sábado, 19 de dezembro de 2020

A Festa com gosto de ressaca

 ESPECIAL BH 123 ANOS 

 Nota do autor: A história é contada com licença poética, mas a partir de documentos históricos. 

por Leonardo Louzada 

 A FESTA COM GOSTO DE RESSACA

 PARTE 06-09

 Após o congresso em Barbacena que elegeu BH como a cidade que seria a futura capital, chegaram alguns despachos telegráficos em BH, depois vários mensageiros a cavalo espalharam a boa nova, a sensação era de copa do mundo. 

 Como ainda não tinha a praça sete, para ser o palco das celebrações, Sabarenses desceram de cavalo até o largo da igreja para comemorar junto com os Horizontinos ( era assim que a galera de era chamada). 

E o pau cantou a noite inteira, fogueiras, gritos de vivas, tiros (como se fossem fogos), e muita música por todo arraial. Pode ser dizer que ali teve o primeiro carnabelô, e tinha ate uma dupla, não sei se sertaneja, mas que Abílio Barreto descreve assim, “Candido de Araujo e Bento Epaminondas, o originalíssimo, causídico, gordalhudo e pilhérico, que se cognominava “o terror dos tratantes”. E a galera se esbaldou a noite inteira na companhia do Correte e da Catuaba, e foi carnaval por mais de 10 dias, pela manhã os vizinhos se abraçavam, nas casas das famílias mais abastadas rolava os bailinhos, e a galera eufórica corria pelas ruas, gritando viva, poderia ate escutar um “ahh uhuu a capital é nossa, ahh uhuu a capital é nossa”.

 E mineiro é nego bruto demais, e para comemorar não importa se de manhã ou noite, estouravam dinamites e foguetes por toda a parte, e a medida que a noticia se espalhava nas regiões mais longínquas como onde hoje é a praça da liberdade, e na fazenda do leitão (onde hoje é a prudente de morais), a população mais pobre abraçava a ideia. As cafuas só faltou as plaquinhas “Bem vindo Capital”. 

 A igreja não poderia ficar de fora, na Matriz da Boa Viagem três dias de pau quebrando, missas, quermesses, o vigário da paroquia o padre Francisco Martins Dias, fez um belíssimo discurso no ultimo dia e lembrou do seu xará padre Francisco Arantes que já havia rezado com outros curralenses, e cravado que BH seria a capital de Minas. 

 Na igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos Pobres, canções africanas ecoavam, seria uma nova ordem aos negros, uma nova cidade, uma nova chance, a escravidão recém terminada ali não teria vez, era um mundo novo, um mundo de todos. 

 Em Sabará uma grande festa, daqueles bailes dígnos de conto de fadas, porém restrito apenas as famílias mais ricas e abastadas da região. 

Convidaram os Ouro Pretanos, que não foram estavam putos com a derrota. Inclusive os Ouro Pretanos já começam a cornetar e a criticar, e dizer essa capital nunca vai sair, não tem tempo hábil para demolir um arraial, preparar o solo, construir uma cidade e mudar a capital em quatro anos, prazo final estabelecido pela Lei n. 3, adicional a Constituição. E ainda riram de BH, dizendo que nem estrada de ferro tinha, pobre capital pequena e pobre não sairá do desejo de alguns, inclusive corria a boca pequena que alguns congressistas votaram em BH em detrimento de Várzea do Marçal, por acreditar que a obra não ficando pronta, Ouro Preto continuaria como capital, ledo engano.

 Abílio Barreto, relata que enquanto aqueles, com a alma confrangida por um desalento inenarrável, viam a perspectiva do declínio, da decadência completa de sua historia e venerável cidade natal, os horizontinos, nascidos em um arraial humilde, quase sem história, antegozavam a felicidade de ver, dentro em pouco, esse mesmo arraial transformado milagrosamente na grande e moderna cidade, que seria a maior glória do Estado e, por isso, vibravam no apogeu do jubilo e do entusiasmo. 

E naquela expectação ansiosa, em posturas diametralmente opostas, aqueles dois povos caminharam para os dias do futuro... 

 Mas nem tudo são flores, ali seria uma grande cidade, mas seria uma grande cidade para quem ?

 E após a euforia, veio a realidade, a cidade não seria dos Curralenses ou dos Horizontinos, a cidade seria de Ouro Preto. Seria da capital, seria da elite, as pessoas mais pobres, temiam por suas cafuas, eram pobres, mas eram limpinhos, os tambores, atabaques e chocalhos se calaram na igreja do Rosário. 

 Até a população da Rua General Deodoro da Fonseca, Rua do Capão, Rua Sabará, ficou apreensiva, pois a ideia do novo, de moderno era incompatível com atual situação. Belo Horizonte, ainda era a Curral Del Rei, do império e assim com Ouro Preto, era inadequada era o contraste com o progresso, não passava de uma sertão rústico, inculto, caipira, era um roça que queria ser grande totalmente alheias as conquista da ciência e da tecnologia. 

 Em um relatório da comissão construtora traz a seguinte colocação “Aquele território, quase intocado pelo homem, é descrito como algo quase sublime: o "céu puríssimo", as "serras verdejantes", as "casinhas derramadas pelas encostas" "sossegadas e mudas"; "por que trocar a paz deste arraial pelos ruídos e bulício incontinenti das grandes cidades!?”

 Acaba que moradores do Curral Del Rei, protagonizam a tragédia do desenvolvimento; são seduzidos pelo progresso e ao mesmo tempo se tornam suas vítimas. 

 E como seria erguida a capital ? 

 Continua.......








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