sábado, 25 de janeiro de 2014

Diretas Já: 30 anos - A maior mobilização cívica do Brasil

Dia 25 de janeiro de 2014, sábado, marca a data dos 30 anos de começo da campanha das diretas-já. Foi uma imensa manifestação, com a presença dos principais líderes da oposição à ditadura – Ulysses Guimarães, Lula, Brizola, Tancredo, Montoro -, que se considera como o lançamento da campanha pelas eleições diretas-já, contornando o projeto de transição controlada colocado em prática pela ditadura, que previa as primeiras eleições presidenciais sem controle direto das FFAA, pelo Colégio Eleitoral e não pelo voto direto.






Do ig.com.br:

Politizado, pacífico, objetivo e marcado por uma febre de rebeldia e civismo que contagiou todas as classes, a campanha pelas Diretas Já completa 30 anos como o maior e mais consequente movimento de massas do Brasil.

"Jamais passou pela cabeça do Dante que a emenda se transformaria num fantástico movimento de massas", revela a ex-deputada Thelma de Oliveira, viúva do deputado federal Dante de Oliveira, autor da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) de 2 de março de 1983 que estabelecia eleições diretas para presidente e seria o estopim do movimento.

Segundo ela, a presença de lideranças, a pauta objetiva e o caráter pacifista (não há registro de que uma lixeira sequer tenha sido virada) despertaram a forte participação popular. "A emenda representou o desejo de mudanças. O objetivo era trocar a ditadura, o inimigo comum, por um presidente eleito”, lembra Thelma, com uma pitada de saudosismo: “É preciso resgatar o espírito da campanha das Diretas.”

A campanha propriamente dita só passaria a valer e pegaria fogo a partir de 25 de janeiro de 1984, no célebre comício da Praça da Sé, em São Paulo, onde 300 mil pessoas ilharam o heterogêneo palanque e tiraram da zona do medo uma oposição que, traumatizada pela violência de 20 anos de arbítrio, ainda resistia em ousar.

Ao fixar os olhos na multidão, Carlos Castelo Branco, um dos mais importantes analistas políticos da época, profetizou: "Pode mudar a história, desde que seja o ponto de partida para outros iguais."
Castelinho sabia do que falava: o governo, sob o comando do general João Batista Figueiredo, tinha o domínio da máquina e das armas, a linha dura militar conspirava ameaçadoramente para perpetuá-lo, o povo ainda andava "falando de lado e olhando pro chão" e o medo assustava inclusive os 16 governadores que a oposição, empanturrada de votos, elegera dois anos antes, na mais importante concessão da abertura política.

A escalada dos comícios

Em 27 de novembro, no primeiro ato organizado, não mais que 15 mil pessoas se concentrariam na Praça Charles Müller, em São Paulo. O ânimo ainda estava baixo.

A partir do comício da Sé, a campanha se agigantaria, levando outras 300 mil pessoas à Praça Afonso Pena, em Belo Horizonte, 250 mil (um quarto da população) em Goiânia, um milhão à Candelária, no Rio, em 10 de abril, e, no encerramento, seis dias depois, 1,5 milhão no Anhangabaú, em São Paulo.

A expectativa dos brasileiros (130 milhões pelo senso da época) era pela aprovação da emenda apresentada pelo jovem deputado Dante de Oliveira, egresso dos quadros do MR-8. A poucos instantes do encerramento do jogo, no entanto, o regime apelou. Medidas de emergência editadas às vésperas da votação, que se deu em 25 de abril, espalharam tropas pelas ruas de Brasília, os veículos de comunicação foram censurados e a Câmara, com uma maioria subserviente aos militares, acabou capitulando. Faltaram míseros 22 votos para concluir a revolução pacífica que promoveria a ruptura pela via democrática.

Organizado nas pranchetas dos generais, o placar seria definido pelo grande número de deputados situacionistas que, embora presentes na Câmara, usaram a estratégia de se ausentar do plenário – como fizeram o próprio candidato do regime no futuro Colégio Eleitoral, Paulo Maluf, e o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão.

Se o povo nas ruas não derrubou imediatamente a ditadura, pelo menos apressou seu fim. Ao eleger um presidente civil no mesmo Colégio Eleitoral que "aclamava" os generais, forçou a convocação da Constituinte e, sete anos depois, estaria de pé e firme para exigir o primeiro impeachment de um presidente democraticamente eleito.


