sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Sambódromo,no Rio, faz 30 anos: relembre os bastidores



Em seu primeiro mandato como governador do Rio de Janeiro (1983-1986) Leonel Brizola constrói o Sambódromo, hoje Passarela Darcy Ribeiro, com o objetivo de institucionalizar espaço próprio para grandes eventos, além do próprio carnaval, abrigando ainda no seu interior 260 salas de aula, atendendo cerca de 1000 alunos em período integral, e um Centro de Demonstração para treinamento e reciclagem do magistério estadual do RJ. A obra tinha por objetivo acabar com os gastos que anualmente eram efetuados na montagem e desmontagem da estrutura do carnaval.

Este projeto do governo Brizola sofreu grande oposição por parte da Rede Globo, transmissora do Carnaval e que se recusou a transmitir o primeio ano de desfiles na avenida.

Depoimento de Oscar Niemeyer, arquiteto do Sambódromo (Passarela Darcy Ribeiro):
"Governador do Estado do Rio de Janeiro, Brizola me convocou novamente: queria construir os Cieps e o Sambódromo, o que, apesar do ambiente desfavorável em que vivíamos, juntamente com Darcy Ribeiro e José Carlos Sussekind, acabou concluindo com o maior êxito.

Como foi difícil para ele essa tarefa! Contra a realização do Sambódromo tudo foi tentado. Diziam que o tempo era curto demais, que a época das chuvas chegava e até para um riacho, que afirmavam correr por baixo das arquibancadas projetadas, apelavam. Nada o demoveu. Inflexível, Brizola tudo fez no curto prazo que tinha pela frente.

O Sambódromo está construído - a grande festa popular que os nossos irmãos mais pobres lhe devem e de que os mais ricos, inclusive os que o criticavam, usufruem até hoje".


BRIZOLA    x   Dr. ROBERTO     
Sambódromo da Marquês de Sapucaí, construído em 10 meses (Foto: Google)
     Sambódromo da Marquês de Sapucaí, construído em 10 meses (Foto: Google)


Assistia à transmissão da apuração do Carnaval do Rio, quando a televisão mostrou uma bela imagem da praça da apoteose, onde está, realmente, a marca do saudoso arquiteto Oscar Niemeyer: aquele “M” arredondado parecendo a marca do Mc Donald’s. Você saberia  o significado daquela marca?

 –  Aquele  “M” foi uma homenagem enrustida do governador Brizola à Rede Manchete,  para irritar a Rede Globo, do arquiinimigo Roberto Marinho. A Minas Gerais, o governador Leonel Brizola homenageou às claras, dando o nome oficial do Sambódromo da Marquês de Sapucaí o nome oficial do professor mineiro Darcy  Ribeiro, de quem era amigo íntimo.

Até 1983, os desfiles das escolas de samba eram realizados em instalações provisórias e o custo de instalação das arquibancadas, além de não seguir processos licitatórios formais, encarecia o espetáculo. Isso tudo inviabilizava dar um salto de qualidade para tornar o evento mundialmente conhecido como um evento belo, e principalmente, organizado.

Em 1983 o recém empossado Leonel Brizola, guardava um ódio das empresas empreiteiras que, segundo suspeita teriam financiado irregularmente candidaturas concorrentes ao governo do estado (possivelmente as de Moreira Franco e Miro Teixeira), além disso a Rede Globo era seu alvo preferido após a descoberta do plano Proconsult que evitava sua vitória nas eleições de 82, diante de tudo isso a prioridade dada ao secretário da cultura (Darcy Ribeiro) era a de acabar com a mamata dos carnavais anteriores, e colocar tudo num patamar de profissionalismo que vemos hoje.

Nas eleições de 1982, vencida por Brizola para governador do Estado do Rio, houve grande confusão na apuração. Muito esperto, Leonel Brizola chamou a imprensa estrangeira para denunciar. Resultado: ganhou um aliado para fiscalizar a contagem dos votos. Consumada a vitória dele, assumiu em
O falecido Brizola em entrevisa coletiva    (Foto: Google)
O falecido Brizola em entrevisa coletiva
(Foto: Google)

março de 1983 e sob a batuta de Niemeyer conseguiu erguer o Sambódromo em 10 meses e deu exclusividade de transmissão do primeiro carnaval na nova passarela à Rede Manchete.
O jornalista Roberto Marinho
O jornalista Roberto Marinho

Claro que seria mais um pepino que o Dr. Roberto e Brizola entregariam para a justiça dar a palavra final. O governador e a Rede Manchete ganharam a demanda. Funcionários da Globo de todo  País foram convocados para reforçar o time do Fantástico no domingo de Carnaval daquele ano – 1984. Institutos de Opinião a postos para aferir a audiência das televisões brasileiras naquela noite e nos outros dias de Carnaval, veio a grande surpresa: a TV Globo Rio perdeu para a Manchete.

Bastidores:

À Rede Manchete caberia a felicidade de exibir com exclusividade o desfile, pois a TV Globo se mostrou desinteressada em desistir de sua programação normal em favor da transmissão do carnaval, alegando que não tinha condições técnicas para operar na Passarela do Samba durante dois dias. Havia também o fator político, pois a visibilidade do governador do Estado não interessava ao dono da emissora. No entanto, com os patrocínios anunciados pela Manchete, a Globo tentou reverter a situação às vésperas do carnaval, mas a emissora de Adolpho Bloch bateu o pé, justificando que havia um contrato de exclusividade, e que seus anunciantes já haviam pago por ele.

Montando uma equipe de comentaristas de primeiro nível e muito bem preparada tecnicamente, a TV Manchete se fez presente também no desfile de sexta-feira, dia 2 de março de 1984, quando a Passarela foi oficialmente inaugurada com a apresentação das escolas do Grupo 1B. Além de uma cabine central, comandada por Fernando Pamplona, Sérgio Cabral, Haroldo Costa, Albino Pinheiro, Juvenal Portela, José Carlos Rêgo e Maria Augusta, a emissora montou uma estrutura na Apoteose, onde quatro comentaristas (Adelzon Alves, Renato Sérgio, Aílton Escobar e Geraldo Carneiro) davam suas impressões sobre a ocupação das escolas naquele novo espaço, já que ali havia sessenta pontos em julgamento. O sucesso da transmissão seria tão grande que a vitória sobre a Globo no Ibope chegaria a ter picos de 61% a 2% no Grande Rio. (Do SambaRioCarnaval)


Do Conversa Afiada:

A Globo dizia
que o Sambódromo ia cair

Sai hoje o “Bloco do 12″ nos 30 anos do Sambódromo !
 
