quarta-feira, 29 de abril de 2020

País não vai esquecer a responsabilidade de Bolsonaro na tragédia do Covid-19, por Paulo Moreira Leite



Por Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia
Quando o Brasil superou a China na contabilidade de mortos pela covid-19, Bolsonaro reagiu como se não tivesse nada a ver com o assunto: "E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre".
A reação seria inadequada na boca de qualquer governante, mesmo que tivesse uma atuação impecável no luta contra o novo coronavírus.
No caso de Bolsonaro, não passa de uma tentativa desrespeitosa de esconder suas imensas responsabilidades pela dor, o luto e as milhares de mortes em função de uma epidemia que seu governo jamais encarou com seriedade e nunca enfrentou com o cuidado necessário, contribuindo para agravar uma situação que hoje se encontra perto do insuportável.
Após um ano e quatro meses de governo, o Brasil não espera milagres de um presidente com uma gestão medíocre, marcada pela irresponsabilidade social e o servilismo aos grandes interesses. Mas tem o direito de exigir que não tome iniciativas para agravar uma epidemia terrível, sem cura nem vacina, exatamente como tem feito até agora. São vários exemplos.
Foi sua a iniciativa de substituir um ministro da Saúde que praticava o feijão-com- arroz da Organização Mundial de Saúde para empossar um assessor de campanha incapaz de produzir uma única ideia útil para enfrentar uma pandemia que desafia a medicina mundial.
"É crime comum, praticado a luz do dia", acusa o professor Conrado Hubner Mendes, da cadeira de Direito Constitucional da Universidade de São Paulo.
O artigo 268 foi escrito em 1940 e hoje permite qualificar o papel de Bolsonaro diante do covid-19 como ato criminoso, a ser punido com cadeia.
Naquele Brasil que duas décadas antes enfrentara a gripe espanhola, numa época anterior aos antibióticos e às técnicas modernas de respiração artificial, o artigo 268 agrava a pena em um terço caso o crime que tenha sido cometido por funcionário público, categoria que obviamente inclui o Presidente da República.
Se as hostilidades contra o quarentena implicam em sabotar a única providência conhecida, até hoje, para impedir "propagação de doença contagiosa", estimulando parcelas crescentes da população a enfrentar riscos desnecessários de contágio, as responsabilidades de Bolsonaro são anteriores.
Na posse, em 2019, seu governo conservou a Lei do Teto de Gastos, que retirou R$ 20 bilhões do Sistema Único de Saúde, recursos que seriam suficientes para equipar a rede pública de material e pessoal. AS UTIs não seriam tão raras, nem seus equipamentos, tão deteriorados.
Capaz de prejudicar a saúde da população carente das periferias e bairros afastados apenas para alimentar a propaganda contra o regime de Cuba, Bolsonaro organizou o desmonte do Mais Médicos antes de tomar posse, desmobilizando 6000 médicos naturais daquele país. Com isso, brasileiros e brasileiras mais carentes ficaram menos assistidos, menos protegidos -- contribuindo para transformar um quadro de dificuldades controláveis numa bola de neve a caminho do colapso do sistema de saúde, já visível em vários pontos do horizonte.
Querendo tirar foto em posição ombro-a-ombro com o topete de Trump em suas pressões imperiais sobre a China, os filhos e amigos de Bolsonaro multiplicaram declarações ofensivas contra Pequim, dificultando negócios com um país que possui o monopólio mundial de equipamentos e insumos médicos.
"Bolsonaro está começando a colher o que semeou ao acusar ou deixar que seu filho acusasse a China de ser responsável pela pandemia”, resumiu o diplomata Rubens Ricupero, assim que surgiram as primeiras dificuldades com o gigante asiático que, além de tudo, é nosso maior parceiro comercial.
Diante de uma tragédia com a envergadura da Covid-19, a postura de Bolsonaro mostra apenas uma tentativa de desmobilizar brasileiros que arregaçaram as mangas para lutar por suas vidas, seus filhos e suas famílias.
Com tamanha falta de respeito, essa atitude demonstra, mais uma vez, a pequena estatura do presidente.
Neste momento, o país está testando a própria História, engajando-se num processo de superação nacional para ir além dos próprios limites para garantir a sobrevivência com o menor dano, o menor sofrimento possível. É um momento que ninguém será capaz de esquecer.
Quem não compreendeu isso, e prefere atrapalhar em vez de ajudar, como o desprezível Bolsonaro, será chamado a prestar contas em seu devido momento.
Alguma dúvida?

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