segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Tortuosos caminhos da igualdade racial na educação

Mais um destaque do Caderno fHist que circulou encartado na edição de domingo do jornal O Tempo.

Caderno fHist
4 Festival de História - Diamantina

"...Não tenho nada com isso, seu Dito, mas vocês de cor são feitos de ferro. O lugar de vocês é dar duro na lavoura. Além de tudo, estudar filho é besteira. Depois eles se casam e a gente mesmo...

...É que eu não estou estudando ela para mim...disse meu pai.- É pra ela mesma."
(Leite de Peito, de Geni Guimarães)

Macaé Evaristo falou que o direito à educação sempre                         foi um desafio para os negros

A educadora Macaé Evaristo, no 4 fHist, leu um trecho de um conto autobiográfico da escritora negra Geni Guimarães para abrir a sua exposição na mesa da História da luta das mulheres. " Nem era preciso dizer mais; a literatura desnuda as relações raciais e as formas de opressão vividas pela população negra do nosso país, afirmou.

O direito à educação sempre foi um desafio para os negros, destacou Macaé.  Citou que no Império, os escravos eram proibidos de se matricular nas escolas públicas. Após a Lei do Ventre Livre (1871), decretos proibiram a escolarização de negros libertos menores de 14 anos, permitindo aos maiores somente estudar no período noturno e "se o professor aceitasse".

" Isso vai marcar a história da nossa educação ao longo do século XX, lutas que foram de famílias se reunindo para educar seus filhos ou de entidades, como a Frente Negra", afirmou.

A educadora citou a 1 Conferência  Mundial de Durban, na África do Sul, em 2001, como um marco contemporâneo para os movimentos negros. A partir dela, cresceu a luta por políticas públicas de transformação e há a desmistificação da ideia da democracia racial, "aquela que o negro sabe o seu lugar".

Com as lutas dos movimentos e o Governo Lula viriam, então, a Lei número 10.639, de ensino de História e Cultura Afro-Brasileira; a Lei das Cotas e o Estatuto  da Igualdade  Racial. "Com a Lei das Cotas, de 2012, o racismo no Brasil mudou sua etiqueta", afirmou, e de um comportamento "polido", passou a ser agressivo e a ter até ativistas.

"Escola do Pensamento Único"

Macaé abordou o momento "selvagem" de retrocessos sociais, políticos e culturais após  o impeachment  da presidenta Dilma e alertou para a ameaça da "Escola sem partido", que se articula através  das câmaras de vereadores e teve atuação forte nas discussões dos Planos Municipais  de Educação. "Em São Paulo, há casos de vereadores que se atrevem a entrar nas escolas e vigiar a atuação dos professores. Como se ensina a História assim? Como combater a violência sexual sem o apoio da escola?", questionou.

Para Macaé, o nome, " Escola Sem Partido", foi um "marketing" bem feito porque esconde o real: uma "Escola do Pensamento Único".
 "Nossa luta será longa, mas com muita força e esperança", previu.

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