covid-19. Bolsonaro passa a ser o exemplo do negacionista retardatário, que não só se nega a admitir a necessidade da vacina como cumpre o papel de sabotador.
Se fossem escolher uma figura que represente o déspota em meio à pandemia, não seria Orbán, a figura seria sempre Bolsonaro. Nenhum outro governante trabalha tanto contra o seu próprio povo quanto Bolsonaro.
Sua desenvoltura como genocida não é contida porque há aceitação da imposição da sua política da morte. O país foi subjugado por Bolsonaro. Desde o começo das pesquisas com as vacinas ele avisou que se negaria a aceitar a imunização.
E foi dizendo, mês a mês, que não queria vacinas, muito menos a chinesa. Foi manobrando e enrolando os cientistas, o Ministério Público, a Justiça, os políticos e o povo.
O povo aceitou que Bolsonaro o enrolasse sobre a vacinação. Chegamos agora ao estágio da enrolação total, completa, e a população está quieta, submissa e imobilizada.
Nem Congresso, nem Supremo, nenhuma instituição irá forçar Bolsonaro a se mexer em favor da vacina se não se sentir com respaldo político. E esse respaldo popular não existe.
É real a sensação de que as pessoas brigam mais pelo direito de se aglomerar do que de se imunizar.
Os que desejam a vacina são a grande maioria. Mas a minoria que não a refuga expressa suas vontades de forma mais consequente. Nas ruas, nas festas, nas reuniões de família, nos ajuntamentos, na afronta do comércio às leis de restrições. O negacionista é mais ativo e mais efetivo também nas redes sociais.
O militante antivacina mobilizado por Bolsonaro tem mais potência do que os preocupados em se proteger e proteger os outros. A população interessada na imunização aguarda que em algum momento a situação se reverta em favor da vacina.
O povo espera. Espera que Bolsonaro mude de opinião, que Pazuello ofereça um plano verdadeiro de compra e distribuição da vacina, que a Anvisa demonstre o desejo de agilizar a aprovação de imunizantes já aprovados em outros países.
A expectativa de que o Brasil poderá ser um dos últimos países a fazer a vacinação é criada também pelos que aceitam essa condenação. O brasileiro médio, subjugado por Bolsonaro, condenou-se a ficar para trás.
Bolsonaro está sabotando o isolamento com a desculpa de que o país deve voltar ao normal. Mas insiste na ‘normalidade’ não pela vacinação, mas pelo prolongamento e pela intensificação da matança coletiva.
A vacina não lhe interessa, porque nunca esteve nos seus planos. A vacina é coisa de João Doria, da oposição, dos cientistas, dos médicos e enfermeiros. Aceitar a vacina é ser derrotado pelos outros.
Já há vacinação em quase 20 países. Alemanha, Costa Rica, Chile Catar, Israel, Canadá, China, Suíça, Emirados Árabes, Sérvia, Estados Unidos, Rússia, Arábia Saudita, Bahrein, Kwait.
Neste domingo, toda a Europa começa oficialmente a vacinação. Amanhã, a Argentina aplica as primeiras doses da vacina russa.
Em menos de um mês é provável que a maioria dos países já esteja vacinando, e as previsões mais otimistas indicam que o Brasil somente iniciará a vacinação em fevereiro.
Bolsonaro disse no sábado, sobre o fato de estar atrasado: ““Ninguém me pressiona pra nada, eu não dou bola pra isso”.
O sujeito está certo de que nem pressionado é. Ministério Público e Supremo tentaram reagir, os partidos procuraram mantê-lo acuado, os cientistas o alertaram, mas não há entre a população a radicalidade do sentimento de urgência.
Bolsonaro tem o controle absoluto do extermínio. Só teremos vacina quando ele quiser. A resignação é hoje o retrato do Brasil. Nos piores momentos, os espelhos são implacáveis.
No dia de Natal é importante relembrarmos as reflexões de Frei Cláudio van Balen sobre o verdadeiro sentido do Natal.
Vamos assistir um vídeo de 2014, quando em uma entrevista com frei Gilvander Moreira, frei Cláudio nos ensina a real mensagem do Natal.
Atualmente devido a problemas de saúde Frei Cláudio encontra-se afastado de suas atividades.
Ouvir as palavras de Frei Cláudio nos possibilita assimilar melhor o sentido e seguir na direção da proposta de Deus, posicionando-se em um direcionamento iluminado, inovador e fraterno.
Assim, abrimos nova perspectivas, ampliamos horizontes e interiorizamos nosso modo de ser e de agir. Socializamos o viver, marcando presença, enriquecendo a convivência.
Wendy Brown, filósofa feminista, provoca: fracassa, em meio à pandemia, ideia de organizar a sociedade a partir do indivídualismo e mercados. Está evidente a necessidade do Comum. Mas contra a direita, é preciso ressignificar a liberdade
A filósofa, cientista política e professora Wendy Brown conversou com Verónica Gago no ciclo de debates feministas “Conversas Latino-Americanas”, poucos dias após a derrota de Trump, e na véspera do lançamento de seu livro “Nas ruínas do neoliberalismo. A ascensão da política antidemocrática no Ocidente”. Na palestra, Brown abordou a sobrevivência do trumpismo, a demonização da democracia pelo neoliberalismo e a necessidade de redefinirmos o conceito de liberdade para a esquerda, a fim de separá-lo da carga agressiva e antiestatal que lhe é atribuída pela direita.
A derrota de Trump, mas não do trumpismo, os desafios da esquerda e dos movimentos sociais, as maneiras de entender o devir reacionário dos setores populares e o conceito de liberdade em disputa. Essas são algumas das chaves da conversa entre Wendy Brown e Verónica Gago que vão muito além da conjuntura estadunidense, para interrogar, também, a vida e seu cotidiano.
Você começou a escrever o livro “Nas ruínas do neoliberalismo. A ascensão da política antidemocrática no Ocidente” no início do governo Trump; e hoje estamos traduzindo e editando o texto no final desse ciclo político — embora saibamos que dificilmente tenha chegado ao seu fim. O que significa a ideia das ruínas do neoliberalismo?