 
 
Niemeyer explica a Brizola que, apesar do jornal nacional, o Sambódromo ia ficar de pé ...

O Conversa Afiada reproduz convocação de Oswaldo Maneschy, fiel brizolista.

Como se sabe, 30 anos atrás, o Brizola entregou a cobertura exclusiva do primeiro desfile das escolas de samba no Sambódromo à TV Manchete, para desespero do Roberto Marinho.

Ah, que saudades do Brizola !

(Como se sabe, quando não há desfile, há salas de aula de um Brizolão no Sambódromo …

Bloco do 12, o bloco que faz

escola, sai hoje no Centro



Leonel Brizola e os 30 anos de fundação da passarela do samba serão lembrados nesta sexta-feira (28/2) por iniciativa dos pedetistas do Rio de Janeiro, no “Bloco do 12, o Bloco que Faz Escola” que vai animar o Carnaval no Centro da cidade a partir do meio-dia – com concentração no Largo Albino Pinheiro, entre o prédio da Fundação Leonel Brizola-Alberto Pasqualini, o Teatro João Caetano e o Real Gabinete de Leitura Português.

A homenagem a Brizola, Darcy Ribeiro e Oscar Niemeyer pela construção do sambódromo, será animada pelos integrantes da bateria da escola de samba Estácio de Sá e um trio elétrico.

Quando Brizola construiu o sambódromo, com o objetivo de ser também uma grande escola o ano inteiro, houve intensa campanha dos que a ele se opunham – dizendo que a passarela do samba ia cair, que não teria visibilidade para o desfile, que a sonorização não seria possível, etc. Ele foi construído no prazo recorde de 110 dias dando dignidade e grandiosidade ao desfile das escolas de samba e acabou definitivamente com o monta e desmonta das arquibancadas tubulares, fonte de corrupção, usadas durante anos.

No carnaval daquele ano, 1984, Darcy Ribeiro também introduziu várias mudanças, a principal delas a divisão do desfile das escolas do primeiro grupo em dois dias – para tornar o espetáculo melhor e menos cansativo para espectadores e participantes.

A participação no Bloco do 12 nesta sexta é livre, quem quiser pode se juntar na homenagem ao criador do sambódromo e fundador do PDT. Além de músicas de carnaval, será executado também samba especialmente composto para lembrar os 30 anos de fundação do sambódromo, de autoria de Reginaldo Bessa e Jacques Galinkin.

Veja o vídeo dos 30 anos do sambódromo

https://www.youtube.com/watch?v=Ik9CNSb-a3k&feature=player_embedded

 

PIB: Brasil tem o 3º melhor resultado do mundo. Isso porque estamos ¨afundando¨, não é ?

Brasil tem 3º maior crescimento no mundo

Por Rodrigo Viana e Igor Felippe
 
Urubulinos perderam de novo: Globo deveria colocá-los de volta nos programas de humor, e não nas colunas sobre economia

Há, sem dúvida, muitos problemas na economia brasileira: dependência excessiva de produtos primários, indústria estagnada e, principalmente, juros extorsivos – impostos pela chantagem dos grupos financeiros (associados à velha mídia corporativa). Ainda assim, o Brasil mostra força. Em meio à crise mundial, seguimos crescendo. Em 2013, nossa economia cresceu 2,3%, atrás apenas da Coréia do Sul e da China.

Era curiosa a manchete da “Folha” na internet,  nesta quinta-feira: “Brasil cresce mais do que o esperado e…” Êpa. Deram bandeira. Mais do que o esperado por quem? Agora há pouco a “Folha” resolveu corrigir a manchete: “Investimento reage e é destaque do PIB”. Destaque? Isso não é Carnaval, meu povo! Mas curioso porque um dos pontos para se pedir a demissão de Guido Mantega (o primeiro ministro da Fazenda que não se alinha automaticamente com o “mercado”, desde 1994) era justamente a falha do governo em induzir e atrair capitais para investimento.

Hum…

Mas deixemos os cães ladrarem… E vamos aos dados objetivos: o Brasil ficou atrás apenas de China e Coréia do Sul em 2013, no índice de crescimento do PIB (produção de bens e serviços da economia), entre as 13 economias que apresentaram seus dados, de acordo com seleção do IBGE.
É o que revela o Blog Radar Econômico, do Estadão. Isso mesmo: Estadão!!!

A China cresceu 5,7 pontos acima da média mundial, de 3,0%. Já a Coreia do Sul teve 2,8% de expansão.

A economia brasileira cresceu acima dos 1,9% de variação dos PIBs de África do Sul, Estados Unidos e Reino Unido. O terrorismo da velha mídia e do capital especulativo não foi suficiente para frear o crescimento no ano passado. O que vão dizer os tucanos, o Sardenberg e a Miriam Leitão?

Abaixo, leia o texto do IBGE sobre o crescimento da economia brasileira.

