segunda-feira, 30 de março de 2020

Papa Francisco: coronavírus e risco de “genocídio viral”


Vaticans News




O Papa escreveu uma carta ao presidente da Comissão Pan-Americana de Juízes para os Direitos Sociais, Roberto Andrés Gallardo, apreciando a escolha dos governos que em tempos de Covid-19 colocaram a saúde social em primeiro lugar.
Mariangela Jaguraba - Cidade do Vaticano
O Papa Francisco enviou uma carta, no último sábado (28/03), ao presidente da Comissão Pan-Americana de Juízes para os Direitos Sociais, dr. Roberto Andrés Gallardo, alertando os governos que não adotam medidas para defender a população do Covid-19 e com uma reflexão sobre as consequências sociais a serem enfrentadas.

“Estamos todos preocupados com o crescimento, em progressão geométrica, da pandemia. Estou feliz com a reação de tantas pessoas, médicos, enfermeiros, enfermeiras, voluntários, religiosos, sacerdotes que arriscam suas vidas para curar e defender as pessoas saudáveis do contágio”, ressalta Francisco na missiva.
O Papa destaca que “alguns governos adotaram medidas exemplares com prioridades bem definidas para defender a população”.
“É verdade que essas medidas “incomodam” aqueles que são obrigados a cumpri-las, mas é sempre para o bem comum e, a longo prazo, a maioria das pessoas as aceita e se move com uma atitude positiva. Os governos que enfrentam a crise mostram a prioridade de suas decisões: primeiro as pessoas. E isso é importante, pois sabemos que defender as pessoas supõe um prejuízo econômico”, destaca Francisco.
Segundo o Papa, “seria triste se o oposto fosse escolhido, o que levaria à morte de muitas pessoas, algo como um genocídio viral”.
A seguir, o Pontífice refere ao juiz que na última sexta-feira (27/03), fez uma reunião com o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral a fim de refletir sobre o agora e o depois. “Preparar-nos para o depois é importante”, ressalta o Papa na carta.
Segundo Francisco, já se notam algumas consequências da pandemia do Covid-19 que devem ser enfrentadas, como por exemplo a fome, especialmente pelas pessoas sem trabalho fixo, violência, surgimento de agiotas, e tantos outros efeitos.
Em relação “ao futuro econômico”, o Papa recorda a visão interessante da economista Mariana Mazzucato, professora da University College London contida no livro “O valor de tudo. Quem produz e quem subtrai na economia global”, publicado em 2018, ressaltando que tal pensamento “ajuda a pensar o futuro”.
O livro conta como especuladores e rentistas fingem ser criadores de valores na economia global e lança um apelo a fim de repensar o valor como a chave para criar um mundo diferente e melhor.

sexta-feira, 27 de março de 2020

Papa: ilusão achar ‘que continuaríamos sempre saudáveis em um mundo doente’

Vaticans News



Papa Francisco: Abraçar o Senhor para abraçar a esperança

Com o cenário inédito da Praça São Pedro vazia com o Papa Francisco diante da Basílica Vaticana, o Pontífice afirmou que é "diante do sofrimento que se mede o verdadeiro desenvolvimento dos povos”. Francisco falou ainda da ilusão de pensar "que continuaríamos sempre saudáveis num mundo doente".
Bianca Fraccalvieri - Cidade do Vaticano
Abraçar o Senhor para abraçar a esperança: esta é a mensagem do Papa Francisco aos fiéis de todo o mundo que, neste momento, se encontram em meio à tempestade causada pela pandemia do coronavírus.
Diante de uma Praça São Pedro completamente vazia, mas em sintonia com milhões de pessoas através dos meios de comunicação, o trecho escolhido para a oração dos féis foi a tempestade acalmada por Jesus, extraído do Evangelho de Marcos.
E foi esta passagem bíblica que inspirou a homilia do Santo Padre, que começa com o “entardecer…”.
“Há semanas, parece que a tarde caiu. Densas trevas cobriram as nossas praças, ruas e cidades; apoderaram-se das nossas vidas, enchendo tudo de um silêncio ensurdecedor e de um vazio desolador… Nos vimos amedrontados e perdidos.”