Temos que pensar que a expressão “ruínas” se refere a algo que já é antigo mas que, no entanto, não morreu. Uso o termo “ruínas” porque ainda vivemos no neoliberalismo, o neoliberalismo não acabou, mas ele está em decadência. Muitas coisas estão desmoronando ou se arruinando. No âmbito econômico, o neoliberalismo dispersou e deslocou comunidades, as regulamentações estatais desapareceram e muitas empresas locais foram substituídas por empresas globais. Tudo isso fez com que milhões de pessoas no mundo todo tivessem sua situação deteriorada, ficassem na precariedade. Nunca, desde a Grande Depressão, a classe trabalhadora americana esteve em uma posição tão vulnerável e com um futuro tão difícil. Essas são as ruínas econômicas do neoliberalismo.
Mas a ruína vai para muito além da economia. É a ruína de uma forma de organizar e governar que valorizava a moralidade tradicional como única forma possível de organização: os mercados e a moralidade tradicional. As formas livres e espontâneas de associação, a soberania dos povos, os projetos de justiça social e igualdade, tudo isso é demonizado pelo neoliberalismo, que não busca a liberdade, mas a imposição de um modelo de engenharia social. O neoliberalismo é uma forma de totalitarismo. Assim, depois de quarenta anos dessas políticas econômicas e forma de raciocínio, temos, em muitas sociedades industrializadas, uma classe trabalhadora que se reconverteu a formas mais baratas de trabalho, os salários foram reduzidos. O mesmo acontece com a educação ou infraestrutura, que estão em frangalhos. Mas o neoliberalismo também é responsável pela perda da confiança na democracia. É um ataque à democracia em termos de justiça social, redistribuição, igualdade. Enquanto isso, os mercados são subsidiados e a moralidade tradicional continua sendo promovida.
Ao mesmo tempo, o neoliberalismo trouxe novas formas de desigualdade social que antes não existiam. Há muitas maneiras de medir esse fenômeno, mas a que melhor ilustra tudo isso é o fato de que uma única pessoa possui mais riqueza do que outras 5 bilhões. Em outras palavras, 22 homens têm mais dinheiro do que todas as mulheres da África. Isso indica que algo diferente do que estava nos planos originais está acontecendo: o ataque plutocrático às instituições. Essa classe plutocrática, que agrediu os poderes institucionais, constitui um poder antagônico à democracia e usa esse poder político para garantir sua própria posição. Porém, ao mesmo tempo em que se vale dela, o poder plutocrático quer suprimir a democracia — à primeira vista, algo contrário ao que [os criadores do neoliberalismo] tinham em mente no início. O que a plutocracia faz hoje é criar uma economia que lhes garanta o monopólio do poder sem ter que recorrer às instituições da democracia. Isso acontece no Brasil e em outras partes da América Latina, mas também nos Estados Unidos. Os valores da democracia são substituídos por uma vontade agressiva de poder. Os plutocratas, em coligação com as igrejas evangélicas, demonizam a democracia e o estado social em nome de uma ideia muito particular de liberdade, agressiva e antissocial.
A promessa de recuperar um mundo que não existe mais cria uma base extraordinária para o autoritarismo. Um mundo estável, seguro, homogêneo, organizado por valores cristãos e patriarcais. Meu argumento é que o neoliberalismo é um dos berços das formas fascistas e autoritárias.
Como funciona essa articulação entre neoliberalismo e conservadorismo? Como você mesma diz, não era algo que estava nos planos originais dos pais fundadores do neoliberalismo. Como surge essa combinação, que vemos se desenvolver em escala global e que tem seu momento de laboratório político na era Trump? Qual é a particularidade conjuntural da junção entre neoliberalismo e conservadorismo? É algo que você passou a notar principalmente a partir da era Trump?
O conservadorismo faz parte da arquitetura original do neoliberalismo. Os neoliberais argumentam que a moralidade tradicional deve ser a base da legislação social; que deve se pautar em valores de família, propriedade privada e autoridade. Se há primazia do indivíduo, é sempre em um quadro hierárquico, não em um modelo igualitário. O que chamamos de conservadorismo esteve presente desde o início, o que não se previa era que passaria de uma forma de organizar a ordem das coisas, a uma abordagem tão agressiva e demagógica, para se tornar uma verdadeira formação neofascista. E acho que isso deve ser explicado pela falha original do neoliberalismo em entender que as populações não podiam ser pacificadas pelos mercados nem pela moralidade, mas que podiam ser ativadas de forma agressiva — forma que eu chamo de “não-exaltada” — e que alude a uma certa perda das inibições, ao surgimento de um caráter antissocial e agressivo que se manifesta publicamente em ataques abertos aos outros. É só isso que não existia no início do neoliberalismo. Os mercados e a moral tinham que organizar a sociedade, mas de forma silenciosa e com calma, e não operando em um plano tão decididamente político.
Quanto à aliança entre o moralismo de mercado e o conservadorismo cristão no trumpismo, os evangélicos dos EUA estão bem cientes de que Trump não é cristão, não é uma pessoa virtuosa, não é alguém que opta pelos mesmos valores que eles. Mas estão convencidos de que Deus o enviou como agente de sua missão na Terra, que é cristianizar a nação, reintroduzir o ensino religioso nas escolas, acabar com o aborto e erradicar o feminismo. Eles acreditam em tudo isso e acham que Trump é o agente do projeto, embora não seja um deles. E ele trabalhou nisso com muito cuidado. Finge rezar, por exemplo, mesmo com todos sabendo que Trump não é uma pessoa piedosa. Acho que Bolsonaro também tem muito disso, assim como outras figuras da Europa, como Le Pen na França, e outras personalidades da extrema-direita alemã. Mesmo na Hungria, onde o cristianismo faz parte do conservadorismo, os líderes da extrema-direita não são necessariamente líderes cristãos.
Levando em consideração essa caracterização do conservadorismo como um ativismo político, como podemos pensar sua expansão numa escala massiva, mesmo em setores populares de nossas sociedades? Como esse conservadorismo consegue combinar-se com uma afetividade das classes populares e trabalhadoras, enquanto assume esse ativismo político em termos conservadores.