Em 2013, PIB cresce 2,3% e totaliza R$ 4,84 trilhões

Da Página do IBGE
Em relação ao terceiro trimestre, o PIB do quarto trimestre de 2013 cresceu 0,7%, levando-se em consideração a série com ajuste sazonal. Os serviços apresentaram expansão de 0,7%, a agropecuária teve variação nula e a indústria variação negativa de 0,2%.
Na comparação com o quarto trimestre de 2012, o PIB cresceu 1,9%, sendo que o valor adicionado a preços básicos aumentou 1,7%, e os impostos sobre produtos, 3,1%. Registraram crescimento a agropecuária (2,4%), os serviços (1,8%) e a indústria (1,5%).
No ano de 2013, o PIB aumentou 2,3% em relação a 2012, fruto do crescimento de 2,1% no valor adicionado e 3,3% nos impostos. Nessa comparação, a agropecuária (7,0%), os serviços (2,0%) e a indústria (1,3%) cresceram. Em 2013, o PIB em valores correntes alcançou R$ 4,84 trilhões. O PIB per capita ficou em R$ 24.065, apresentando uma alta, em volume, de 1,4%, em volume, em relação a 2012.
A publicação completa da pesquisa pode ser acessada na página www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/pib/defaultcnt.shtm
Em relação ao 3º tri de 2013, PIB cresce 0,7%
Na comparação com o 3º trimestre do ano, os serviços apresentaram expansão de 0,7%, a agropecuária teve variação nula e a indústria variação negativa de 0,2%.
Nos serviços, todas as atividades apresentaram resultados positivos, com destaque para serviços de informação (4,8%). Intermediação financeira e seguros cresceu 2,0%, seguida por outros serviços (1,2%), comércio (0,8%), transporte, armazenagem e correio (0,4%), administração, saúde e educação pública (0,4%) e atividades imobiliárias e aluguel (0,2%).
Dentre os subsetores que formam a indústria, a indústria de transformação registrou recuo de 0,9%, enquanto que a extrativa mineral e a construção civil mantiveram-se praticamente estáveis (-0,1% e 0,0%, respectivamente). Este resultado foi contrabalançado pela expansão observada em eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana (1,4%).
Pela ótica do gasto, todos os componentes da demanda interna apresentaram crescimento. A despesa de consumo da administração pública se expandiu em 0,8%, seguida pela despesa de consumo das famílias (0,7%) e pela formação bruta de capital fixo (0,3%). No que se refere ao setor externo, as exportações de bens e serviços cresceram 4,1%, enquanto que as importações apresentaram variação negativa de 0,1%.
PIB cresce 1,9% em relação ao 4º trimestre de 2012
Quando comparado a igual período do ano anterior, o PIB apresentou crescimento de 1,9% no quarto trimestre de 2013. Dentre as atividades que contribuem para a geração do valor adicionado, a agropecuária cresceu 2,4%. Os produtos agrícolas cujas safras são significativas no 4º trimestre e que registraram crescimento na estimativa de produção foram o trigo (30,4%), a cana de açúcar (10,0%) e o fumo (5,5%), enquanto a laranja (-14,8%) e a mandioca (-9,5%) tiveram queda, segundo o LSPA/IBGE divulgado em fevereiro de 2014.
A indústria apresentou expansão de 1,5%. Nesse contexto, a indústria de transformação apresentou crescimento de 1,3%. O seu resultado foi influenciado pelo aumento da produção de máquinas e equipamentos; material eletrônico e equipamentos de comunicação; outros equipamentos de transporte; perfumaria; refino de petróleo e álcool; e produtos de madeira. A construção civil também apresentou aumento no volume do valor adicionado de 2,4%, eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana apresentou crescimento de 3,4% e a extrativa mineral recuou 0,9% em relação ao último trimestre de 2012.
O valor adicionado de serviços cresceu 1,8% na comparação com o mesmo período do ano anterior, com destaque para os serviços de informação (7,6%). O comércio (atacadista e varejista) apresentou expansão de 2,9%, seguido por administração, saúde e educação pública (2,4%), transporte, armazenagem e correio (2,2%), serviços imobiliários e aluguel (1,5%) e Intermediação financeira e seguros (1,1%). Já a atividade de outros serviços apresentou recuo de 0,6% no trimestre.
Dentre os componentes da demanda interna, destaque para o crescimento de 5,5% da formação bruta de capital fixo, justificada pela expansão da produção interna de bens de capital. A despesa de consumo das famílias apresentou crescimento de 1,9%, sendo esta a 41ª variação positiva consecutiva nessa base de comparação. A despesa de consumo da administração pública cresceu 2,0% na comparação com o mesmo período de 2012. Pelo lado da demanda externa, tanto as exportações (5,6%) quanto as importações (4,8%) de bens e serviços apresentaram aumento.
Em 2013, PIB cresce 2,3% e PIB per capita cresce 1,4%
O PIB em 2013 acumulou crescimento de 2,3% em relação ao ano anterior. Em 2012, o crescimento acumulado no ano foi de 1,0%. Já o PIB per capita alcançou R$ 24.065 (em valores correntes) em 2013, após ter crescido (em termos reais) 1,4% em relação a 2012.
A expansão do PIB resultou do aumento de 2,1% do valor adicionado a preços básicos e do crescimento de 3,3% nos impostos sobre produtos líquidos de subsídios. O resultado do valor adicionado neste tipo de comparação refletiu o desempenho das três atividades que o compõem: agropecuária (7,0%), indústria (1,3%) e serviços (2,0%).
O crescimento em volume do valor adicionado da agropecuária decorreu do comportamento de várias culturas importantes da lavoura que registraram aumento na estimativa anual de produção e ganhos de produtividade, com destaque para soja (24,3%), cana de açúcar (10,0%), milho (13,0) e trigo (30,4%).
Na indústria, destacou-se o crescimento da atividade de eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana (2,9%), puxado pelo consumo residencial de energia elétrica. Já a extrativa mineral acumulou queda de 2,8%, influenciado pela queda na extração de minérios. A construção civil e a indústria de transformação cresceram, ambas, 1,9% em relação a 2012.
Todas as atividades que compõem os serviços registraram crescimento acumulado no ano: serviços de informação (5,3%), transporte, armazenagem e correio (2,9%), comércio (2,5%), serviços imobiliários e aluguel (2,3%), administração, saúde e educação pública (2,1%), intermediação financeira e seguros (1,7%) e outros serviços (0,6%).
Na análise da demanda, o crescimento de 6,3% da formação bruta de capital fixo foi o destaque, puxado pelo aumento da produção interna de máquinas e equipamentos. A despesa de consumo das famílias cresceu 2,3%, sendo este o 10º ano consecutivo de crescimento. Tal comportamento foi favorecido pela elevação da massa salarial e pelo acréscimo do saldo de operações de crédito do sistema financeiro com recursos livres para as pessoas físicas. A despesa do consumo da administração pública aumentou 1,9%.
No âmbito do setor externo, tanto as exportações (2,5%) quanto as importações (8,4%) de bens e serviços cresceram. Entre as exportações, destaque para produtos agropecuários; outros equipamentos de transporte; veículos automotores e refino de açúcar. Já nas importações, os destaques foram indústria petroleira; serviços de alojamento e alimentação; máquinas e equipamentos; óleo diesel e peças para veículos automotores.
A taxa de investimento no ano de 2013 foi de 18,4% do PIB, ligeiramente acima do observado no ano anterior (18,2%). A taxa de poupança foi de 13,9% em 2013 (ante 14,6% no ano anterior).

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

¨ Corajosos não são os que berram¨, diz Nassif e ¨estilo Zen de Barroso neutraliza Barbosa¨, afirma Cristina Lemos

Nassif: "corajosos não são os que berram"

:
Com a declaração, o jornalista Luis Nassif critica o comportamento do presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, que interrompe votos, se levanta e demonstra nervosismo quando é contrariado pelos colegas na Corte; corajosos, segundo Nassif, são "os que se escudam na força das suas convicções", como fez ontem o ministro Luís Roberto Barroso

 

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Eles chegaram lá : um novo Brasil se desenha, longe do Fla - Flu da internet


Trabalho de reportagem de Rodrigo Vianna, feitas pelo Jornal da Record:

Muitas mudanças que aconteceram nos últimos dez anos.