Estamos todos no mesmo barco

Estes mesmos sentimentos, porém, acrescentou o Papa, nos fizeram entender que estamos todos no mesmo barco, “chamados a remar juntos”.
Neste mesmo barco, seja com os discípulos, seja conosco agora, está Jesus. Em meio à tempestade, Ele dorme – o único relato no Evangelho de Jesus que dorme – notou Francisco. Ao ser despertado, questiona: «Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» (4, 40).
“A tempestade desmascara a nossa vulnerabilidade e deixa a descoberto as falsas e supérfluas seguranças com que construímos os nossos programas, os nossos projetos, os nossos hábitos e prioridades. Mostra-nos como deixamos adormecido e abandonado aquilo que nutre, sustenta e dá força à nossa vida e à nossa comunidade.”

A ilusão de pensar que continuaríamos saudáveis num mundo doente

Com a tempestade, afirmou o Papa, cai o nosso “ego” sempre preocupado com a própria imagem e vem à tona a abençoada pertença comum que não podemos ignorar: a pertença como irmãos.
“Na nossa avidez de lucro, deixamo-nos absorver pelas coisas e transtornar pela pressa. Não nos detivemos perante os teus apelos, não despertamos face a guerras e injustiças planetárias, não ouvimos o grito dos pobres e do nosso planeta gravemente enfermo. Avançamos, destemidos, pensando que continuaríamos sempre saudáveis num mundo doente. Agora, sentindo-nos em mar agitado, imploramos-Te: «Acorda, Senhor!»”
O Senhor então nos dirige um apelo, um apelo à fé. Nos chama a viver este tempo de provação como um tempo de decisão: o tempo de escolher o que conta e o que passa, de separar aquilo que é necessário daquilo que não é. “O tempo de reajustar a rota da vida rumo ao Senhor e aos outros.”  

A heroicidade dos anônimos

Francisco cita o exemplo de pessoas que doaram a sua vida e estão escrevendo hoje os momentos decisivos da nossa história. Não são pessoas famosas, mas são “médicos, enfermeiros, funcionários de supermercados, pessoal da limpeza, transportadores, forças policiais, voluntários, sacerdotes, religiosas e muitos – mas muitos – outros que compreenderam que ninguém se salva sozinho”.
“É diante do sofrimento que se mede o verdadeiro desenvolvimento dos nossos povos”, afirmou o Papa, que recordou que a oração e o serviço silencioso são as nossas “armas vencedoras”.
A tempestade nos mostra que não somos autossuficientes, que sozinhos afundamos. Por isso, devemos convidar Jesus a embarcar em nossas vidas. Com Ele a bordo, não naufragamos, porque esta é a força de Deus: transformar em bem tudo o que nos acontece, inclusive as coisas negativas. Com Deus, a vida jamais morre.

Temos uma esperança

Em meio à tempestade, o Senhor nos interpela e pede que nos despertemos. “Temos uma âncora: na sua cruz fomos salvos. Temos um leme: na sua cruz, fomos resgatados. Temos uma esperança: na sua cruz, fomos curados e abraçados, para que nada e ninguém nos separe do seu amor redentor.”
Abraçar a sua cruz, explicou o Papa, significa encontrar a coragem de abraçar todas as contrariedades da hora atual, abandonando por um momento a nossa ânsia de onipotência e posse, para dar espaço à criatividade que só o Espírito é capaz de suscitar. “Abraçar o Senhor, para abraçar a esperança.” Aqui está a força da fé e que liberta do medo. Francisco então concluiu:
 “Deste lugar que atesta a fé rochosa de Pedro, gostaria nesta tarde de confiar a todos ao Senhor, pela intercessão de Nossa Senhora, saúde do seu povo, estrela do mar em tempestade. Desta colunata que abraça Roma e o mundo, desça sobre vocês, como um abraço consolador, a bênção de Deus. Senhor, não nos deixes à mercê da tempestade.”
Ao final da homilia, o Pontífice adorou o Santíssimo e concedeu a bênção Urbi et Orbi, com anexa a Indulgência Plenária.
Senhor, não nos deixes à mercê da tempestade!

quarta-feira, 25 de março de 2020

Vermes se alimentam de cadáveres, por Marcelo Zero

Por Marcelo Zero

O helminto que desgoverna o Brasil cometeu um pronunciamento inacreditável. 

Na contramão da ciência, da OMS, das boas medidas dos governadores e de todos os países sérios do mundo, o helminto falante ou o “helminto quando falo”, voltou a dizer que o covid-19 não passa de uma “gripezinha” e que as pessoas deveriam abandonar os cuidados do isolamento social, que as escolas deveriam ser reabertas, bem como shoppings, restaurantes etc. 

