sábado, 12 de outubro de 2013

Museu Casa Guimarães Rosa

 
Por Luiz Ricardo Péret                                                                                                           
                                                                                                                            
                                                                                                                              
Palavras da filha, escritora e biógrafa de Guimarães Rosa, Vilma Guimarães Rosa, em palestra proferida na Academia Mineira de Letras em 18 de agosto de 2008:

¨ No dia 30 de março de 1974 esta casa onde nasceu papai virou museu.
Inaugura-lo, foi uma grande emoção para mim e minha família. Graças à feliz
decisão do então Governador de Minas, Senhor Rondon Pacheco, adquirindo a
casa de meus avós e entregando-a ao Patrimônio Histórico, o Museu pôde ali
ser organizado. O Professor Luciano Amédée Péret dirigiu a restauração da
casa, procurando usar o máximo de fidelidade ao estilo anterior. A inauguração,
presidida pelo Governador Rondon Pacheco, foi muito bonita e animada, levando a Cordisburgo inúmeras personalidades ilustres. E algumas delas especiais, pois tendo sido amigos de infância de meu pai, se tornaram personagens de suas estórias¨.
Vilma Guimarães Rosa. Revista da Academia Mineira de Letras. Vol.XLIX .Julho,Agosto,Setembro, 2008.Pág. 13 à 34


A CASA MUSEU

¨A casa térrea, em adobe, foi construída na transição dos séculos XIX e XX. A cobertura, em quatro águas, apresenta telhas curvas. Os cunhais coloridos delimitam a fachada frontal, marcada por vãos de vergas retas e pela varanda lateral que anuncia o quintal e o jardim aos fundos. Se a descrição da casa da rua Padre João nº 744, em Cordisburgo, é similar à de outras incontáveis casas localizadas nos municípios mineiros, seu significado, no entanto, é distinto e a torna singular. Modesta e acolhedora é a casa onde João Guimarães Rosa viveu sua infância, de cujas janelas se veem a Estação e os trilhos da Estrada de Ferro que cortam longitudinalmente a cidade, compondo a paisagem, cuja representação é recorrente na obra do escritor.
Os cômodos falam da intimidade da vida em família, ainda hoje designados pela percepção da infância: sala de visita, quarto de hóspede, quarto escuro, quarto do pai e da mãe, da vovó, a cozinha e a venda do pai. À casa somam-se os acervos histórico-documentais de Guimarães Rosa : a coleção de fotografias; de documentos textuais, dentre certidões, diplomas, condecorações, correspondências, discursos, primeiras edições e originais de obras, os registros do escritor também como médico e diplomata; o acervo de objetos de uso pessoal (máquinas de escrever, ternos, gravatas e fardão), o mobiliário (cadeiras, sofás de palhinha, camas e armários), além dos equipamentos e fragmentos do universo rural presentes na literatura Roseana.¨
Silvana Cançado Trindade ( Guia de Bens Tombados IEPHA/MG - ed. 2011/2012)


Na casa , em novembro de 1974, instalou-se oficialmente o Museu Casa Guimarães Rosa, idealizado no contexto da morte do escritor, ocorrida em 1967, e da criação do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico  e Artístico/MG, em 1971. Adquirido pelo Estado, o imóvel passou a pertencer ao IEPHA/MG. A restauração da casa ficou à cargo do arquiteto e diretor-executivo do IEPHA/MG Luciano Amédée Péret, para implantação do Museu.

A seguir fotos do Museu logo após a restauração, em 1974:




 


 

Fotos do Museu Casa Guimarães Rosa: Assis Alves Horta

Nos anos 1980, a instituição passou por outra reforma .No cômodo frontal da casa, foi reconstituída uma venda típica das pequenas cidades mineiras, com o  propósito de representar o antigo comércio do pai do escritor, ¨a venda do seu Fulô¨, onde o menino Joãozito cresceu ouvindo histórias contadas pelos frequentadores do lugar.
O tombamento do Museu Casa Guimarães Rosa ocorreu em 2002 e coroou extensos esforços  no sentido de preservar e difundir o legado do grande escritor que foram iniciadas pelo IEPHA/MG em seus primórdios na década de 70.