“Eles chegaram lá”: um novo Brasil se desenha, longe do Fla-Flu da internet

Rodrigo Vianna
Esforço para mostrar um novo Brasil que se desenha: pais lavradores, em Goiás; o filho virou engenheiro
Durante mais de um mês, rodamos atrás de boas histórias por esse Brasil: Goiás (foto ao lado), Santa Catarina, Pernambuco, São Paulo.  O objetivo era encontrar famílias que, pela primeira vez, tivessem conseguido colocar um filho na Universidade.
Não foi difícil achar. Longe do Fla-Flu histérico na internet, há um novo Brasil que se desenha. O filho de pescadores virou advogado (e já trabalha num escritório – no centro de Florianópolis). A filha de um catador de latinhas estuda para se formar veterinária em São Paulo. O lavrador goiano conseguiu transformar o filho em engenheiro. O produtor rural pernambucano (a família vive no meio do sertão, em Bodocó) mandou a filha pra São Paulo, e hoje ela é dentista…
Tudo isso aconteceu nos últimos dez anos. Enquanto muita gente reclamava dos aeroportos lotados de “gente feia”, tripudiava do “Bolsa Esmola”, e falava mal do PROUNI (que enche as universidades de “vagabundos”)… Enquanto isso, o povão arregaçou as mangas e aproveitou as brechas que se abriram. Mas não venham os governistas mais empolgados achar que esse povo se ajoelha no chão pra agradecer Lula e o PT. Conversei com as famílias, entrei nas casas: a maioria está feliz, mas sabe dos imensos problemas do nosso país. E quer mudança. Mais mudança. O que não significa andar pra trás, com discurso de “menos Estado”…
Esse novo Brasil (construído pelas bordas, e longe dos holofotes) é resultado, sim, de políticas públicas claramente inclusivas. Mas se desenha também graças ao esforço individual, à solidariedade e à garra das famílias mais humildes. Esse povo brasileiro é admirável: longe das Sherazade, da violência policial, dos colunistas urubulinos e dos comentaristas que falam do Brasil sem sair da frente do computador, há um outro país que nos enche de esperança.
É o que você pode conferir a seguir, em 5 reportagens da série “Eles Chegaram Lá” – que foi ao ar no “Jornal da Record. Produção: Rosana Mamani. Edição: Ângela Canguçu. Reportagem: Rodrigo Vianna (com participação de Jairo Bastos, em Pernambuco.) Imagens: Edgar Luchetta (São Paulo – apoio técnico de André Carvalho), Fabio Varela (Brasília/Goiás – apoio técnico de Fernando Gommes), Márcio Ramos (Santa Catarina). Coordenação: Helio Matosinho. Chefia de Redação: Thiago Contreira.

Pra começar, conheça a história de Almiro – o filho de lavradores na região de Anápolis (GO), que se formou em Engenharia; ele trabalha para indústrias importantes, dá aulas no SENAI e faz pós-graduação no ITA. O pai segue a plantar tomate e banana. Almiro estudou em faculdade particular, com bolsa do PROUNI.
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Djuliane é filha de um catador de latinhas em São Paulo. Na infância, rodava pelas ruas, no carrinho puxado pelo pai, cercada por papelão e garrafas. Hoje está na Universidade. Um amigo da família ajuda a pagar o curso, em faculdade particular. Você também vai conhecer o José – filho de empregada doméstica que só sabe assinar o nome (mas dotada de uma garra impressionante), ele acaba de se formar em Administração.
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O cenário é belíssimo: a praia da Pinheira, litoral catarinense. O pescador Manoel acorda todo dia às 4h da manhã. E vai pro mar. Isso há quase 50 anos. A novidade é que ele e a mulher (batalhadora, ao lado do marido) conseguiram colocar dois filhos na Universidade: Marcos estudou com bolsa do PROUNI, e já se formou em Direito. Marcelo está terminando o curso de Engenharia de Pesca, numa faculdade pública: a Universidade do Estado de Santa Catarina.
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O pai é pedreiro, a mãe é costureira. Os dois só estudaram o básico. O filho Neemias é pintor de paredes. E não aceitou o “destino” traçado. Com mais de 40 anos e 6 filhos pra criar, Neemias conseguiu entrar na faculdade particular, estuda Engenharia, graças a uma bolsa do Educafro – entidade que apóia o esforço de negros para chegar à Universidade. No Brasil, o número de negros no ensino superior saltou de pouco mais de 2%, para 15% nos últimos dez anos. Cotas, solidariedade, esforço individual: tudo fez diferença. Conheça também o Bruno:  filho de uma cozinheira, ele acaba de se formar em RH.
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A família vive em Bodocó, no meio da caatinga. Edivaldo, um dos filhos do casal de pequenos produtores rurais, migrou pra São Paulo: virou pedreiro, encarregado de obras. Anos depois, levou a irmã Elane pra São Paulo. Ela começou trabalhando como faxineira numa faculdade na zona leste. Conseguiu bolsa da universidade e, enquanto limpava salas e arrumava cadeiras, foi cursando Odontologia. Hoje, a filha do sertão é dentista em São Paulo.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Artigo de Lula no Valor: Por que o Brasil é o país das oportunidades

Do Valor
 
Por Luiz Inácio Lula da Silva
 
Passados cinco anos do início da crise global, o mundo ainda enfrenta suas consequências, mas já se prepara para um novo ciclo de crescimento. As atenções estão voltadas para mercados emergentes como o Brasil. Nosso modelo de desenvolvimento com inclusão social atraiu e continua atraindo investidores de toda parte. É hora de mostrar as grandes oportunidades que o país oferece, num quadro de estabilidade que poucos podem apresentar.
 
Nos últimos 11 anos, o Brasil deu um grande salto econômico e social. O PIB em dólares cresceu 4,4 vezes e supera US$ 2,2 trilhões. O comércio externo passou de US$ 108 bilhões para US$ 480 bilhões ao ano. O país tornou-se um dos cinco maiores destinos de investimento externo direto. Hoje somos grandes produtores de automóveis, máquinas agrícolas, celulose, alumínio, aviões; líderes mundiais em carnes, soja, café, açúcar, laranja e etanol.
 