 Do site cartamaior.com.br:

 A manipulação da Globo:

 Há exatos 30 anos, cerca de 300 mil pessoas foram à Praça da Sé, em São Paulo, para reivindicar eleições diretas para presidente. No palanque, políticos, artistas, sindicalistas e estudantes. Era o maior ato político ocorrido nos primeiros 20 anos da ditadura brasileira, com todo o seu saldo de mortes, torturas, desaparecimentos forçados, censuras e supressões dos direitos individuais. Mas o foco da reportagem que o telejornal de maior audiência do país, o Jornal Nacional, da TV Globo, levou ao ar naquela noite, era a comemoração pelos 430 anos de São Paulo.

O histórico comício da Praça da Sé ocorreu em um momento em que o Brasil reunificava suas forças para tentar por fim ao regime de exceção, em um movimento crescente. Treze dias antes, um outro ato político realizado em Curitiba (PR), com a mesma finalidade, havia sido completamente ignorado pela emissora. Mesmo a chamada para o ato que os organizadores tentaram veicular na TV como publicidade paga não foi aceita pela direção. O Jornal Nacional nada falou sobre o comício que levou 50 mil pessoas às ruas da capital paranaense. Antes dele, outros, menores, já ocorriam em várias cidades brasileiras desde 1983. Nenhum mereceu cobertura.

Em 1982, a entrada em vigor da Emenda Constitucional nº 22 permitiu eleições diretas para governadores. Entretanto, previa que, em 1985, fosse realizada eleição indireta para o novo presidente, a ser escolhido por um colégio de líderes formado por senadores, deputados federais e delegados das assembleias legislativas estaduais. Os brasileiros, porém, queriam enterrar de vez os anos de arbítrio. Oposição e movimentos sociais se uniram para pedir Diretas Já.

Aliada inconteste da ditadura civil militar, a TV Globo demorou a acertar na análise da conjuntura. Acompanhando a leitura rasa dos militares que ocupavam o Palácio do Planalto, acreditou que os atos por eleições diretas não passariam de “arroubos patrióticos”, como depois definiria seu então diretor de Jornalismo, Armando Nogueira. Mas a estratégia de ignorar as diversas manifestações que pipocavam em várias cidades do país já estava arranhando sua credibilidade. Decidiu mudar.

Quando a multidão ocupou a Praça da Sé, a Globo optou por maquiar o ato e alterar suas finalidades. No telejornal mais visto do país, o apresentador Sérgio Chapelin fez a seguinte chamada: “A cidade comemorou seus 430 anos com mais de 500 solenidades. A maior foi um comício na Praça da Sé”. A matéria que entrava a seguir, do repórter Ernesto Paglia, evidenciava os 30 anos da Catedral da Sé e os shows artísticos pelo aniversário da cidade. Só no finalzinho, o repórter dizia que as pessoas pediam a volta das eleições diretas para presidente, como se aquilo tivesse sido um rompante espontâneo no evento convocado para outros fins.

Apesar da postura da maior rede de TV nacional, a campanha Diretas Já ganhava o país. No dia 24 de fevereiro, um novo grande comício foi realizado em Belo Horizonte (MG), e reuniu um contingente ainda maior de pessoas do que o de São Paulo. No mesmo Jornal Nacional, apenas rápidas imagens da multidão que saiu às ruas e dos muitos oradores que pediam o fim da ditadura, acompanhados de um texto que desvirtuam o sentido do ato.

A hostilidade com que os manifestantes tratavam a emissora só fazia aumentar. Foi nesta época que os protestos de rua passaram a bradar o slogan ouvido até hoje: “O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo”. Foi nesta época também que os repórteres da Globo passaram a ser achincalhado nas ruas. Alguns sofreram agressões físicas.

Roberto Marinho, o fundador da emissora, era comprometido com a ditadura até o pescoço. Afinal, foram os militares que encobriram as irregularidades que marcaram a inauguração da TV Globo, investigada por uma CPI Parlamentar por conta de ter recebido injeção ilícita de capital estrangeiro, no escândalo conhecido como Caso Time-Life. E também foram os militares que ajudaram a emissora a se tornar a maior do país, em troca de apoio sistemático ao regime de exceção.

Mas Marinho não era burro. Viu que era impossível conter a nova força política que se tornava hegemônica no país e, de uma hora para outra, virou seu jogo. No dia 10 de abril, duas semanas do Congresso votar a proposta de eleições diretas já, ele autorizou que sua emissora cobrisse à campanha. O comício realizado aquela noite, no Rio de Janeiro, que reuniu mais de 1 milhão de pessoas na Candelária, enfim ganhou espaço devido no Jornal Nacional.