Para ele, tudo isso não passa de histeria alimentada, claro, pela imprensa. 

E que o problema da Itália é ter muitos velhos e um inverno rigoroso. Nós, jovens tropicais, podemos ficar tranquilos.

Vaidoso, o musculoso helminto afirmou que, ante o seu “histórico de atleta”, o covid-19 não lhe traria problemas. Ainda não sabemos se o covid-19 concorda.

Não, o helminto não está louco. Tem, sem dúvida, sérias limitações cognitivas, mas não é um celerado. Sabe o que faz. Mente com propósito. 

O helminto está simplesmente defendendo os interesses das oligarquias parasíticas que o colocaram no poder.

Ele e sua gloriosa equipe de invertebrados neoliberais estão fazendo o que os americanos chamam de bean counting.

A expressão ficou famosa quando o grande defensor dos consumidores, Ralph Nader, acusou as grandes montadoras de automóveis de vender modelos que elas sabiam ser muito inseguros. 

Como era o esquema? Os contadores das companhias calculavam quantas pessoas iriam morrer, por ano, em razão da insegurança de um determinado modelo. 

Em seguida, calculavam quanto teriam de pagar de indenização para cada família. 

Feito isso, comparavam os custos totais das indenizações com o custo de fazer um recall e corrigir os problemas que iriam matar os consumidores.

Como o custo de recall era consideravelmente mais alto que os custos (baixos, na época) das indenizações, optava-se por não alertar os consumidores e deixá-los morrer. 

Feijões contados.

O helminto faz o mesmo com o povo que despreza. 

Deixar morrer de covid-19 é mais barato do que combater a sério a epidemia.

Combater eficazmente a epidemia implica aumentar bastante os gastos com saúde pública e não os reduzir, como o governo de vermes vinha fazendo. 

Além disso, implica tomar robustas medidas anticíclicas para manter a renda da população que terá de ficar em casa, proteger os mais vulneráveis do setor informal, manter os pequenos negócios etc.

Governos minimamente responsáveis vêm fazendo exatamente isso. 

Até os EUA, terra do liberalismo econômico, acaba de aprovar um pacote de estímulos de cerca de US$ 2 trilhões. 

Vão dar mil dólares por mês para que as famílias possam ficar em casa durante a crise.

Mas o verme pinochetista não gasta dessa opção. 

Por isso, apresentou um pacote que não prevê dinheiro novo para entrar na economia e que até estabelecia não pagamento de salários para os trabalhadores.

Os vermes não querem comprometer suas metas fiscais ortodoxas, o austericídio eterno e agenda ultraneoliberal que vem arrasando o país há 4 anos. 

Ao contrário, querem usar o desastre do coronavírus para apressá-la e aprofundá-la. 

Além disso, tomar medidas anticíclicas robustas significaria reconhecer, definitivamente, o fracasso irremediável do descaminho neoliberal para resolver a crise do Brasil e a incompetência de um governo de amebas.

Nesse sentido, deixar o barco correr, deixar a seleção natural seguir seu curso, como aconteceu na pandemia da gripe espanhola, é bem mais barato, seguindo a lógica perversa do bean counting, do que ser responsável e humanitário. 

Se morrer muita gente, será, em sua maioria, gente pobre e dispensável, facilmente substituível. 

E, se o custo político ameaçar ficar muito alto, pode-se botar a culpa na China e no PT. 

Em última instância, pode-se até usar a crise para fechar o regime, o grande sonho dos seres rastejantes.

O helminto declarou, certa vez, que o erro da ditadura foi não ter matado umas 30 mil pessoas. 

Quem sabe agora ele não ultrapasse essa meta? 

Quem sabe essa não é a verdadeira intenção do helminto?

Não, o helminto e as oligarquias parasíticas que o colocaram lá não querem saber de gastar dinheiro com pobres. 

Não querem salvar vidas. Nem sequer pensam em salvar o Brasil. 

Pensam apenas em seus interesses imediatos e mesquinhos.