Reduzimos a inflação, de 12,5% em 2002 para 5,9%, e continuamos trabalhando para trazê-la ao centro da meta. Há dez anos consecutivos a inflação está controlada nas margens estabelecidas, num ambiente de crescimento da economia, do consumo e do emprego. Reduzimos a dívida pública líquida praticamente à metade; de 60,4% do PIB para 33,8%. As despesas com pessoal, juros da dívida e financiamento da previdência caíram em relação ao PIB.
 
Colocamos os mais pobres no centro das políticas econômicas, dinamizando o mercado e reduzindo a desigualdade. Criamos 21 milhões de empregos; 36 milhões de pessoas saíram da extrema pobreza e 42 milhões alcançaram a classe média.
 
Quantos países conseguiram tanto, em tão pouco tempo, com democracia plena e instituições estáveis?
 
A novidade é que o Brasil deixou de ser um país vulnerável e tornou-se um competidor global. E isso incomoda; contraria interesses. Não é por outra razão que as contas do país e as ações do governo tornaram-se objeto de avaliações cada vez mais rigorosas e, em certos casos, claramente especulativas. Mas um país robusto não se intimida com as críticas; aprende com elas.
 
A dívida pública bruta, por exemplo, ganhou relevância nessas análises. Mas em quantos países a dívida bruta se mantém estável em relação ao PIB, com perfil adequado de vencimentos, como ocorre no Brasil? Desde 2008, o país fez superávit primário médio anual de 2,58%, o melhor desempenho entre as grandes economias. E o governo da presidenta Dilma Rousseff acaba de anunciar o esforço fiscal necessário para manter a trajetória de redução da dívida em 2014.
 
Acumulamos US$ 376 bilhões em reservas: dez vezes mais do que em 2002 e dez vezes maiores que a dívida de curto prazo. Que outro grande país, além da China, tem reservas superiores a 18 meses de importações? Diferentemente do passado, hoje o Brasil pode lidar com flutuações externas, ajustando o câmbio sem artifícios e sem turbulência. Esse ajuste, que é necessário, contribui para fortalecer nosso setor produtivo e vai melhorar o desempenho das contas externas.
 
O Brasil tem um sistema financeiro sólido e expandiu a oferta de crédito com medidas prudenciais para ampliar a segurança dos empréstimos e o universo de tomadores. Em 11 anos o crédito passou de R$ 380 bilhões para R$ 2,7 trilhões; ou seja, de 24% para 56,5% do PIB. Quantos países fizeram expansão dessa ordem reduzindo a inadimplência?
 
O investimento do setor público passou de 2,6% do PIB para 4,4%. A taxa de investimento no país cresceu em média 5,7% ao ano. Os depósitos em poupança crescem há 22 meses. É preciso fazer mais: simplificar e desburocratizar a estrutura fiscal, aumentar a competitividade da economia, continuar reduzindo aportes aos bancos públicos, aprofundar a inclusão social que está na base do crescimento. Mas não se pode duvidar de um país que fez tanto em apenas 11 anos.
 
Que país duplicou a safra e tornou-se uma das economias agrícolas mais modernas e dinâmicas do mundo? Que país duplicou sua produção de veículos? Que país reergueu do zero uma indústria naval que emprega 78 mil pessoas e já é a terceira maior do mundo?
 
Que país ampliou a capacidade instalada de eletricidade de 80 mil para 126 mil MW, e constrói três das maiores hidrelétricas do mundo? Levou eletricidade a 15 milhões de pessoas no campo? Contratou a construção de 3 milhões de moradias populares e já entregou a metade?
 
Qual o país no mundo, segundo a OCDE, que mais aumentou o investimento em educação? Que triplicou o orçamento federal do setor; ampliou e financiou o acesso ao ensino superior, com o Prouni, o FIES e as cotas, e duplicou para 7 milhões as matrículas nas universidades? Que levou 60 mil jovens a estudar nas melhores universidades do mundo? Abrimos mais escolas técnicas em 11 anos do que se fez em todo o Século XX. O Pronatec qualificou mais de 5 milhões de trabalhadores. Destinamos 75% dos royalties do petróleo para a educação.
 
E que país é apontado pela ONU e outros organismos internacionais como exemplo de combate à desigualdade?
 
O Brasil e outros países poderiam ter alcançado mais, não fossem os impactos da crise sobre o crédito, o câmbio e o comércio global, que se mantém estagnado. A recuperação dos Estados Unidos é uma excelente notícia, mas neste momento a economia mundial reflete a retirada dos estímulos do Fed. E, mesmo nessa conjuntura adversa, o Brasil está entre os oito países do G-20 que tiveram crescimento do PIB maior que 2% em 2013.
 
O mais notável é que, desde 2008, enquanto o mundo destruía 62 milhões de empregos, segundo a Organização Internacional do Trabalho, o Brasil criava 10,5 milhões de empregos. O desemprego é o menor da nossa história. Não vejo indicador mais robusto da saúde de uma economia.
 
Que país atravessou a pior crise de todos os tempos promovendo o pleno emprego e aumentando a renda da população?
 
Cometemos erros, naturalmente, mas a boa notícia é que os reconhecemos e trabalhamos para corrigi-los. O governo ouviu, por exemplo, as críticas ao modelo de concessões e o tornou mais equilibrado. Resultado: concedemos 4,2 mil quilômetros de rodovias com deságio muito acima do esperado. Houve sucesso nos leilões de petróleo, de seis aeroportos e de 2.100 quilômetros de linhas de transmissão de energia.
 
O Brasil tem um programa de logística de R$ 305 bilhões. A Petrobras investe US$ 236 bilhões para dobrar a produção até 2020, o que vai nos colocar entre os seis maiores produtores mundiais de petróleo. Quantos países oferecem oportunidades como estas?
 
A classe média brasileira, que consumiu R$ 1,17 trilhão em 2013, de acordo com a Serasa/Data Popular, continuará crescendo. Quantos países têm mercado consumidor em expansão tão vigorosa?
 
Recentemente estive com investidores globais no Conselho das Américas, em Nova Iorque, para mostrar como o Brasil se prepara para dar saltos ainda maiores na nova etapa da economia global. Voltei convencido de que eles têm uma visão objetiva do país e do nosso potencial, diferente de versões pessimistas. O povo brasileiro está construindo uma nova era – uma era de oportunidades. Quem continuar acreditando e investindo no Brasil vai ganhar ainda mais e vai crescer junto com o nosso país.
 