A emenda que previa as Diretas Já, apresentada pelo até então quase desconhecido Dante de Oliveira, não foi aprovada. Mas Marinho já estava aliado com as forças que venceriam a eleição indireta: Tancredo Neves, o presidente eleito que morreu antes de tomar posse, e José Sarney, que por uma contingência do destino, iria assumir o posto. Naquela época, a família Sarney já controlava a mídia no seu estado de origem, o Maranhão. Reza a crônica política que, de olho em uma parceria de sucesso com a Globo, o novo presidente da república submeteu até mesmo o nome de seu ministro da Fazenda, Mailson da Nóbrega, à aprovação de Roberto Marinho.


Do Rede Brasil Atual:

Em vídeo, ex-presidente rememora comício na Sé, afirma que campanha foi a maior mobilização cívica da história do Brasil e lamenta que pressão não tenha sensibilizado 'direita conservadora'
                      
                  
Jorge Araújo/Folhapress            
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Lula celebra o fato de o movimento ter conseguido unificar sindicatos, partidos, empresários e estudantes
São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgou hoje (25) vídeo recordando os 30 anos do comício na praça da Sé, em São Paulo, pelas eleições diretas para a Presidência da República. Para ele, a mobilização fortalecida naquela data representa “o maior movimento cívico de toda a história dos 500 anos de Brasil”.
Embora tenha tido início em novembro de 1983, a série de comícios das Diretas Já teve naquele 25 de janeiro uma data emblemática, quando de 200 mil a 300 mil pessoas se reuniram no marco zero da capital paulista para cobrar a retomada da democracia, interrompida 20 anos antes pelo golpe contra o presidente constitucional João Goulart.
“O dado concreto é que fizemos talvez a campanha mais extraordinária que esse país já conheceu. Porque conseguiu unificar todo mundo. Conseguiu unificar o movimento sindical, o movimento estudantil, os empresários, todos os partidos, com exceção dos partidos de direita, e, na medida em que a campanha foi criando força, foi criando um incômodo nas pessoas que preferiam fazer um acordo com os militares para fazer uma transição pacífica do que fazer as eleições diretas para presidente”, avalia Lula.
  • Ao longo dos três meses seguintes, ele, pelo recém-fundado PT, Leonel Brizola, pelo PDT, e Ulysses Guimarães, pelo PMDB, rodaram o país em comícios multitudinários que fizeram com que a ditadura não pudesse mais ignorar a mobilização. “A pressão das massas não foi capaz de sensibilizar a direita conservadora que queria se manter no poder”, recorda Lula. Em paralelo ao movimento cívico, setores mais moderados da oposição ao regime tentavam negociar uma transição pela via indireta, o que acabou prevalecendo quando, em 25 de abril, o Congresso rejeitou a emenda apresentada pelo deputado mato-grossense Dante de Oliveira para retomar a escolha direta do presidente. “No ano seguinte a gente conseguiu fazer com que o colégio eleitoral elegesse o primeiro civil presidente da República desde 1964.”
Eleito em janeiro de 1985, o peemedebista mineiro Tancredo Neves não chegou a tomar posse. Internado em 15 de março, véspera da assunção, morreu em 21 de abril, deixando o lugar vago para o vice, José Sarney, que ocupou o Palácio do Planalto até 1989, quando foi eleito, aí sim pela via direta, Fernando Collor de Mello.
Ao comentar o processo de mobilização, Lula fez um pedido para que os jovens pesquisem sobre a história recente brasileira e tentem entender o movimento pelas diretas: “Precisamos aprender a valorizar a democracia. A democracia, em qualquer lugar do mundo, foi conquistada às custas de muita luta, de muito sacrifício, de muita morte. A democracia não foi de graça em nenhum lugar do mundo.”


Neste vídeo, o ex-presidente rememora este dia e também os outros comícios que marcaram época no que ele chama de “o maior movimento cívico na história dos 500 anos do Brasil”. Lula lembra também que mesmo com a derrota no Congresso Nacional, o movimento das Diretas Já foi o que conseguiu acabar com o regime militar que comandava o país.
Lula afirma ainda que se sente muito feliz de ter vivido e participado de todo o movimento das Diretas Já e ressalta que “nós precisamos aprender a valorizar a democracia”.
Assista a íntegra do vídeo aqui:


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