segunda-feira, 6 de junho de 2016

“Primeiramente fora Temer”, diz Ciro Gomes em entrevista

Jornal GGN – “Primeiramente, fora Temer”, foram as palavras iniciais do provável candidato à presidência pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT), Ciro Gomes, em entrevista à jornalista Mariana Godoy. “Tem muita gente boa, mas os que tomaram conta da estrutura, da burocracia, do comando do PMDB são de uma quadrilha de salteadores”.
Processado tanto por Eduardo Cunha quanto por Michel Temer, Ciro ainda não reluta em chamar o primeiro de ladrão e o segundo de canalha. “O Michel Temer tem um filho de sete anos - e isso não necessariamente é ilegal, mas ele precisa explicar - o menino tem sete anos e tem R$ 2 milhões de patrimônio imobiliário em uma zona nobre de São Paulo”. Antecipação de herança? Sugere a jornalista. “Ok. Então, prove a origem do dinheiro”.
Para ele, o povo brasileiro está compreendendo as razões do impeachment de Dilma Rousseff. “Começou a cair a máscara do golpe”, afirmou. “Não é possível, em 15 dias cair dois ministros. Há um absoluto despudor do senhor Michel Temer em se cercar de ladrões”.
Ciro afirmou que há três motivos reais para a derrubada da presidente eleita. O primeiro é político: quem parar a Operação Lava Jato e se salvar. O segundo é econômico: “vai para lá o meu amigo, Henrique Meirelles, com uma tarefa de gerar excedentes a qualquer preço para garantir que esse serviço da dívida seja honrado”. E o terceiro é de interesse estrangeiro: “é quebrar a lei do pré-sal e permitir que a Argentina estabeleça bases militares americanas no território contíguo ao Brasil, na tríplice fronteira”.
Para o pré-candidato do PDT, o galope da dívida pública começa a sinalizar uma crise bancária. A consequência é o desmonte dos programas sociais. “Começa com raspar R$ 2 bilhões do fundo soberano que era para a educação das nossas crianças, raspar dinheiro do SUS, raspar dinheiro dos aposentados, raspar dinheiro do Minha Casa, Minha Vida”.
Sem comprar briga com os americanos, Ciro defende a soberania nacional. “Não é para brigar com americano, nossa amizade é aqui, no ocidente, nossa tradição é com eles”. Mas o presidente interino vai ter que responder pelos seus atos. “Eu vou processá-lo, assim que terminar o procedimento de impeachment”, disse Ciro. “Por alta traição. Porque se for verdade que esse calhorda serviu informações sensíveis do Brasil para um órgão de inteligência estrangeira, ele é traidor da pátria”.
Ciro se referiu ao vazamento do Wikileaks que colocou Michel Temer sob suspeição de ter colaborado com o órgão de inteligência americano, a CIA.
Ele entende que uma parte significativa do golpe contra a presidente Dilma está na intenção norte-americana de enfraquecer a Petrobras e abrir o pré-sal. “O calhorda que foi nomeado para alienar a Petrobras era meu amigo [Pedro Parente]. Já vou perder outro aqui. Foi lá dizer na hora da posse dele que não tem sentido a Petrobras ficar com a lei de partilha, que eu ajudei a fazer, que é muito moderada. E pior, disse que tem que ser revogada a legislação de conteúdo nacional”.
Ciro tratou como desastrosa a política externa do chanceler interino, José Serra. “O Brasil não pode voltar à década de 50. Porque nós começamos a agir, criamos o Mercosul, eu ajudei a fazer, minha assinatura está no Tratado de Ouro Preto. Por isso que eu estou indignado. Estão dilapidando em 15 dias. O Serra já esculhambou a OCDE, já esculhambou a OMS”.
“Não gosto em nada do regime da Venezuela, não me confundam. Mas a Venezuela dá para nós brasileiros, por ano, US$ 5 bilhões em superávit a nosso favor. Se o interesse nacional é as contas sadias, a Venezuela é um dos nossos maiores parceiros no mundo. E esse calhorda já fez uma agressão que fez o embaixador da Venezuela ir embora do Brasil. E disse que agora acabou negócio de tratar os países do mundo com interesses ideológicos. Quem é que está tratando um país com interesses ideológicos?! É quem fazia o Brasil ganhar US$ 5 bilhões de superávit ou quem hostiliza o principal parceiro sob o ponto de vista econômico?”, questionou.
Para ele, o pretexto da derrubada da presidente é só isso mesmo: pretexto. “A Câmara, essa mesma que fez o impedimento da Dilma, criou 14 mil cargos novos. E deu aumento para todos os grupos de salário que já são os mais altos do Brasil. Os próprios deputados se atribuíram um aumento gigantesco. E no dia seguinte, quando se esperava que o Michel Temer desse alguma coerência, ele pediu aplausos”.
Ciro disse que vai “pensar mil vezes antes de ser candidato”. “Porque eu já fui candidato duas vezes. E agora as coisas pioraram de um jeito que a tarefa para um camarada como eu, que pensa o que eu penso, que fala o que eu falo, que defende o que eu defendo, de ser candidato é praticamente inumana. Se não me mandarem matar, se não me envenenarem no processo, eu vou sofrer o pão que o diabo amassou”, disse.
Ele afirmou que muitos o aconselham a fazer como Lula e adotar uma postura “paz e amor”. Agradeceu, até mesmo o artigo do Jornal GGN de Marcos Villas-Bôas que falou sobre os desafios que enfrentará caso queira ser um nome viável para assumir o cargo de chefe de Estado.
“Eu tinha muitas críticas aos meus adversários, aí quando eu vi os meus amigos se corrompendo, metendo a mão, fazendo o oposto do que a gente sonhava, eu disse ‘quer saber, quem está errado sou eu, vou ficar quieto’. E tava quieto. Mas agora os companheiros do PDT me chamaram e eu considerava uma covardia se eu com a minha experiência, com a minha percepção, com o meu conhecimento da vida brasileira, com a respeitabilidade... Se eu vou ser candidato ou não, volto a dizer que não estou com vontade. Mas serei se considerar que essa é a minha obrigação”.

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