Luiz Inácio Lula da Silva é ex-presidente da República e presidente de honra do PT

Clarice Lispector e o justiçamento

O interessante nesse conto é como ela traz para o centro da discussão a alteridade, a importância de reconhecer no Outro o Eu. Clarice em uma entrevista arremata bem a noçao de que o justiçamento não é um crime contra um indivíduo e cometido apenas por um, mas contra todos (e cometido por todos nós) porque reconhecer no Outro o Eu é recusar a barbárie como elemento constitutivo da sociedade.(comentário de Lulu Chan, no blog diário do centro do mundo)

Do blog Diário do Centro do Mundo:


‘Na hora em que o justiceiro mata, ele não está mais nos protegendo nem querendo eliminar um criminoso, ele está cometendo o seu crime particular’ Clarice Lispector

Clarice
Clarice
 
Mineirinho foi um dos bandidos mais procurados pela polícia carioca na década de 1960. Ele era uma espécie de “Robin Hood” carioca.
Os moradores o ajudavam quando os policiais invadiam a favela da Mangueira, onde morava.
Sua morte, em maio de 1963, foi amplamente noticiada pelos jornais e revistas da época, dentre elas a Senhor, na qual Clarice Lispector escrevia desde 1958.
O texto Mineirinho foi encomendado pelo conselho editorial da revista e publicado no mês seguinte ao fato. Nele, Clarice descreve com agudeza sua visão sobre o justiçamento, um tema presente nos debates de hoje no Brasil.

Mineirinho

É, suponho que é em mim, como um dos representantes do nós, que devo procurar por que está doendo a morte de um facínora. E por que é que mais me adianta contar os treze tiros que mataram Mineirinho do que os seus crimes. Perguntei a minha cozinheira o que pensava sobre o assunto. Vi no seu rosto a pequena convulsão de um conflito, o mal-estar de não entender o que se sente, o de precisar trair sensações contraditórias por não saber como harmonizá-las.

Fatos irredutíveis, mas revolta irre­dutível também, a violenta compaixão da revolta. Sentir-se dividido na própria perplexidade diante de não poder esquecer que Mineirinho era perigoso e já matara demais; e no entanto nós o queríamos vivo. A cozinheira se fechou um pouco, vendo-me talvez como a justiça que se vinga. Com alguma raiva de mim, que estava mexendo na sua alma, respondeu fria: “O que eu sinto não serve para se dizer. Quem não sabe que Mineirinho era criminoso? Mas tenho certeza de que ele se salvou e já entrou no céu”.

Respondi-lhe que “mais do que muita gente que não matou”. Por quê? No entanto a primeira lei, a que protege corpo e vida insubstituíveis, é a de que não matarás. Ela é a minha maior garantia: assim não me matam, porque eu não quero morrer, e assim não me deixam matar, porque ter matado será a escuridão para mim.

Esta é a lei. Mas há alguma coisa que, se me faz ouvir o primeiro e o segundo tiro com um alívio de segurança, no terceiro me deixa alerta, no quarto desassossegada, o quinto e o sexto me cobrem de vergonha, o sétimo e o oitavo eu ouço com o coração batendo de horror, no nono e no décimo minha boca está trêmula, no décimo primeiro digo em espanto o nome de Deus, no décimo segundo chamo meu irmão. O décimo terceiro tiro me assassina — porque eu sou o outro. Porque eu quero ser o outro.

Essa justiça que vela meu sono, eu a repudio, humilhada por precisar dela. Enquanto isso durmo e falsamente me salvo. Nós, os sonsos essenciais.

Para que minha casa funcione, exijo de mim como primeiro dever que eu seja sonsa, que eu não exerça a minha revolta e o meu amor, guardados. Se eu não for sonsa, minha casa estremece. Eu devo ter esquecido que embaixo da casa está o terreno, o chão onde nova casa poderia ser erguida. Enquanto isso dormimos e falsamente nos salvamos.

Até que treze tiros nos acordam, e com horror digo tarde demais — vinte e oito anos depois que Mineirinho nasceu – que ao homem acuado, que a esse não nos matem. Porque sei que ele é o meu erro. E de uma vida inteira, por Deus, o que se salva às vezes é apenas o erro, e eu sei que não nos salvaremos enquanto nosso erro não nos for precioso. Meu erro é o meu espelho, onde vejo o que em silêncio eu fiz de um homem. Meu erro é o modo como vi a vida se abrir na sua carne e me espantei, e vi a matéria de vida, placenta e sangue, a lama viva.

Em Mineirinho se rebentou o meu modo de viver. Como não amá-lo, se ele viveu até o décimo-terceiro tiro o que eu dormia? Sua assustada violência. Sua violência inocente — não nas conseqüências, mas em si inocente como a de um filho de quem o pai não tomou conta.
Tudo o que nele foi violência é em nós furtivo, e um evita o olhar do outro para não corrermos o risco de nos entendermos. Para que a casa não estre­meça.

A violência rebentada em Mineirinho que só outra mão de homem, a mão da esperança, pousando sobre sua cabeça aturdida e doente, poderia aplacar e fazer com que seus olhos surpreendidos se erguessem e enfim se enchessem de lágrimas. Só depois que um homem é encontrado inerte no chão, sem o gorro e sem os sapatos, vejo que esqueci de lhe ter dito: também eu.

Eu não quero esta casa. Quero uma justiça que tivesse dado chance a uma coisa pura e cheia de desamparo em Mineirinho — essa coisa que move montanhas e é a mesma que o fez gostar “feito doido” de uma mulher, e a mesma que o levou a passar por porta tão estreita que dilacera a nudez; é uma coisa que em nós é tão intensa e límpida como uma grama perigosa de radium, essa coisa é um grão de vida que se for pisado se transforma em algo ameaçador — em amor pisado; essa coisa, que em Mineirinho se tornou punhal, é a mesma que em mim faz com que eu dê água a outro homem, não porque eu tenha água, mas porque, também eu, sei o que é sede; e também eu, que não me perdi, experimentei a perdição.

A justiça prévia, essa não me envergonharia. Já era tempo de, com ironia ou não, sermos mais divinos; se adivinhamos o que seria a bondade de Deus é porque adivinhamos em nós a bondade, aquela que vê o homem antes de ele ser um doente do crime. Continuo, porém, espe­rando que Deus seja o pai, quando sei que um homem pode ser o pai de outro homem.

E continuo a morar na casa fraca. Essa casa, cuja porta protetora eu tranco tão bem, essa casa não resistirá à primeira ventania que fará voar pelos ares uma porta tran­cada. Mas ela está de pé, e Mineirinho viveu por mim a raiva, enquanto eu tive calma.