Afinal, vermes se alimentam de cadáveres.

sexta-feira, 20 de março de 2020

Paulo Guedes e Bolsonaro atacam os trabalhadores



A pandemia usada para esmagar trabalhadores

Enquanto medidas para proteger emprego e renda são implantadas no mundo todo, Paulo Guedes autoriza cortes de 50% nos salários. Desemprego abaterá milhões, mas ministro está disposto a sacrificar população em prol do mercado
Por José Álvaro de Lima Cardoso| Imagem: John Langley HowardCalifornia Industrial Scenes (1933)
A crise econômica mundial que se avizinha – bafejada agora pelo coronavírus — pegará o Brasil, como até as pedras já previam, no contrapé. Antes da pandemia, a fragilidade externa do país já tinha aumentado muito, a partir das medidas do golpe de 2016. Por exemplo, o governo Bolsonaro está queimando as reservas internacionais deixadas pelo governo Dilma Rousseff, na tentativa de deter o aumento do câmbio. Somente em março o Banco Central já injetou US$ 15,245 bilhões em recursos novos no mercado de câmbio, tentando conter a escalada do dólar. Mesmo assim o real foi a terceira moeda que mais se desvalorizou no mundo, perante o dólar norte-americano, em 2020.
Um dos vários efeitos demolidores do Corona se deu sobre a economia chinesa, principal motor da economia mundial há muitos anos. A produção industrial caiu 13,5% no primeiro bimestre, em relação ao mesmo período do ano passado, uma queda superior à verificada na crise de 2008. Dos 41 maiores setores industriais, 39 tiveram redução na produção. As exceções foram petróleo e gás, e tabaco. Há previsões de que a queda no PIB chinês, no primeiro bimestre do ano, possa chegar a 13%. Como seria de esperar a economia como um todo mergulhou: vendas no varejo encolheram 20,5% ao ano no bimestre, a taxa de investimentos caiu 24,5%, a construção de imóveis caiu 44,9% nos dois primeiros meses do ano. Como os dados do primeiro bimestre incluem duas semanas de janeiro, nas quais a economia funcionou normalmente, tudo indica que os dados de março serão ainda mais devastadores.
A nós, meros mortais comuns, é sonegada muita informação, pois os donos do dinheiro não têm interesse em divulgar certas coisas. É, portanto, muito difícil estimar o risco de a crise contaminar a economia mundial como um todo, o chamado “risco sistêmico”. Segundo alguns analistas1 o risco dessa crise afetar o sistema mundial é muito mais grave em 2020, do que foi em 1979, 1987 ou 2008. Segundo o jornalista, informações de bastidores indicam que, nesta crise, o risco é mais alto de contaminação do mercado de derivativos, o que envolve trilhões de dólares. É uma verdadeira fábula de dinheiro aplicada em papéis sem lastro, investimentos financeiros completamente descolados da esfera real da economia.
Dois sintomas de que o risco sistêmico é elevado, apesar de a informação estar dissimulada pela maioria dos analistas internacionais: a) O Fed (banco central norte-americano) eliminou exigências de reservas bancárias nos bancos comerciais, o que significa uma expansão, como lembrou Pepe Escobar no artigo citado, “potencialmente ilimitada de crédito, para evitar uma implosão dos derivativos, decorrente de um colapso total de bolsas de mercadorias e ações em todo o mundo”; b) O governo alemão anunciou no dia 13/03 empréstimos “ilimitados”, que podem chegar a 550 bilhões de euros, para amparar as empresas em função da pandemia. Este plano de ajuda às empresas na Alemanha é mais significativo do que o utilizado na crise financeira de 2008. A crise na Alemanha, como no mundo, também é anterior ao coronavírus: considerado o motor da economia europeia, a Alemanha cresceu meros 0,6% em 2019, uma notável e clara desaceleração em relação a 2017 (2,5%) e 2018 (1,5%). A crise sanitária apenas piorou muito uma situação que já era ruim.