Aqui é possível começar a perceber algumas diferenças entre as culturas de nossos diferentes países. Um dos legados da globalização neoliberal nos Estados Unidos é a profunda divisão cultural entre, por um lado, aqueles que se sentem conectados ao mundo, à cultura global, ao cosmopolitismo, à vida urbana — pessoas que se reconhecem como norte-americanos, mas também parte de um mundo musical, linguístico, artístico, laboral, econômico, que existe além das fronteiras do país — e, por outro lado, aqueles que eu chamaria de “a média do país”, que podem ser chamados de “suburbanos”, “exurbanos”, ou também “rurais”. Este grupo se sente profundamente alienado de todo esse aspecto da cultura contemporânea, mas também desse aspecto do que o neoliberalismo tem feito, que é quebrar as barreiras nacionais, provocar o movimento de pessoas ao redor do mundo através da migração e nos tornar um país com muito mais mistura — em alguns anos, os brancos serão uma minoria neste país, os Estados Unidos serão o que chamamos de um país de minoria majoritária. Isso é muito ameaçador para aqueles que se sentem terrivelmente abandonados de todas as maneiras que já falamos. Eles estão despencando economicamente, e se sentem social e culturalmente desprezados ou ridicularizados por seus modos de vida, seus hobbies, seus interesses ou sua falta de educação. E, é claro, o trumpismo cultivou esse sentimento. Ele se dirigia a eles como se sua ignorância e rejeição ao cosmopolitismo, inteligência, intelectualismo, ideias, cultura, fosse algo bom, algo valioso.
O próprio Trump incorporou esses valores. Com isso, ele reforçou aquele conservadorismo refratário a um mundo mais aberto, mais diverso, mais mutante; fortaleceu a ideia de que é possível se limitar àquelas vidas fechadas dos subúrbios brancos. Mesmo se colocarmos o cristianismo de lado, por uns instantes, podemos nos limitar apenas a essas vidas suburbanas brancas, fechadas, e chamar isso de “América” e rejeitar todo o resto. Esse sentimento foi fortemente intensificado, por um lado, pelo conservadorismo, mas também pelos efeitos da desvalorização da educação no neoliberalismo. Para o neoliberalismo, educação é formação para o trabalho; não o enxerga como uma formação que joga luz sobre a humanidade, o mundo, a natureza ou a cultura. Trata a educação simplesmente como forma de desenvolver o capital humano, e essa perspectiva foi concretizada por meio do desinvestimento na educação pública, especialmente no ensino superior, mas onde também as escolas foram afetadas e sua qualidade caiu drasticamente. Isso agrava o problema da população de classes trabalhadora e média que não vivem nos centros urbanos, que não conhecem o mundo, não querem conhecer o mundo e se sentem ameaçadas pelo mundo. E isso, por sua vez, exacerba o conservadorismo, o anti-intelectualismo, a xenofobia e tudo o mais.
Existe uma discussão em torno das expressões “fascismo”, “novos fascismos”, “tendências neofascistas”. Você acha que elas estão corretas, em termos sistemáticos e de uso político, para caracterizar a situação atual em relação a esse desenvolvimento que você acaba de fazer da relação conservadorismo-neoliberalismo?
Eu tenho uma contradição interna, comigo mesma, nesse quesito. Em parte, porque o termo “fascismo” é muito carregado de significado relacionado à Segunda Guerra Mundial. Acredito, sim, que vivemos em uma formação neofascista, se entendemos por isso a mobilização do poder do Estado para definir a nação e o povo de forma homogênea e arregimentá-los após um projeto específico que é discriminatório, violento, militarizado. Tudo isso está aí. Mas, ao mesmo tempo, o motivo pelo qual uso outro termo, “liberalismo autoritário”, é porque as liberdades civis nos EUA estão no centro do projeto neofascista neste momento. É muito importante que vejamos como a ideia de liberdade é mobilizada pela direita contra a esquerda, como forma de construir um apoio para este — que agora eu chamo assim — movimento neofascista. É complicado porque, quando falamos de fascismo, imaginamos um Estado muito forte e uma falta de liberdade individual; no entanto, aqui temos algo diferente. Por um lado, sim, temos um regime de propaganda no trumpismo; temos, também, a mobilização do etnonacionalismo branco para a construção de um projeto nacional muito específico. Mas, por outro lado, a liberdade é o cartão de visita deste projeto, e ela é usada para constranger a esquerda.
Acho que se não prestarmos atenção nisso, nunca entenderemos o diferencial desse regime e o porquê de ser tão bem-sucedido. Especialmente nos EUA, onde a liberdade individual está há muito tempo na raiz de seu credo, mesmo que ela não tenha sido estendida às minorias subjugadas do país, mulheres ou pessoas LGBTI. Mesmo não tendo sido universalizada, está no cerne do credo norte-americano. Portanto, prefiro o termo “liberalismo autoritário” porque acho que descreve com maior precisão o que temos hoje e por que temos que lutar. Mas não estou dizendo que não haja dimensão fascista em tudo isso. Há e, de fato, estamos vendo isso na recusa de Trump em deixar o poder, em seus esforços de desinformação e propaganda, em seu esforço para incitar à violência, sem descartar que ele tente usar a força militar para permanecer no poder mais um pouco. Mas acho que o fascismo é apenas uma dimensão, não é tudo.
A palavra “derrota” é pertinente no caso de Trump, mas também parece grandiosa demais para nos referirmos ao trumpismo, correto?