Foi fuzilado na sua força desorientada, enquanto um deus fabricado no último instante abençoa às pressas a minha maldade organizada e a minha justiça estupidificada: o que sustenta as paredes de minha casa é a certeza de que sempre me justificarei, meus amigos não me justificarão, mas meus inimigos que são os meus cúmplices, esses me cumprimentarão; o que me sustenta é saber que sempre fabricarei um deus à imagem do que eu precisar para dormir tranqüila e que outros furtivamente fingirão que estamos todos certos e que nada há a fazer.

Tudo isso, sim, pois somos os sonsos essenciais, baluartes de alguma coisa. E sobretudo procurar não entender.

Porque quem entende desorganiza. Há alguma coisa em nós que desorganizaria tudo — uma coisa que entende. Essa coisa que fica muda diante do homem sem o gorro e sem os sapatos, e para tê-los ele roubou e matou; e fica muda diante do São Jorge de ouro e diamantes. Essa alguma coisa muito séria em mim fica ainda mais séria diante do homem metralhado. Essa alguma coisa é o assassino em mim? Não, é desespero em nós. Feito doidos, nós o conhecemos, a esse homem morto onde a grama de radium se incendiara. Mas só feito doidos, e não como sonsos, o conhecemos.

É como doido que entro pela vida que tantas vezes não tem porta, e como doido compreendo o que é perigoso compreender, e só como doido é que sinto o amor profundo, aquele que se confirma quando vejo que o radium se irradiará de qualquer modo, se não for pela confiança, pela esperança e pelo amor, então miseravelmente pela doente coragem de destruição. Se eu não fosse doido, eu seria oitocentos policiais com oitocentas metralhadoras, e esta seria a minha honorabilidade.

Até que viesse uma justiça um pouco mais doida. Uma que levasse em conta que todos temos que falar por um homem que se desesperou porque neste a fala humana já falhou, ele já é tão mudo que só o bruto grito desarticulado serve de sinalização.

Uma justiça prévia que se lembrasse de que nossa grande luta é a do medo, e que um homem que mata muito é porque teve muito medo. Sobretudo uma justiça que se olhasse a si própria, e que visse que nós todos, lama viva, somos escuros, e por isso nem mesmo a maldade de um homem pode ser entregue à maldade de outro homem: para que este não possa cometer livre e aprovadamente um crime de fuzilamento.

Uma justiça que não se esqueça de que nós todos somos perigosos, e que na hora em que o justiceiro mata, ele não está mais nos protegendo nem querendo eliminar um criminoso, ele está cometendo o seu crime particular, um longamente guardado. Na hora de matar um criminoso – nesse instante está sendo morto um inocente. Não, não é que eu queira o sublime, nem as coisas que foram se tornando as palavras que me fazem dormir tranqüila, mistura de perdão, de caridade vaga, nós que nos refugiamos no abstrato.

O que eu quero é muito mais áspero e mais difícil: quero o terreno.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Ética solidária, por Frei Cláudio Van Balen

A exemplo de jesus, longe de nós a vingança.
Sejamos clemente, tratando outros com bondade.
Sigamos o jeito de Deus que ama incondicionalmente.
Não é o legalismo que enriquece o viver.
Vida fraterna seja nosso objetivo. ( Frei Cláudio Van Balen)


Ética Solidária
Frei Cláudio Van Balen

Se ¨religião¨ é importante, Jesus a quer de portas abertas, incluindo diferentes e fazendo-nos conciliar com hostilizados. Ele nos propõe acolhimento mais que normas, mais que ostentação com vingança. Oração, jejum, esmola, sacrifício, promessa e expiação são de importância secundária. Prioritários são o existir benfazejo, o relacionar solidário sem preconceitos e inimizades.

É preciso superar ressentimento, dominação e o gesto de pagar com a mesma moeda. Religiões têm dado espaço demais ao que discrimina, separa, exclui. A primazia seja atribuída à gratuidade, ao serviço de promoção de todo ser humano, por mais que esse seja devedor. Mais que tudo, vale o bem querer a favor do próximo. Confraternizar adversários constrói comunhão.

Participação-comunhão- rica expressão de nossa familiaridade com Deus. Se o Espírito pede que o revelemos no coração da História e no bojo dos fatos, tanto mais de manifestá-lo por fraterna convivência. Nada de nos vangloriar da vivência religiosa sem praticar a inclusão dos irmãos, sem sermos capazes de esquecer mágoas, de perdoar dívidas e de restabelecer a união.

O apelo de Jesus nos faz reproduzir algo de seu jeito inovador: crer em meios nobres e humildes, fazer o bem sem intenções suspeitas, valorizar o serviço. Tantos o fazem! São pais e mães de família, jovens, ¨médicos sem fronteiras¨ , enfermeiras, professoras, assistentes sociais, líderes comunitários, religiosos, homens públicos voluntários em tantos serviços - benfeitores anônimos.

Mensagem do Frei Cláudio no boletim da missa de 23/02/2014

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Com Bolsonaro & Feliciano, a direita saiu do armário, por Bob Fernandes

Por Bob Fernandes:
TV Gazeta

O PT vai retomar a presidência da Comissão de Direitos Humanos na Câmara dos Deputados.

O Brasil tem uma dívida para com o discurso e ações da dupla Feliciano & Bolsonaro. Ambos personificaram o descaso diante da importância do tema. Mas não apenas. A comissão ter caído nas mãos de tal dupla acentuou um afastamento; o esgarçamento que ia se dando entre o PT e movimentos sociais, suas bases históricas.

A ligação visceral com bases sociais em múltiplas frentes foi, em síntese, o que levou Lula e Dilma à presidência. Na luta pela manutenção do poder, alianças cada vez mais obscuras, quando não promíscuas, foram dissociando porções hegemônicas do PT de várias de suas bases. Feliciano nos "Direitos Humanos" é evidência disso.

Se as ruas de junho foram choque de realidade, também é o espaço cedido e ocupado pela verborragia da Idade Média. Já nos dias de hoje, seja com fato ou com ficção, se busca atribuir apenas a franjas de dita "extrema esquerda" a responsabilidade por atos de violência. É tempo de notar o que se passa também à "direita".

A ascensão de porta-vozes como Feliciano & Bolsonaro mostra a "direita", a "extrema direita" saindo do armário. Há quem ainda diga que direita e esquerda já não existem. Quem diz isso costuma ser...da direita. Que pagou e ainda paga o preço por ter sido a indutora e alma da ditadura. Ditaduras existiram e existem à direita e a esquerda. No Brasil, a ditadura nasceu numa ação de militares, porções da sociedade, do empresariado; inclusive da Mídia. Agora, uma "nova direita" avança.