A pandemia, segundo a OIT na previsão mais moderada, poderá aumentar em 5,3 milhões o número de desempregados no mundo. No pior cenário, é possível que o número de desempregados cresça em 24,7 milhões, num universo, segundo a Organização, de 188 milhões de desempregados em 2019. Conforme previsão da OIT aumentará também o subemprego, com as inevitáveis reduções das jornadas de trabalho e dos salários. A Organização divulgou um cálculo da perda de renda pelos trabalhadores, com a crise, que deve ficar entre US$ 860 bilhões e US$ 3,4 trilhões até o fim deste ano.
A perspectiva de uma grande crise internacional, acelerada por uma brutal pandemia, está levando governos a optarem por ações drásticas, em todo o mundo. Não apenas no campo fiscal, tributário e creditício, mas em áreas diretamente ligadas ao controle da doença. Por exemplo, na Espanha o governo determinou que as autoridades de saúde estatais do país assumam o controle de hospitais privados, para atender e hospitalizar pacientes com coronavírus. Segundo o ministro da saúde da Espanha, a medida visa garantir por todos os meios a saúde e o interesse público e permitir que os cidadãos possam ser atendidos em condições de igualdade. O Ministério da Saúde espanhol determinou também que as empresas e laboratórios particulares que façam diagnósticos ou produzam máscaras e outros utensílios que possam ser usados no combate ao coronavírus, devem informar ao governo da sua existência e da sua capacidade produtiva em até 48 horas.
Em vários países se adotam medidas que protegem as pessoas da doença, e ao mesmo tempo procuram amortecer o impacto econômico e social para a população, preservando o emprego e a renda. Mas o governo e o parlamento brasileiros fazem exatamente o contrário, utilizando a crise como pretexto para a liquidação de direitos. Por exemplo, no dia 17/03, a portas fechadas, uma comissão mista do Congresso Nacional aprovou a Medida Provisória (MP) 905, conhecida como Carteira de Trabalho Verde e Amarela. A medida reduz garantias relacionadas aos acidentes de trabalho e modifica, de 8% para 2%, a alíquota de contribuição ao FGTS paga pelo empregador. Também diminui de 40% para 20% a multa paga em caso de demissão, por exemplo.
Ao mesmo tempo o ministro da economia vem tentando acelerar no Congresso o processo de privatização da Eletrobras, aproveitando enquanto a sociedade tenta manter a saúde e sobreviver, ainda que à duríssimas penas. O mesmo Paulo Guedes recentemente listou 19 projetos ao Congresso, que são prioritários para o governo, absolutamente todos na direção de retirar direitos, enfraquecer o Estado e vender patrimônio público (dentre eles, autonomia do Banco Central, o Marco Legal do Saneamento e a MP do Emprego Verde Amarelo).
Nessa mesma lógica antipovo e de vergonhosa subserviência ao capital, o governo anunciou no dia 18 uma Medida Provisória que, dentre outras coisas, permitirá que as empresas reduzam em até 50% a jornada de trabalho e o salário dos seus empregados. Além da redução da jornada e salários as empresas poderão antecipar férias individuais, decretar férias coletivas e usar o banco de horas para dispensar os trabalhadores do serviço. Também poderão antecipar feriados não religiosos. A MP ainda permitirá ações visando simplificar o teletrabalho e a suspensão da obrigatoriedade dos exames médicos e treinamento obrigatórios.
Não fosse este o governo mais inimigo do povo de toda a história do Brasil, seria o momento para medidas fortes de proteção do emprego e da renda dos trabalhadores (que são 95% da população). Seria o momento de proibir demissões sem justa causa, instituindo garantia de emprego e de uma renda mínima de sobrevivência para os desempregados e informais, pelo menos enquanto durasse a pandemia. Seria o momento de revogar a Emenda Constitucional 95, imposta pelos banqueiros que ajudaram a financiar o golpe de 2016. Mas fazem o contrário e com tática bastante conhecida: aproveitar a confusão e a excepcionalidade do momento para rapidamente impor medidas que vão contra a esmagadora maioria da população, em favor dos grandes capitalistas e do sistema financeiro internacional.

