quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Pacto corrupto




Por Murilo Rocha
O Tempo

A tomada do poder arquitetada por parte do Congresso juntamente com o atual presidente da República, Michel Temer (PMDB), dia após dia dá mostras da real razão de ter-se perpetrado o impeachment: a manutenção de velhos acordos entre o Legislativo e o Executivo com o único objetivo de blindar e manter privilégios da classe política. As gravações feitas pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado com figurões do PMDB (Renan Calheiros, Romero Jucá e José Sarney) já apontavam, em maio deste ano, quando foram divulgadas, para a confecção dessa trama, mas, com os acontecimentos recentes, os grampos de Machado hoje podem ser considerados apenas uma pequena amostra do pacto corrupto firmado no andar de cima da política brasileira.

Se, no governo Dilma Rousseff (PT), a corrupção parecia disseminada, após sua saída ela tem caminhado para ser institucionalizada. Antes do impeachment, a tensão e os atritos entre o Planalto e o Congresso, além é claro da personalidade hermética da ex-presidente, não permitiam negociatas entre os Poderes realizadas à luz do dia ou em jantares para 200, 300 deputados. Uma das maiores críticas sobre Dilma, sua falta de trato com deputados e senadores, talvez daqui para a frente seja vista, inclusive por seus críticos, como sua grande virtude.

O caso flagrante de abuso de poder (prevaricação) do ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira – ele pressionou o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero para, via Iphan, liberar um empreendimento imobiliário no qual ele tem um apartamento de R$ 2,5 milhões –, é um exemplo do novo rearranjo das forças hegemônicas do país. Ato contínuo da repercussão negativa da denúncia contra Geddel, a tropa de choque do governo na Câmara se mobilizou rapidamente para blindar o ministro e, inclusive, impedir sua convocação para comissões em que daria “explicações” sobre o caso. Temer também não viu nada de mais na conduta do ministro, e segue o jogo.

Quase simultaneamente à blindagem de Geddel, a mesma base aliada de Temer se contorcia em malabarismos na Câmara dos Deputados para aprovar a anistia aos crimes de caixa 2. Até o fechamento desta coluna, às 21h de ontem, líderes partidários ligados ao Planalto e comandados pelo presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM), acertavam os detalhes para incluir a emenda ironicamente no pacote de medidas anticorrupção. Na prática, a proposta isenta de punição quem recebeu (ou alega ter recebido) dinheiro ilegal para financiar campanhas antes da aprovação do projeto.

Ou seja, inúmeros políticos envolvidos na Lava Jato, ainda mais depois do acordo de delação da Odebrecht, ficariam imunes a punições mais severas.

Sem o PT e Lula no horizonte – eleitos pela Lava Jato e por partes consideráveis da mídia e da sociedade brasileira como os causadores de todos os males dos últimos anos do Brasil –, a população vê, entorpecida, o país retroceder em todas as áreas a uma velocidade acelerada.

As esperanças oficiais do governo Temer, como disse ontem o presidente ao empossar o novo ministro da Cultura, têm mais ou menos a cara, as convicções e os compromissos com a mudança do recém-empossado titular da pasta: Roberto Freire. O Brasil vai mal.

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