sábado, 13 de agosto de 2016

Revista francesa define a expressão certeira: Golpe de Veludo, mistura de cambalacho e golpe de Estado

Luciana Hidalgo
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"Va-t-en Temer !" : les Brésiliens, les Jeux Olympiques et le coup d'État


LE PLUS. Le Brésil accueille cette année les Jeux Olympiques dans un contexte politique plus que particulier. Vice-président propulsé président suite à la chute de Dilma Rousseff, à laquelle il contribua décisivement, Michel Temer est aujourd'hui obligé de se cacher de son peuple tant la haine envers lui est forte. Explications de Armelle Enders, historienne.


Na importantíssima revista semanal francesa Le Nouvel Observateur, a historiadora Armelle Enders resume o que aconteceu no Brasil como “Golpe de Veludo”. Faltava a expressão certa para esse golpe que entrará para a História. Golpe de Veludo. Ou seja, golpe à brasileira, o golpe do jeitinho, do cambalacho, um acordo entre cavalheiros, quer dizer, cambalacheiros. O artigo é tão bom que me dei ao trabalho de traduzir (boa parte). Mas como é cruel nos enxergarmos assim, a olhos externos, com todas as nossas mazelas ditas, toda a imprensa internacional, unânime, expondo a nossa vergonha! E no Brasil ainda tem quem não queira ver. Daí a expressão certeira: Golpe de Veludo.

Trechos do artigo:

“GOLPE, em português, significa COUP em geral, COUP D'ÉTAT, mas também significa, segundo o dicionário, ‘uma manobra desonesta destinada a enganar’, um cambalacho enfim. A destituição de Dilma Rousseff envolve ao mesmo tempo cambalacho e golpe de Estado.

Trata-se de um golpe de Estado porque as conversas registradas em gravações, confiadas à Justiça e divulgadas na imprensa, provam claramente que os caciques do PMDB (o partido do vice-presidente Temer) decidiram substituir Dilma Rousseff por ele para frear as investigações sobre o enorme escândalo de corrupção da Petrobras. As conversas expõem de forma crua o complô, os motivos e suas ramificações, que levam até o Supremo Tribunal Federal. Trata-se também de um golpe de Estado porque a manobra trai o espírito da Constituição de 1988, modificando o equilíbrio das instituições.

(...) A destituição puramente política de Dilma Rousseff, reeleita em 2014, acentua o enfraquecimento do Executivo em relação a um Legislativo muito desacreditado e envolvido em casos de corrupção.

Trata-se de um cambalacho porque o governo interino, que deveria lutar contra a corrupção e salvar as finanças públicas, mostrou rapidamente a sua cara. Vários ministros importantes, verdadeiras quinquilharias ambulantes, tiveram de se demitir precocemente por sua grande implicação nos casos de corrupção. Quanto às finanças públicas, Temer começou seu mandato dando 40% de aumento aos funcionários públicos, especialmente aos da Justiça, e transformou o déficit de 96 milhões de reais (sob Dilma Rousseff) em 170 milhões de reais! Uma parte desse déficit pode ser considerada a fatura do impeachment, incluídos aí os presentes aos amigos e a compra de toda sorte de adesão.

Trata-se de um cambalacho político porque levou ao governo todos os vencidos e coadjuvantes de eleições presidenciais recentes: o PMDB, partido de notáveis que nunca chega a eleger alguém à presidência e que se aproveitou da aliança com o PT para fazer parte do Executivo; o PSDB, cujos candidatos tinham sido vencidos consecutivamente quatro vezes, por Lula e depois por Dilma, agora tem um pé no governo Temer, depois de 14 anos de oposição.

A próxima etapa é a eliminação política de Lula, que lidera as pesquisas numa eventual eleição presidencial em 2018. Há uma relação perturbadora entre as intenções de voto favoráveis a Lula e as pressões da Justiça sobre sua pessoa.

O último ato do Golpe de Veludo não vai acabar com a condenação de Dilma Rousseff e traz sua dose de suspense. Lula será preso? O PT será o único bode expiatório da corrupção? Entre as dezenas de nomes de políticos citados pelos arrependidos nas delações premiadas, quantos serão condenados e cumprirão pena? Uma vez passada a tempestade, a impunidade e a corrupção continuarão a reinar como sempre?

Sem dúvida, é com isso que Michel Temer, golpista maquiavélico e empregadinho das velhas oligarquias brasileiras, conta. Esse golpe de Estado visa à restauração da ordem política e social que alguns gostariam que fosse eterna no Brasil, uma dosagem sábia entre a pilhagem do país por suas classes dominantes e os resultados econômicos que agradam ao capitalismo internacional e asseguram uma relativa paz social. Um país de sonho onde os negros permaneceriam nas plantações e nas cozinhas, as mulheres em casa e os homossexuais no armário.

Nesse sentido, o governo Temer, composto de homens brancos septuagenários envolvidos em processos na Justiça, é mais do que um governo: é um manifesto.”


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