quinta-feira, 19 de março de 2020

Eis o terraplanismo epidemológico


Outras Palavras

Eis o terraplanismo epidemológico

Chacotas, fake news, ataques à imprensa e comunidade científica. Criação de inimigos políticos imaginários. Artifícios de figuras como Trump e Bolsonaro reforçam crise que se alastra, enquanto empresários lucram com o pânico dos desinformados
Por Paulo Capel Narvai, no A Terra é Redonda
Com epidemias, não se deve brincar. Não se deveria, também, manipular doença e morte, mercantilizando-as. Também não se deveria ideologizar e partidarizar o fenômeno epidemiológico, prejudicando o seu enfrentamento com base em evidências científicas. Contudo, o episódio atual protagonizado pelo vírus SARS-Cov-2 (Coronavírus da Síndrome Respiratória Aguda Grave 2) mostra que hoje, no Brasil, não há espaço para esse mundo do “deve ser”. Por aqui, a mais alta autoridade da República faz chacota com a epidemia COVID-19 (do inglês ‘Coronavirus Disease 2019’), empresários manipulam preços de produtos cujo consumo inútil é estimulado pela ignorância e ideólogos terraplanistas zombam do novo coronavírus, que não passaria de um “comunavírus”. O cenário, desalentador, revela uma mescla abjeta de oportunismo político-partidário com ganância e ignorância. A consequência é que aumentam nossas dificuldades para controlar a pandemia.
Difundir informações é essencial no enfrentamento de epidemias. Refiro-me a informações científicas e não a “notícias”, simplesmente. Nem a fake news, decerto. A história brasileira registra o episódio, lamentável, da desinformação da população sobre a epidemia de meningite no início dos anos 1970. A censura imposta à imprensa pela ditadura civil-militar, impedindo a circulação de informações, contribuiu negativamente, pois ajudou a aumentar a circulação do meningococo ao retardar muito a vacinação. A censura à imprensa causou mortes evitáveis1.
Na atual pandemia COVID-19 há, também, guerra de informação, envolvendo potências econômicas. Donald Trump, de um lado, se refere ao coronavírus como “um vírus estrangeiro” [sic] , e acusa a China de utilizar a epidemia para jogar com preços de commodities, petróleo e soja, sobretudo. Zhao Lijian, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, respondeu afirmando que o SARS-Cov-2 foi introduzido na China pelos Estados Unidos, em ato criminoso, por ocasião da sétima edição dos Jogos Mundiais Militares, em outubro de 2019, em Wuhan, cidade a partir da qual a epidemia se transformaria em pandemia. O objetivo seria criar dificuldades econômicas aos chineses2. O fato é que ninguém tem dúvida sobre o notável impacto da pandemia sobre as atividades econômicas em todo o planeta. As bolsas de valores, segundo Nouriel Roubini, o economista que anteviu a crise financeira de 2008, cairão de 30% a 40%3.
Outro tipo de guerra de informações é a disputa pelo monopólio da informação “correta” a ser divulgada para “esclarecer” a população e evitar “pânico”, envolvendo cientistas e especialistas de várias áreas. Médicos(as), aos montes, mas também enfermeiros, biólogos e até mesmo “paramédicos”, vêm povoando as redes sociais com suas verdades “científicas”, todos se dizendo apolíticos, técnicos, apoiados em suas “experiências” e “vivências”, as de quem estaria com “a mão na massa”. “Eu sou de fazer, não de ficar falando”, ouvi de um deles. Alguns se dizem “cansados” de ver “besteiras” sendo ditas por leigos e, por estarem “cansados” e “não aguentarem mais”, vêm a público para mostrar onde estaria a verdade e o que fazer. Cada disciplina científica ou especialidade médica, por vezes ignorando a complexidade de fenômenos epidemiológicos, tem sempre algum de seus luminares a postos para nos “explicar” o que se passa. “Cientificamente”, segundo creem. Tudo o que colide com suas certezas “científicas”, ainda que proveniente de outras disciplinas ou especialidades, não merece crédito, nem respeito. Alguns, mais ideologizados, deduzem que outros pontos de vista, igualmente embasados em saberes científicos, teriam apenas a finalidade de criar pânico. Seriam, apenas e tão somente, coisas dessa “turma do contra”.
Não, caro leitor, cara leitora, fique tranquilo(a), pois não me porei a dizer onde está a verdade, nem o que fazer.
As características biológicas e epidemiológicas, básicas, envolvendo o o SARS-Cov-2 são bem conhecidas a esta altura do desenvolvimento da pandemia COVID-19. As básicas. Mas não se sabe como as coisas evoluirão em países tropicais, pois a epidemia está chegando agora. O Brasil está nessa expectativa. O que se sabe é suficiente, contudo, para reconhecer que não se trata de “uma gripe como qualquer outra”.
O pior modo de lidar com a COVID-19 é ficar paralisado, “achando coisas” (que é uma “fantasia” e que não é “tudo isso que a grande mídia propaga”4 ou que é “apenas uma gripinha”). O devaneio sobre a epidemia foi de ninguém menos do que o Presidente da República, principal responsável pelo descuido do governo federal que não deu à epidemia a devida atenção em janeiro, demorando a reagir com relação aos brasileiros que estavam na China e que apenas em fevereiro começou a dar mostras de tentar articular ações federais com Estados e Municípios. Mas até meados de março o país não conhecia qualquer plano para assegurar assistência aos milhares de doentes que, sabe-se, buscarão assistência em serviços públicos e privados. Pressionado por servidores públicos especializados em vigilância epidemiológica, por governos estaduais e municipais, e pela opinião pública, o governo federal pôs em curso seu plano para coordenar o enfrentamento da pandemia no Brasil. Coordenação, registre-se, que é sua obrigação constitucional.

