segunda-feira, 25 de julho de 2016

Grande Sertão: Veredas; Antônio Cândido sobre Guimarães Rosa

O maior crítico literário brasileiro completou 98 anos. Sociólogo, literato e professor, Antonio Candido desenvolveu uma obra crítica extensa e respeitada, não se limitando à literatura brasileira.


                        Nasceu no dia 24 de julho de 1918. 
Além dos estudos acadêmicos voltados à literatura, Antonio Candido também desempenhou papel forte na política do Brasil. Por meio de documentos, textos e artigos, Candido demonstrou sua militância política na vertente socialista para lutar contra os inúmeros embates com os modos oligárquicos e autoritários. A partir do Estado Novo, passando pela Ditadura Militar, Antonio Candido fez uma reflexão da complexidade política vivenciada no país.

Ao longo de seus 98 anos de vida, O crítico já recebeu quatro Prêmios Jabuti e um Prêmio Camões. Destacar suas principais obras é tarefa difícil, devido à importância de cada uma delas, mas há obras que são consideradas os pilares da crítica sociológica e da literatura brasileira, como Ficção e confissão: estudo sobre a obra de Graciliano Ramos (1956), Formação da literatura brasileira: momentos decisivos (1959),Literatura e sociedade: estudos de teoria e história literária (1965), Formação da literatura brasileira (1975),A educação pela noite e outros ensaios (1987), O estudo analítico do poema (1987), O discurso e a cidade (1993) e O Romantismo no Brasil (2002).
Fonte: livre opinião

Veja a análise de Antônio Cândido sobre a obra de Guimarães Rosa, destacando Grande Sertão: Veredas




Grande Sertão Veredas: Antônio Cândido sobre Guimarães Rosa

GGN
Gilberto Cruvinel


O regionalismo que não é regionalismo, uma universalidade a mais particular possível
Antonio Candido

O grande milagre do Guimarães Rosa que é a ambiguidade suprema, que neste caso está não no livro, mas nele também, é o seguinte: é que ele tomou uma tendência muito cansada da literatura brasileira que é o regionalismo. O pitoresco da linguagem, o arcaismo, o tema caipira, o tema regional, o tema jagunço, o tema caboclo. Isso já era uma coisa muito sovada, muito gasta. Praticamente, considerava-se que a literatura brasileira já tinha saído disso.
No momento em que se considera, a crítica pensava mais ou menos isso, surge um homem que fechado, fechado hermeticamente dentro do universo do sertão com uma exuberância verbal extraordinária, com aquilo que era considerado ruim na tradição brasileira que era a exuberância de linguagem, com aquilo que era considerado ruim que era o regionalismo, com aquilo que era considerado perigoso, que era o pitoresco. Ele parte de tudo isso e consegue fazer uma coisa inteiramente nova, consegue fazer uma ficção, como eu disse, de tipo realmente universal com todos os grandes problemas do homem, tanto assim que eu pensando neste caso, como é que se pode resolver este paradoxo? De um regionalismo que não é regionalismo e de uma universalidade que é mais particular possível.
Ele fez o livro que supera o regionalismo, ele fez através do regionalismo. Esse, do ponto de vista da composição literária, a meu ver é o paradoxo supremo. Tanto assim que eu me senti obrigado a criar uma nova categoria que é transregionalismo ou surregionalismo. Assim como você fala em surrealismo, você pode falar, no caso de Guimarães Rosa, em surregionalismo. Fenômeno, aliás, que nós verificamos, pouco depois ou ao mesmo tempo em outros lugares da América Latina. Nós encontramos, por exemplo, em Gabriel Garcia Marquez, nós encontramos em Juan Rulfo, nós encontramos em Mario Vargas Lhosa, nós encontramos em Alcides Arguedas. Esse enraizamento profundo no temário regional pitoresco com uma linguagem transfiguradora, moderna que não tem nada a ver com a linguagem do regionalismo tradicional.



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