O trumpismo não foi derrotado. Trump foi derrotado e temos que celebrar esse momento. E comemoramos. A dança nas ruas foi algo extraordinário. Nós, norte-americanos, não costumamos sair para dançar assim, mas dessa vez sim, fizemos uma coisa que é mais comum pra vocês [argentinos]: dançar na rua. Comemoramos e dançamos porque essa figura específica do neofascismo, do liberalismo autoritário, foi expulsa da presidência. Ele vai alegar e tentar de tudo, mas terá que deixar seu gabinete presidencial. No entanto, o trumpismo não foi derrotado, 70 milhões de pessoas ou mais votaram em Trump e muitos deles estão inconformados por não terem vencido. Eles estão com medo, estão convencidos de que o novo regime vai destruir suas vidas, seus valores, suas igrejas e se apegam ao pouco que têm. Toda a formação antidemocrática, racista e patriarcal que Trump ungiu e mobilizou ainda está bem viva. Ele ainda está vivo não apenas graças à sua base, mas também porque Trump agora tem um enorme controle sobre o partido da direita. E não posso mais chamá-lo simplesmente de “conservador”, é um partido de direita. O próprio partido é antidemocrático. Literalmente, eles estão tentando anular votos, estão tentando manipular os distritos, para poder manter o controle do país, mesmo com uma minoria dos votos. E eles estão em uma posição muito favorável para fazer tudo isso. Então, temos um partido trumpista e suas bases que não foram derrotadas. E há Trump. Estamos muito satisfeitos em tê-lo removido da presidência, mas não há muito que o governo Biden possa fazer, com um Senado e uma Suprema Corte republicanos nas mãos da extrema direita, então este não será o ensaio para uma alternativa. Além disso, há o problema de que o que Biden representa é um retorno ao centro, não uma saída para o caos do neoliberalismo.
Qual formato de articulação ou organização política você imagina que esse trumpismo social assuma sem a liderança presidencial de Trump?
Existem diferentes dimensões para abordar essa questão. O trumpismo não é uma formação unitária, de um único tipo. Existe a alt-right, que imagino que vai continuar atuando como de costume. São neonazistas, fascistas, racistas radicais que, sempre que puderem, tentarão provocar distúrbios e ataques. Eles têm estado surpreendentemente silenciosos nas últimas semanas e tenho certeza de que estão se reagrupando e repensando sua estratégia, mas não vão embora. Depois, há aqueles que Trump mobilizou para acreditar que a eleição foi roubada, mas que não são necessariamente da extrema-direita. Fico feliz em ver que esse número está diminuindo. Provavelmente, apenas metade do Partido Republicano acredite, atualmente, que a eleição foi fraudada, mas mesmo assim, ainda há muitos eleitores. E com isso me sinto meio paralisada, porque, sem dúvida, Trump vai mobilizá-los para recuperar a Casa Branca; com certeza, eles já têm vitórias no Senado e nas legislaturas locais — o quanto as vitórias republicanas alcançaram nas eleições locais foi impressionante — então eles já têm uma boa base para operar.
Acho que a grande questão é se a ala de esquerda e a ala de centro dos democratas poderiam combinar-se para construir uma alternativa mais poderosa e atraente. Esta é a pedra angular de toda a situação atual. A esquerda não pode romper, mas o centro também não pode se dar ao luxo de empurrar a esquerda pra fora do trem. Porque é aí que estão os millennials, o Black Lives Matter, o ativismo LGBTI, o movimento MeToo… É onde está todo o ativismo. E se eles não ganharem nada com este governo, se forem ocultados, ou negados, como companhia vergonhosa, eles não voltarão a apoiar um candidato democrata, nem voltarão a participar da política eleitoral. Esta é a primeira vez em décadas que a esquerda participa tão ativamente. Muita gente da esquerda já tinha votado antes, mas esta é, provavelmente, a primeira vez desde os anos 1930 que a esquerda se engaja na política eleitoral como se tivesse futuro para um projeto de esquerda, social-democrata ou socialista. Se isso for subtraído do Partido Democrata, como se não fosse nada — que é o que eu acho que alguns centristas querem fazer — será o fim do Partido Democrata. Se esse acordo for quebrado, o Partido Democrata está acabado.
Como avaliar o impacto da mobilização mais recente do Black Lives Matter, mas também dos movimentos feministas e LGBTI? Sua capacidade de instaurar um termo como “racismo estrutural” na campanha trouxe que tipo de consequências? Como a sua força entra em jogo, de agora em diante?
No momento, essa é a grande questão. Temos, de um lado, o Black Lives Matter, as feministas, os movimentos pelos direitos dos migrantes, pela Justiça Climática, o Extinction Rebellion e muitos outros. Enfim, um grande leque de ativismos que se mobilizou para a eleição, mas que entendeu imediatamente que deveria voltar ao seu trabalho nos movimentos sociais. Não vamos conseguir nada vindo de dentro [do governo], a menos que os movimentos continuem crescendo. Os movimentos sociais de esquerda, os populismos de esquerda não podem permitir que toda a energia dos movimentos sociais seja desviada para a política legislativa e eleitoral, onde seria neutralizada e diluída. Em vez disso, os movimentos têm que voltar às ruas, têm que voltar à organização e a mobilizar as pessoas que ainda não participam. Por exemplo, a população latina ao longo da fronteira com o Texas, que apoiou fortemente Trump — em parte, porque são famílias de segunda e terceira geração que, em muitos casos, trabalham para o ICE, nossa agência de deportação, ou são pequenos empreendedores, ou têm pequenos comércios — foi organizada e mobilizada pelo Partido Republicano, que apelava à ideia de liberdade, a valores sociais conservadores e ao medo do que os democratas poderiam fazer com eles. Enquanto isso, os movimentos sociais e o Partido Democrata nem sequer se aproximaram deles. Os movimentos sociais precisam crescer, precisam sair das bolhas, sair para se organizar. Estou falando da organização convencional, o tipo de organização que sai do Facebook e das redes sociais e vai ao encontro do ser humano em seus bairros, em suas casas, em suas comunidades, onde essas pessoas vivem e, mobilizando-as por mundos melhores, torna-se parte dessas comunidades. Se isso não acontecer, os movimentos sociais continuarão sendo um estímulo efetivo para a política eleitoral, mas não terão o poder real de fazer cumprir suas reivindicações, nem crescerão para além da população basicamente urbana com a qual já dialogam hoje.
Você diria que o fantasma do socialismo, que rondou a campanha contra a ideia de liberdade, foi realmente eficaz, que ele tem capacidade real de interpelação, ou seria uma coisa mais midiática?