Movida por fatores econômicos, sociais, e culturais: as redes sociais, por exemplo, são espaços onde todas as tribos se encontram, e se agrupam. A chamada "direita" nunca perdeu certas hegemonias. Na comunicação, por exemplo. Agora avança em busca da hegemonia na política, e isso é parte do jogo democrático.

É saudável que se escancarem os armários. Talvez assim nos livremos da armadilha de um discurso moral que não resiste aos fatos. A violência, inclusive nas linguagens, está no cotidiano.

Para se enfrentar o discurso do ódio, e a barbárie como solução, é fundamental o uso da razão. Para Norberto Bobbio, pensador italiano, o que diferencia esquerda e direita seria, em resumo, o modo de encarar o problema da desigualdade social e o como enfrentá-lo. Para tanto, é preciso saber com clareza quem é o quê.

Há dias se busca, ou se inventa, quem supostamente faz dobrar sinos e sininhos em um extremo. Com palavras e atos atropelando direitos humanos, Bolsonaro & Feliciano emprestaram rosto e significados à direita, ao extremo da direita.

Assista ao comentário:

 

69 anos da tomada de Monte Castelo: ação heróica dos nossos "pracinhas"

No dia 21 de fevereiro, o Exército Brasileiro comemora um de seus maiores feitos em campo de batalha – a Tomada de Monte Castelo –, realizada durante a II Guerra Mundial e protagonizada pelos integrantes da Força Expedicionária Brasileira (FEB).



 
Após percorrerem aproximadamente 400 km de solo italiano, durante 227 dias de combates, os soldados brasileiros (os pracinhas) libertaram dezenas de vilas e cidades do jugo nazifascista.
 
Apesar das adversidades impostas pelo rigoroso inverno europeu, nossos bravos desalojaram o inimigo de posições fortificadas com determinação férrea, por crerem na justiça de sua causa; conquistaram elevações de importância tática; e impuseram a rendição incondicional ao inimigo.
 
Mas não foi fácil. Em Monte Castelo, a posição de comandamento do inimigo, instalada há muito, com domínio de fogo, era quase inexpugnável.
 
Dentro do plano de ocupação estabelecido pelo comando da missão, a conquista dessa elevação era prioridade e de necessidade extrema, a fim de romper a Linha Gótica inimiga, o que permitiria o avanço das tropas aliadas.
 
Diante disto, apesar de o inimigo já ter rechaçado por três vezes o ataque, a 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ª DIE) atacou. Depois de renhida luta, apesar do frio, do terreno íngreme e lamacento, da neve, de todos os óbices interpostos, Monte Castelo foi conquistado, tornando-se palco de manifestações de regozijo e êxtase que ecoaram pelo vale, por parte dos nossos pracinhas.

Naquele momento, quando a vitoriosa Bandeira do Brasil foi desfraldada, os pracinhas escreveram uma página indelével na história.
 
Por isso, devemos reconhecer os valorosos pracinhas e reverenciarmos aqueles que escreveram memorável página de glória da nossa história é mais que realizar uma homenagem, cumprir um dever de justiça com esses bravos, a quem externamos nosso reconhecimento e gratidão.

Assista ao vídeo baseado no livro ¨História de Pracinha¨ do jornalista Joel Silveira (correspondente de guerra em 1944 e 1945)  - Edições Ouro -

FEB - TOMADA DE ASSALTO A MONTE CASTELO- ITÃ LIA ...


www.youtube.com/watch?v=two63ZoETSY
Fonte: FEB

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

O desmonte das farsas do regime militar, por Zuenir Ventura


Do O Globo



Episódios desonrosos cuja memória os militares tentam apagar voltam à tona, como tem acontecido ultimamente

Zuenir Ventura

Por meio de um mecanismo interior conhecido como “retorno do recalcado”, a psicanálise explica que não adianta reprimir as lembranças dos traumas antigos: um dia elas ressurgem, e com mais força. O passado sempre bate à porta. Isso acontece na esfera individual, mas também no plano da história coletiva. Por exemplo, episódios desonrosos cuja memória os militares tentam apagar voltam à tona, como tem acontecido ultimamente. Ora por meio da confissão espontânea de um culpado perseguido pela consciência. Ora pela revelação através de uma reconstituição jornalística. Ora por uma exposição retrospectiva ou uma descoberta feita por investigação policial.


O mais recente “retorno” tem a ver com um dos casos mais nebulosos do regime militar: a bomba que explodiu por acidente no colo de um sargento que a conduzia, junto com um tenente, para ser lançada no Riocentro durante um show com 20 mil espectadores, em 1981. O atentado seria atribuído a “grupos subversivos” e visava a interromper o processo de abertura política. A versão oficial apresentou logo os dois militares como vítimas, não como autores frustrados do atentado (o sargento morreu na hora e o tenente saiu ferido e, depois, foi promovido). Na edição de domingo, os repórteres Chico Otávio e Juliana Castro revelaram que o Ministério Público Federal desmascarou a farsa e está denunciando um ex-delegado e cinco militares reformados, entre os quais três generais (para um deles está sendo pedida pena de 36 anos de prisão). Uma das provas inéditas é o depoimento do major Divany Barros, que contou ter ido ao local da explosão para sumir com os indícios da participação dos seus colegas.
O ex-delegado é Claudio Guerra, o mesmo que em 2012, no livro “Memórias de uma guerra suja”, de Marcelo Netto e Rogério Medeiros, confessou ter incinerado 11 corpos de militantes numa usina de cana-de-açúcar. Em outro capítulo dessa sinistra série, o coronel reformado Raymundo Ronaldo Campos admitiu para a Comissão da Verdade ter participado do que chamou de “teatro montado” para mascarar a execução do então deputado federal Rubens Paiva. A versão das Forças Armadas, de que ele fora sequestrado por guerrilheiros, é mantida, apesar de desmentida por outro personagem do “teatro”, o tenente-médico Amílcar Lobo, que em 1971 atendeu Paiva no DOI-Codi, onde servia. O médico afirmou que o paciente morreu em consequência de torturas sofridas na prisão. Se não bastasse, em 2013, a viúva de Lobo, Maria Helena Gomes de Souza, compareceu àquela mesma Comissão para informar que, pouco antes de morrer, o marido a encarregara de, em seu nome, pedir perdão aos torturados que ele atendeu.
O mais patético nesse inútil esforço de sustentar as farsas é que elas estão sendo desmoralizadas não mais pelas vítimas, mas pelos próprios algozes.