quinta-feira, 28 de maio de 2015

Aprovação na Câmara aumenta o sequestro do nosso sistema político pelas empresas privadas

Dois artigos, o primeiro do sociólogo e professor Wagner Iglecias e o segundo artigo do deputado federal Jean Wyllys, criticam a aprovação das doações de empresas privadas aos partidos políticos. 

¨0 PSDB e o DEM, que gostam tanto de bater panela "contra os corruptos", votaram em bloco a favor da corrupção institucionalizada. Porque o que foi aprovado é isso. Financiamento empresarial de partidos significa privatização da política para que as empresas, as corporações econômicas, o poder do dinheiro mande e desmande.¨ Leia os artigos, abaixo.


Blog do Luís Nassif

Pobre democracia brasileira

Por Wagner Iglecias
Desde a volta da democracia no Brasil, com a eleição da chapa Tancredo / Sarney para a presidência e vice-presidência da república, no Colégio Eleitoral de 1985, não se tinha notícia de medida tão danosa ao nosso regime político. Refiro-me à aprovação em primeira votação, pela Câmara dos Deputados, da PEC que oficializa as doações de empresas privadas aos partidos políticos. Como se sabe a proposta ainda vai ser votada novamente naquela Casa, e mais duas vezes no Senado, mas a sinalização é de que nossa classe política, em sua maioria, quer inscrever na Constituição a possibilidade de empresas doarem recursos para nosso sistema político. Se isso ocorrer, a votação em curso no STF, que já havia enterrado esta possibilidade, mas segue interrompida há mais de um ano por iniciativa do ministro Gilmar Mendes, que pediu vistas, poderá sofrer uma total reviravolta.
A coisa é simples: empresa nenhuma põe dinheiro na campanha de candidato algum por causa de seus lindos olhos verdes, castanhos ou azuis. Ou porque ele, o candidato, é gente boa. A empresa põe dinheiro na campanha do candidato porque ela está fazendo um INVESTIMENTO. Se ele for eleito, a empresa terá aquele parlamentar ou governante a seu serviço depois, durante o exercício do mandato. Essa prática introduz uma profunda distorção na competição eleitoral, já que quem recebe dinheiro de empresa tem muito mais chance de se eleger do que quem não recebe, independente das idéias e propostas que um e outro tenham. E introduz mais distorção depois, no exercício do mandato, já que o eleito vai priorizar atender quem lhe patrocinou, e não você, eu ou qualquer outro cidadão ou cidadã comuns, que só dispomos do voto. Quem não entender isso (e não é difícil entender) não entenderá absolutamente nada do que está se passando em Brasília nestes dias e que terá conseqüências pelas próximas décadas neste país.
A iniciativa da presidência da Câmara, de colocar em votação, em menos de 24 horas, a mesma matéria do financiamento privado, após a derrota na 3a. feira, e a súbita mudança de voto de quase uma centena de deputados demonstra que nossos representantes, em sua maioria, não estão minimamente sensibilizados pelo clamor das ruas, manifestado em junho de 2013 mas latente até hoje. A eventual e bastante provável constitucionalização da doação de empresas privadas para os partidos políticos apenas aprofundará o abismo que já existe entre a sociedade civil e nossa classe política e nossas instituições. Ao invés de um modelo mais participativo, inclusivo e transparente de democracia, como desejam milhões de brasileiros, o que teremos com a aprovação desta PEC será exatamente o contrário. Aumentará o grau de sequestro do nosso sistema político pelos grandes interesses econômicos. O futuro que se avizinha é sombrio.
Wagner Iglecias é doutor em Sociologia e professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.

Brasil 247:
HIPÓCRITAS DO PSDB E D0 DEM VOTARAM EM BLOCO A FAVOR DA CORRUPÇÂO
O financiamento empresarial da política prejudica sua vida cotidiana, porque quando o Estado serve aos interesses daqueles que pagaram as milionárias campanhas dos candidatos, os interesses do povo ficam relegados
Jean Wyllys 
A força da grana suja e as tenebrosas transações venceram essa batalha, infelizmente.
Apesar de ter sido derrotado ontem, Cunha fez de tudo para conseguir o que queria. Atropelando o regimento interno da Câmara, os acordos feitos publicamente no plenário sobre a pauta de votações e a civilidade política mínima (que desde sua chegada ao Trono não existe mais), o presidente da Casa, que se acha imperador, colocou em votação pela segunda vez o financiamento empresarial de campanha, e dessa vez conseguiu. Um "segundo turno" para reverter o resultado do primeiro, mesmo que isso seja uma aberração institucional, porque já era matéria vencida.
E, por incrível que pareça, o placar da votação mudou. Quer dizer, deputados que ontem tinham votado NÃO à constitucionalização da corrupção, hoje votaram SIM. Por que será?
Os hipócritas do PSDB e do DEM, que gostam tanto de bater panela "contra os corruptos", votaram em bloco a favor da corrupção institucionalizada. Porque o que foi aprovado é isso. Financiamento empresarial de partidos significa privatização da política para que as empresas, as corporações econômicas, o poder do dinheiro mande e desmande. Empresa não doa, faz investimento, e recebe em troca muito mais do que investiu. Não é por acaso que 255 dos atuais 513 deputados federais receberam para suas campanhas dinheiro das empreiteiras envolvidas na Operação Lava-Jato.
O Congresso deu as costas à população, mais uma vez, em defesa de obscuros interesses.
O financiamento empresarial da política prejudica sua vida cotidiana, porque quando o Estado serve aos interesses daqueles que pagaram as milionárias campanhas dos candidatos, os interesses do povo ficam relegados. E porque as enormes quantias de dinheiro que eles investem fazem com que seja muito difícil que os candidatos independentes do poder econômico (e, portanto, com campanhas pobres) se elejam.
Não deixemos essa aberração contra a democracia passar.
Proteste, reclame, mobilize-se, faça barulho, manifeste-se nas redes e nas ruas.
Diga não à contra-reforma de Cunha!

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