Acho que o discurso contra o socialismo foi usado de forma muito eficaz pela direita. Um dos presentes que o neoliberalismo deu ao conservadorismo, foi o de continuar a demonizar o socialismo e a social-democracia, muito além do “espectro” do comunismo representado pela União Soviética e até pela China. A ideia, por exemplo, de uma política de estado responsável em torno da covid-19, que impusesse distanciamento social, o uso de máscaras e os fechamentos necessários para conter o vírus, foi acusada de ser socialista, totalitária. Reações semelhantes suscitaram esforços para estabelecer um Programa Nacional de Saúde que garantisse o acesso aos serviços para toda a população do país — este também foi qualificado como socialista e totalitário. Essas reações não vêm do velho discurso da Guerra Fria, vêm da demonização neoliberal do Estado de bem-estar. Penso nas sociedades onde o sentimento de precariedade já era muito grande, onde a ideia do estado força você a fechar o seu negócio por um mês, ou fechar a escola por três meses, para conter o vírus, parecia catastrófica. A direita chama essas ações do Estado de “socialismo” e responde dizendo: “precisamos de liberdade”, “precisamos abrir nossos negócios”, “todos temos direito de trabalhar”. Acho que tudo isso teve um grande poder de ressonância e mobilizou muito os eleitores de Trump.
No livro você fala sobre cultivarmos perspectivas de esquerda: como poderíamos repensar uma noção de liberdade que não seja conjugada nos termos de uma liberdade ingênua, ou rapidamente capturada em termos liberais, e que também não seja absorvida pela ideia de liberdade que o neoliberalismo conseguiu atrelar à ideia de segurança?
Qual seria, então, o conceito de liberdade capaz de fugir desses outros dois? O mais importante para os norte-americanos — e não acho que seja necessariamente o mesmo desafio que enfrentam os brasileiros, argentinos ou chilenos, porque vocês têm uma tradição mais robusta em termos de socialismo e social-democracia, tanto em termos intelectuais quanto num nível mais popular — é que a esquerda possa explicar e fazer circular, em termos muito simples, uma noção de liberdade que se conecte com o cerne do socialismo. Uma noção de liberdade que envolva o livrar-se da carência, ser livres do desespero e da precariedade, livres do desamparo de não ter moradia. “Liberdade de”, mas também “liberdade para”: liberdade para realizar nossos sonhos, e não apenas sobreviver; liberdade de escolher, não simplesmente de abortar ou de com quem dormir – que é importante –, mas também de construir vidas, construir comunidades e mundos nos quais todos tenhamos vontade de viver. Se não trabalharmos imediatamente na ressignificação da liberdade, para torná-la um conceito que afirme as visões da esquerda, para afastá-la desse tipo de reiteração libertária, agressiva, antissocial e antiestatal, perderemos essa batalha.
Porque muitas dessas pessoas das quais eu falo, que vivem na precariedade, sentem que a liberdade é a única coisa que lhes resta, é a única coisa que pensam que têm. Elas se sentem abandonadas e descartadas; com tanta coisa acontecendo no mundo, se sentem bombardeadas por poderes que não entendem; se sentem como objeto de desprezo por um mundo mais sofisticado — e se apegam ao que chamam de liberdade, mas nós temos que ressignificar essa liberdade. A liberdade deve criptografar não apenas a solidariedade e o bem-estar social, mas também a capacidade de vivermos em um ambiente sustentável e protegido que, atualmente, está sob enorme perigo. É assim que a liberdade nos envolve e atinge. E é inútil dizer que recuperar a liberdade é livrar-nos de algum peso, ou falar de liberdade apenas como abolicionismo, ou liberdade como sinônimo de livrar-nos da polícia. Tudo isso pode até ser verdade, mas não vai seduzir ninguém. O que seduz é a liberdade como algo com o que se constrói a vida.
Nota do autor: A história é contada com licença poética, mas a partir de documentos históricos.
por Leonardo Louzada
A FESTA COM GOSTO DE RESSACA
PARTE 06-09
Após o congresso em Barbacena que elegeu BH como a cidade que seria a futura capital, chegaram alguns despachos telegráficos em BH, depois vários mensageiros a cavalo espalharam a boa nova, a sensação era de copa do mundo.
Como ainda não tinha a praça sete, para ser o palco das celebrações, Sabarenses desceram de cavalo até o largo da igreja para comemorar junto com os Horizontinos ( era assim que a galera de era chamada).
E o pau cantou a noite inteira, fogueiras, gritos de vivas, tiros (como se fossem fogos), e muita música por todo arraial.
Pode ser dizer que ali teve o primeiro carnabelô, e tinha ate uma dupla, não sei se sertaneja, mas que Abílio Barreto descreve assim, “Candido de Araujo e Bento Epaminondas, o originalíssimo, causídico, gordalhudo e pilhérico, que se cognominava “o terror dos tratantes”.
E a galera se esbaldou a noite inteira na companhia do Correte e da Catuaba, e foi carnaval por mais de 10 dias, pela manhã os vizinhos se abraçavam, nas casas das famílias mais abastadas rolava os bailinhos, e a galera eufórica corria pelas ruas, gritando viva, poderia ate escutar um “ahh uhuu a capital é nossa, ahh uhuu a capital é nossa”.
E mineiro é nego bruto demais, e para comemorar não importa se de manhã ou noite, estouravam dinamites e foguetes por toda a parte, e a medida que a noticia se espalhava nas regiões mais longínquas como onde hoje é a praça da liberdade, e na fazenda do leitão (onde hoje é a prudente de morais), a população mais pobre abraçava a ideia. As cafuas só faltou as plaquinhas “Bem vindo Capital”.
A igreja não poderia ficar de fora, na Matriz da Boa Viagem três dias de pau quebrando, missas, quermesses, o vigário da paroquia o padre Francisco Martins Dias, fez um belíssimo discurso no ultimo dia e lembrou do seu xará padre Francisco Arantes que já havia rezado com outros curralenses, e cravado que BH seria a capital de Minas.
Na igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos Pobres, canções africanas ecoavam, seria uma nova ordem aos negros, uma nova cidade, uma nova chance, a escravidão recém terminada ali não teria vez, era um mundo novo, um mundo de todos.
Em Sabará uma grande festa, daqueles bailes dígnos de conto de fadas, porém restrito apenas as famílias mais ricas e abastadas da região.