Estado de Minas (por Gustavo Werneck):
Andar pelos cômodos do casarão da Avenida Padre João, onde nasceu João Guimarães Rosa (1908-1967), é descobrir mais sobre o mineiro que ganhou o mundo servindo como diplomata e com a obra traduzida para vários idiomas. À mostra, estão exemplares das primeiras edições de Sagarana, Corpo de Baile, Tutaméia; e claro, Grande Sertão Veredas; a coleção de gravatas-borboletas, traço inconfundível do figurino do escritor; o terno; a cartola; o diploma que recebeu ao tomar posse na Academia Brasileira de Letras em 16 de novembro de 1967 - três dias antes do seu falecimento; e o mobiliário - guarda-roupa, mesa do escritório, cadeira de balanço. Não poderia faltar jamais a máquina de escrever e ela está lá.
Ficam, também à disposição dos visitantes cerca de 700 documentos textuais, dentre os quais se destacam registros pessoais (certidões, correspondências, discursos, originais manuscritos ou datilografados, a exemplo de Tutaméia, última obra publicada) e do trabalho como médico e diplomata, além de fragmentos do universo rural presente na literatura Roseana.


¨ O mundo de Guimarães Rosa estendeu-se ¨para além das coisas¨, da matéria construída e do espaço museografado. Rosa pulsa por toda Cordisburgo, presente para sempre nas ruas, nas casas, na alma de seus moradores: na Igreja do Rosário e na Fazenda Bento Velho ( ambas citadas em Recados do Morro); na Escola Mestre Candinho ( onde Rosa aprendeu a ler); na antiga Estação Ferroviária (descrita no conto Soroco, sua mãe e sua filha); no Jardim Sagarana (onde havia um curral de embarque de gado, no tempo de infância de Joãozito) e, também, por meio de extensa agenda cultural de Cordisburgo, cujos eventos são promovidos pelo Museu e pela comunidade.¨
(Silvana Cançado Trindade)

 
¨ O CORRER DA VIDA EMBRULHA TUDO. A VIDA É ASSIM : ESQUENTA E ESFRIA, APERTA E DAÍ AFROUXA, SOSSEGA E DEPOIS DESINQUIETA. O QUE ELA QUER DA GENTE É CORAGEM ...¨
Guimarães Rosa
 
 
O DESAPARECIMENTO PREMATURO 
¨Ainda no vigor de seus 59 anos intensamente vividos, ao anoitecer de um domingo de novembro de 1967, Rosa surpreendeu mais uma vez sua família, seu círculo de amigos e a multidão de leitores de sua obra, pouco após o dobre dos sinos, anunciando a Hora do Ângelo. "As pessoas não morrem, elas ficam encantadas", dissera o romancista apenas três dias antes, em concorrida cerimônia na Academia Brasileira de Letras. E naquele ocaso - acaso? - de um 19 de novembro, Rosa ficou para sempre encantado - tornou-se um mito, talvez o maior e mais duradouro dos mitos da cultura brasileira¨.
( site: elfikurten.com.br)  
 
 
Fontes:                                                                                                                                            
-Acervo Luciano Amédée Péret
                                                                                                             
 
- Revista da Academia Mineira de Letras. Vol. XLIX. Julho, Agosto, Setembro,2008. Vilma Guimarães Rosa, pág. 13 à 34. Edição dedicada às comemorações do centenário de nascimento do escritor Guimarães Rosa.    
                                                                                                             
        - Guia dos Bens Tombados IEPHA/MG. Museu Casa Guimarães Rosa. Silvana Cançado Trindade. Ed. 2011/2012

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