Panelaços contra Bolsonaro se espalharam pelo Brasil




Protestos contra Bolsonaro viralizam nas redes e "panelaços" se espalham pelo país

Pelo segundo dia consecutivo, presidente foi alvo de ações em diversas cidades brasileiras

Brasil de Fato 
protesto fora bolsonaro
Projeção em São Paulo mostra bolsonaro confuso com máscara de proteção - Reprodução

O movimento que começou nesta terça-feira (17) em algumas cidades brasileiras, tomou corpo novamente nesta quarta (18) e diversas regiões registraram panelaços contra o governo de Jair Bolsonaro (sem partido).  No Twitter a expressão "Fora Bolsonaros" ficou em primeiro lugar entre os assuntos mais comentados mundialmente. Na lista dos dez temas mais mencionados na rede social no Brasil estava também a expressão "Panelaço Contra Bolsonaro". 
As reações da população são uma resposta à postura do capitão reformado diante da crise do coronavírus. Enquanto a área de saúde do governo divulga ações e alertas diários sobre a propagação da doença no país, o presidente vinha minimizando o tema. Desde a semana passada, Bolsonaro tem afirmado em diversas declarações que a reação ao vírus tem caráter histérico.
Ele condena  também as recomendações para que a população evite aglomerações. No domingo (15) foi a um protesto contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal sem máscara, cumprimentou manifestantes com apertos de mão e tirou fotos.
Em São Paulo (SP) capital alguns bairros, como Barra Funda, Higienópolis, Consolação, Bela Vista e Santa Cecília, tiveram manifestações por mais de meia hora. Pelo menos dez bairros da cidade registraram protestos e, em alguns deles, os manifestantes tocaram instrumentos e fizeram projeções em prédios. Em Santa Cecília, uma foto do presidente usando máscara de proteção de maneira equivocada foi projetada. 
Bairros de periferia da Zona Sul e da Zona Leste de São Paulo também aderiram, entre eles a comunidade de Heliópolis, maior da cidade. Em Brasília, Ceilândia, Samambaia, regiões que foram criadas a partir de assentamentos e moradias populares, registraram muitas manifestações. No Rio de Janeiro (RJ) as favelas da Rocinha e do Vidigal não só bateram panelas, registraram também vizinhos tocando músicas de protesto.
Em Brasília (DF), regiões de classe média também registraram protesto, entre elas está Águas Claras, reduto bolsonarista em que o presidente teve votação expressiva nas eleições. Na capital paranaense, Curitiba (PR), onde mais de 70% da população votou em Bolsonaro, a região central também foi tomada por panelaços e gritos. 
Além disso, em outras cidades também ocorreram protestos, como Goiânia (GO), Rio de Janeiro (RJ), Porto Alegre (RS), Belém (PA), Fortaleza (CE), Recife (PE), Salvador (BA), Aracaju (SE), Florianópolis (SC), Vitória da Conquista (BA), Taboão da Serra (SP), Vitória (ES), Juiz de Fora (MG), entre outras.

Em Belo Horizonte também teve panelaço em vários bairros.

segunda-feira, 16 de março de 2020

A suprema imbecilidade de Bolsonaro ameaça o país, por Luis Nassif




A grande luta de Bolsonaro contra seus demônios, por Luis Nassif

O maior desafio da história do Brasil se aproxima, com a população acuada, quase em pânico, escolas fechadas, restaurantes vazios, uma enorme multidão de órfãos de Estado jogados ao leu, e empresas condenadas.
Luis Nassif