Convidaram os Ouro Pretanos, que não foram estavam putos com a derrota. Inclusive os Ouro Pretanos já começam a cornetar e a criticar, e dizer essa capital nunca vai sair, não tem tempo hábil para demolir um arraial, preparar o solo, construir uma cidade e mudar a capital em quatro anos, prazo final estabelecido pela Lei n. 3, adicional a Constituição.
E ainda riram de BH, dizendo que nem estrada de ferro tinha, pobre capital pequena e pobre não sairá do desejo de alguns, inclusive corria a boca pequena que alguns congressistas votaram em BH em detrimento de Várzea do Marçal, por acreditar que a obra não ficando pronta, Ouro Preto continuaria como capital, ledo engano.
Abílio Barreto, relata que enquanto aqueles, com a alma confrangida por um desalento inenarrável, viam a perspectiva do declínio, da decadência completa de sua historia e venerável cidade natal, os horizontinos, nascidos em um arraial humilde, quase sem história, antegozavam a felicidade de ver, dentro em pouco, esse mesmo arraial transformado milagrosamente na grande e moderna cidade, que seria a maior glória do Estado e, por isso, vibravam no apogeu do jubilo e do entusiasmo.
E naquela expectação ansiosa, em posturas diametralmente opostas, aqueles dois povos caminharam para os dias do futuro...
Mas nem tudo são flores, ali seria uma grande cidade, mas seria uma grande cidade para quem ?
E após a euforia, veio a realidade, a cidade não seria dos Curralenses ou dos Horizontinos, a cidade seria de Ouro Preto. Seria da capital, seria da elite, as pessoas mais pobres, temiam por suas cafuas, eram pobres, mas eram limpinhos, os tambores, atabaques e chocalhos se calaram na igreja do Rosário.
Até a população da Rua General Deodoro da Fonseca, Rua do Capão, Rua Sabará, ficou apreensiva, pois a ideia do novo, de moderno era incompatível com atual situação.
Belo Horizonte, ainda era a Curral Del Rei, do império e assim com Ouro Preto, era inadequada era o contraste com o progresso, não passava de uma sertão rústico, inculto, caipira, era um roça que queria ser grande totalmente alheias as conquista da ciência e da tecnologia.
Em um relatório da comissão construtora traz a seguinte colocação “Aquele território, quase intocado pelo homem, é descrito como algo quase sublime: o "céu puríssimo", as "serras verdejantes", as "casinhas derramadas pelas encostas" "sossegadas e mudas"; "por que trocar a paz deste arraial pelos ruídos e bulício incontinenti das grandes cidades!?”
Acaba que moradores do Curral Del Rei, protagonizam a tragédia do desenvolvimento; são seduzidos pelo progresso e ao mesmo tempo se tornam suas vítimas.
Será este Parque o mais importante e grandioso de quantos há na América...
Várias construções de gosto enfeitarão este belo jardim, proporcionando vários entretenimentos aos passeantes..." (Aarão Reis - Comissão Construtora).
Um projeto gingante, audacioso, Aarao Reis, gostava tanto do local do parque, que até foi morar lá, quando ainda era a Chácara do Sapo, do seu amigo Guilherme Vaz de Mello.
Ele queria uma coisa grande, com um grande rio passando pelo parque por isso destinou quase 600 mil metros de quadrados para o parque ser uma ilha de descansos no meio da cidade.
Chamou o arquiteto-jardineiro francês, Paul Villon para tocar o projeto.
A ideia era fazer o maior parque da América Latina, e teve como inspirações o Central Park nos Estados Unidos, o Hyde Park na Inglaterra e Bois de Boulogne da França.
Em seu projeto inicial é tema deste post e mostrar o que teria no parque como.
=> Uma linda casa que serviria de Cassino
=> Um lindo Observatório metereológica na parte alta do parque (onde hoje está o Palácio das Artes)
=> Uma Ponte rústica de quase 30 metros.
=> Um prédio onde seria o restaurante. Além de,
=> Um majestoso portão de entrada, digno dos grandes parques do mundo.
Nenhum desses foi construído, do projeto inicial apenas a concha acústica e o coreto, coreto esse que nem foi construído, já tinha uma que ficava na praça do Mercado (hoje rodoviária) apenas no início da década de 20, e que foi pro parque.
O parque começa a ser mutilado logo no início do século passado, para se ter uma ideia o parque ia até mais ou menos onde hoje temos a Francisco Salles, e pegava toda região ali do bairro floresta, mas a questão de logística e segurança limitaram o parque pela linha férrea e logo pelo arrudas.
Então o parque ficou da Rua da Bahia, Margeando o Arrudas, até a avenida Francisco Sales e Alfredo Balena, até avenida Afonso Pena.
Em 1913, a faculdade de medicina, morde mais uma beirada do Parque, que ficou muito mutilado.
Para “acertar” o parque, o governo teve que dar parte para o América, para indenizar, já que precisava do campo da avenida Paraopeba para construir o mercado central.
Apenas em 1968, fica proibido edificar dentro do parque.
Apenas o Francisco Nunes, que começou em 1950 como teatro de emergência já que JK tinha dado o Teatro Municipal para família de Luciano.
O Palácio das artes iniciou as obras em 1941, cada ano colocam um tijolo na parede com a Lei de 1968, deram o prazo de 5 anos para finalizar sob pena de ter que derrubar o que já existia.
E em 1971 finalizaram as obras. O projeto de Oscar Niemayer prévia uma passarela até a Afonso Pena.
O parque é ainda o nosso maior espaço democrático.
Algumas curiosidades :
=> O parque foi cenário e local de criação do clube Atlético Mineiro em 1908
=> em 1924, Olégario Maciel, para fugir da Maldição da Maria Papuda, em vez do Palácio do Governo optou por morar no parque municipal.
Nota do autor: A história é contada com licença poética, mas a partir de documentos históricos.
ESPECIAL BH 123 ANOS!!!
O NOME DA NOVA CAPITAL!!
PARTE 4-9
Em 1891, com o republicanismo em alta, resolveram trocar de nome tudo aquilo que remetia ao império.
Uns desses nomes era o de Curral Del Rey, mas que para surpresa de muitos não tinha a ver com o Rei em si.
E sim com Tomé Portes d’el Rei, filho de João Portes de El-Rei.
Tomé pode se dizer um dos fundadores (ou descobridores) da cidade histórica de São João Del Rei, que na época era chamadas de “Arraial Novo do Rio das Mortes”.
Ele, Borba Gato (Sabará), João Leite Ortiz ( aqui de Bh) lá por 1700 e poucos, adoravam uma treta e logo estavam envolvidos nos esquemas da Guerra dos emboabas.
São João del Rei quase foi capital de Minas, pois ao seu lado estava localizada a Várzea do Marçal.
Voltando ao nome, Tomé Del Rei, tinha um curral, em que ele alugava por pernoite, para que servisse de pouso para comitivas de gados antes de seguir pra Bahia, já que havia demora no posto de Fiscalização e contagem das cabeças de gado, de escravos e mercadorias que eram taxadas, (por isso a cidade onde se localizava o posto chamava Contagem).
As comitivas de vários lugares se referiam a Região dizendo -
-Vamos passar a noite lá no Curral!
- Qual Curral ?
- o Curral del Rei..
Mas pouco importava ser era sobrenome ou não de rei , o nome pós república tinha que mudar, e logo após rezarem ao pé da Cruz do Morro do Cruzeiro, começaram as sugestões.
Um sugeriu, nova capital, vamos chamar de TERRA NOVA. Outro, “já que estamos aqui vamos colocar o nome de SANTA CRUZ, assim abençoa sempre a capital” . Um fanático da época sugeriu “nada melhor que CRUZEIRO”, mas como naquela época não haviam muitos gordinhos a galera com o corpo mais atlético já refutou a ideia.
Um maroto fumando seu cigarrinho de palha, pensou nós vamos derrubar as árvores, e colocar concreto em tudo, então que tal NOVA FLORESTA.
Até que um, do alto da sua filosofia disse, veja, uma nova capital, um novo momento, uma nova vida, um NOVO HORIZONTE.
Aí que chega José Carlos Vaz de Melo, “veja a beleza dessa terra, mas não basta ser apenas novo é preciso ser belo, é preciso ser um BELLO HORISONTE."
Todos felizes com o novo nome da cidade e assim, ela estava sendo apresentada. E foi eleita como nova capital.
Mas como em BH tudo é difícil, já próximo da inauguração, começaram a achar o nome pobre, simplório, que não refletia a capital de minas, precisava de um nome mais robusto.
Afinal diferente de tantas outras, aquela era “ a cidade”, aquela viria a ser
A CIDADE DE MINAS !!!
Nome que não agradou também.
Perguntam sempre que cidade? A cidade de minas? Mas qual cidade, aí não chegava sedex, nem uber nem ifood, até que..:
Em 1901, o presidente do Estado, Silviano Brandão, sancionou a lei que designava o nome
BELO HORIZONTE !!!
Para muitos pode ser BH, Belori, Belzonte, Beaga, pra gente é casa.
Nota do autor: A história é contada com licença poética, mas a partir de documentos históricos.
ESPECIAL BH 123 ANOS
REVIRAVOLTA NA ESCOLHA.
PARTE 03-09
Dando prosseguimento ao congresso de 1893, declaramos então Várzea do Marçal como local para nova capital, e se houver algo contra essa escolha fale agora ou cale-se para sempre.
- Sim, eu tenho!!!!!!
Gritos de ohhhhh, ecoam no salão, quem seria o forasteiro ?
Não era um forasteiro, era o deputado Duarte da Fonseca, parlamentar de boa oratória, que subiu ao parlatório, de posse da ata de assembleia do Banco Regional de Minas, banco em situação falimentar que viu em Várzea do Marçal a solução dos seus problemas
O banco estava de posse de terras devolutas em todas as regiões onde a capital seria erguida, mas o lugar onde se concentrava a maior parte das terras era justamente em Várzea do Marçal, quase o dobro das terras que banco tinha em Belo Horizonte.
O deputado acusa a comissão de conspirar com o Banco Regional de Minas, que refutou as acusações.
O Presidente da Comissão diz ter tomado os devidos cuidados para que vedasse as tentativas de sindicalizar.
Para entenderem a situação, o banco estava quebrado, a beira da falência, mas possuidor de grande monta de terras devolutas; em tal assembleia, o banco aumenta a participação dos acionistas e aceita aporte de capital, dentre os acionista vários membros da politica e da elite mineira ( e da comissão construtora).
Com a quebra do banco, não havendo dinheiro, seriam distribuídos os bens, que seriam as terras devolutas, os acionistas do banco seria donos de quase toda a terra a ser desapropriada e indenizadas.
Subiu a tribuna o Senador Xavier da Veiga, e como capitão nascimento falou "O Sistema é Foda, parceiro. Entre político, sai político, continua tudo na mesma, nada muda. Ainda vai levar muito tempo para consertar essa porra, e muita gente inocente vai morrer no meio do caminho”.
Nessa época o Brasil só tinha dois anos de republica.
Então na verdade o discurso foi: VExa. sabe perfeitamente que consta do Diário Oficial haver se efetuado assembleia geral do Banco Regional de Minas, para o fim referido pelo nobre Deputado Sr. Duarte da Fonseca, comparecendo os acionistas; isto é, aqueles que são imediatamente interessados na gestão ou na liquidação do estabelecimento. A diretoria disse-lhes, com a maior franqueza, conforme consta da ata.
E vejam essa parte final que consta da Ata de reunião do Banco:
“não podemos ser muito explícitos trata-se de negócio reservado, mas tranquilizai-vos; agentes nossos estão a serviço da instituição.”
Depois de esfuziantes discussões e votações resolveram apresentar Novo Parecer.
Novo Parecer
A "Comissão Especial" apresenta para quarta discussão, na fórmula do artigo 148 do regimento do senado, as emendas seguintes e aprovadas em terceira discussão :
1º em vez de – Várzea do Marçal - diga-se - Belo Horizonte.
Nota do autor: A história é contada com licença poética, mas a partir de documentos históricos.
O NASCIMENTO DA NOVA CAPITAL
A ESCOLHA - PARTE 02-09
Em 1891, já estava decidido que Minas precisaria de uma nova capital. A prefeitura de Ouro Preto, não agrada da ideia e ainda tenta até criar a Empresa de Melhoramentos da Capital, que visa a modernização de Ouro Preto.
Verdade seja dita, sempre implicaram com Ouro Preto como capital. Os inconfidentes, em 1833 tentaram levar a capital para São João Del Rei, em 1843 Mariana tentou dar o golpe e voltar a ser capital, em 1851, o presidente de minas Ricardo Sá de Rego, também tentou tirar a capital dali.
Até que em 1867 por meio do decreto do deputado Padre Agostinho de Souza Paraíso, derrubam Ouro Preto da condição de capital, mas os Ouro-Pretanos quebraram o pau e não aceitaram e a cidade continuou como capital.
Em 1891 na surdina, na calada da noite durante o congresso mineiro o Augusto de Lima, na canetada, diz ser impossível a capital continuar em Ouro Preto e que a transferência já era necessária e já solta a bomba:
“nenhum outro lugar reúne maior soma de condições para o fim em vista do que o planalto denominado Bello Horizonte, no Vale do Rio das Velhas, no Município de Sabará, onde possui o Estado considerável extensão de terrenos".
Nisso já rolou os buchichos,
“A lá mano, o cara achando que é ele quem manda,”
o outro já soltou “A única parte que gosto do Augusto de Lima, é quando chega no mercado central”
até que um grita..
O Gutão, não é assim não... chega aqui pra mode de nois prosear um pouco.
Era Afonso Arinos que chama o Augusto de Lima no canto e fala "Augusto aproveita que lá no mercado central você tá do lado do Bias Fortes e troca uma ideia com ele”
A galera gostava do Bias Fortes que tinha passado o bastão do Governo há pouco tempo.
Bias Fortes, maroto e bom político que era, já se coloca ao lado de Augusto de Lima e monta a comissão dos 11, apelida de os 11 homens e um segredo, Composta pelos representantes 3 da Zona da Mata, 1 do Sul, 2 do norte, 2 do nordeste, 3 do centro.
A única regra era “Fica mudada a capital para um ponto central, no vale do Rio das Velhas, que se presta à edificação de uma grande cidade com as indispensáveis condições higiênicas” .
Ocorre a primeira briga e depois de um discussão generalizada onde cada um puxava a sardinha pro seu lado. Depois de vários e vários discursos de representantes dentre eles o de planalto de Catas Altas do MatoDentro, no Vale do Rio Doce; o de planalto do Piuí; Várzea do Marçal, no Vale do Rio das Mortes; Barbacena, Juiz de Fora...
No fundo do congresso uma turma estava com um sorrisinho na boca e adorando a situação. Eram os antimudancistas (serio, eram chamados assim), e o caos para eles estava ótimo pois assim Ouro Preto reinaria, entre eles tinha um Juiz que ficava fazendo inferninho com os outros.
Gritarias e confusões até que Adalberto Ferraz, já chega, chegando, gritando arreda ai.,.. sobe no palco e diz “ não dá para ser essa zorra não, então vamos botar ordem na casa. Augusto desculpa, mas vamos colocar mais opções além de Belo Horizonte, eu vou escolher Paraúna, Barbacena e Várzea do Marçal.
A comissão anotando tudo, até que o Juiz Antimudancista quis a palavra e Adalberto Ferraz já putasso gritou “Sr. Juiz, Fora”; a galera da comissão entendeu que ele disse Juiz de Fora. E assim foram as 5 cidades escolhidas para ser a nova capital.
No final deliberam e Augusto de Lima, já desistia do governo provisório, e passava o bastão para Jose Cesário de Faria Alvim , que simpatizava com os antimudancistas... mas que não ficou nem um ano no poder.
Em 1892, chega o Afonso Pena e cobra da comissão os resultados, afinal o tempo urge e uma capital precisa nascer.
No Congresso de 1892 a população de Ouro Preto, invade o plenário aos grito de “não vai ter nova capital “ “Se não tiver direitos, não terá capital” , enquanto os republicanos rebatiam “não se faz capital com hospitais” e eles com gritos de “Quero Ouro Preto no padrão fifa.”
Em 1893 os 11 homens e um segredo, marcam o congresso, mas ameaças de bombas e revolta da população impedem que ocorra, ( segundo a CUT eram cercasse 7 milhões de ouro pretanos, manisfestando e segundo a PM eram apenas 100 pessoas) e mesmo quando conseguiam realizar o congresso as discussões e debates acirrados os impediam de tomar decisões.
E na surdina, levam o congresso para Barbacena, o tempo era curto para tomar a decisão. Mas não foi fácil, várias estratégias foram utilizada de obstrução, petição dirigida ao Congresso pelo povo ouro-pretano repudiando aquela transferência inédita da sede do Legislativo estadual.
Tudo posto em pauta, assaram uns pães de queijo, galera ficou mais calma.
Aarão Reis, toma a palavra e afirma que depois de muitos estudos duas localidades foram aprovadas e que seria ali definida qual seria a nova capital e que seriam Belo Horizonte e Várzea do Marçal.
Suficientes para quebrar o pau entre todos, que alegavam que a disputa ficou entre Várzea do Marçal que era um brejo Alagadiço e Belo Horizonte, a cidade das papudas, terra sem higiene tomada pelo bócio. E que era absurdo não ser Barbacena ou Paraúna. Juiz de fora nem entrou na briga, afinal eles queriam era tomar o lugar do Rio como capital do Brasil.
Tudo indicava que Belo Horizonte, já tinha liquidado a fatura, e tinham os votos necessários para ser escolhida como capital, e já cantavam vitória.
Ni qui, a galera de São João Del Rei, se une aos deputados da Mata e do Sul, que coincidentemente compraram as terras devolutas da Várzea do Marçal , por meio de financiamento do Banco Regional de Minas.
Se aproximam do centrão,que toma partido, e a comissão do seu parecer e escolhe a Nova Capital.
Belo Horizonte não possui topografia adequada, tem insuficiência de água, solo pobre para lavoura, só tem pecuária, por isso o nome curral, então decretamos que a Nova Capital será instalada na VÁRZEA DO MARÇAL, desculpa BH, fica pra próxima.
Afonso Pena decreta a capital será construída em Várzea do Marçal , no prazo máximo de quatro anos.