Economistas e analistas políticos têm enorme dificuldade em analisar realidades dinâmicas. Isto é, sujeitas a episódios de corte, que alteram completamente a linha histórica. Eles preferem a tranquilidade das análises lineares, pelas quais consegue-se montar cenários de futuro analisando as séries estatísticas, e chegando a conclusões erradas, especialmente em momentos de ruptura.
Tem-se dois movimentos de ruptura em andamento> as disputas em torno das cotações do petróleo e o coronavirus, mudando a história do mundo. Ante ameaça tão grave, caem dogmas econômicos, frescurites políticas, blefes administrativos.
Na França, o presidente Emmanuel Macron entendeu os novos tempos, suspendeu as negociações sobre a reforma da previdência e conclamou à União nacional. Consagrou-se.
Nos Estados Unidos, Donaldo Trump minimizou inicialmente o problema, deixou a política de saúde tão solta que seu próprio genro assumiu a frente de combate – e cometeu inúmeras cabeçadas. Nos EUA, a coronavirus trará luzes novas sobre a questão da universalização da saúde e sobre as próprias eleições presidenciais.
No Brasil, graças à suprema imbecilidade de Jair Bolsonaro, aumentou-se a aposta, e Jair resolveu enfrentar o demônio de frente. Minimizou a gripe, seus profetas espalharam que era mera conspiração chinesa, o reverendo Edir Macedo garantiu que apenas os fracos sucumbiriam e montaram-=se aglomerações em várias cidades, dando bananas para a coronavirus e para a democracia.
Daqui para frente, haverá os seguintes pontos:
  1. De acordo com todas as previsões de cientistas, e de acordo com a experiência em curso na Itália e outros países, em abril haverá o pico da epidemia.
  2. A imprudência de Bolsonaro tornou seus seguidores alvos preferenciais da doença. Nas próximas semanas, a imprensa se regalará mostrando diariamente pessoas contaminadas que participaram das manifestações. Cada morrte será cobrada de Bolsonaro.
Mas não apenas isso. Nos últimos anos houve uma redução irresponsável das verbas para o Sistema Único de Saúde, da cobertura da Bolsa Família. Os ambulatórios do SUS estarão lotados, sem conseguir atender a demanda.
Haverá pânico especialmente na periferia, gerando um coringavirus, explosões de raiva de quem foi deixado ao relento esses anos todos e, agora, enfrenta a mais dura batalha sanitária do país sem ao menor ter a garantia de um emprego formal – destruído pelas últimas reformas.
Qual será a resultante? O terraplanismo de Bolsonaro conseguirá montar um exército de zumbis acreditando no biocote chinês, no vírus esquerdista e promovendo saques e violência? Ou cairá a ficha de todos sobre o que significa para o país a manutenção, no poder, de pessoal tão desqualificado como os Bolsonaro?
Bolsonaro não provocou apenas a coronavirus, mas o Congresso e o Supremo. Qual será a reação das augustas casas? Continuarão intimidades, ou se darão conta de que cada dia de vida desse governo significa a condenação à morte de milhares de brasileiros e, a médio prazo, a condenação da própria democracia brasileira?
O maior desafio da história do Brasil se aproxima, com a população acuada, quase em pânico, escolas fechadas, restaurantes vazios, uma enorme multidão de órfãos de Estado jogados ao leu, e empresas condenadas.

domingo, 15 de março de 2020

Em defesa da democracia

 NA FOLHA DE S.PAULO –



 Em defesa da democracia

É urgente neutralizar as ameaças às instituições

 Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Felipe Santa Cruz
 José Carlos Dias
Paulo Jeronimo de Souza

 Constitui objetivo fundamental da República Federativa do Brasil, entre outros, “construir uma sociedade livre, justa e solidária, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. Isto está escrito com todas as letras na nossa Constituição Federal de 1988 e é aspiração do povo brasileiro. É preciso reafirmar, no momento atual do país, com todas as nossas forças, que a democracia é o único regime político capaz de implementar a sociedade prevista na Carta Cidadã.

 A democracia, considerados seus próprios limites, é um dom a ser desdobrado em valores e dinâmicas que garantam a participação, a liberdade e o incondicional respeito aos princípios de defesa da vida e da dignidade de toda pessoa humana. Por isso, é incontestável e merece defesa a democracia no Brasil, fruto sofrido e amadurecido da redemocratização inspirada na ação de destacados atores políticos, aos quais reverenciamos; entre eles, um povo que soube reconquistar a liberdade e os direitos confiscados.

 Foi esse povo que também legitimou, por lutas sociais, os direitos cidadãos registrados na Carta Magna de 1988, comprometendo a todos na sua obediência irrestrita e práticas transformadoras, pelo dever cidadão da edificação de nossa sociedade sobre os alicerces da igualdade e da solidariedade, garantindo o tratamento de todos como iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza.

 O Brasil, por seus Três Poderes, segmentos e cidadãos todos, no horizonte e nos parâmetros sacramentados pela Constituição Federal, sobre os alicerces do Estado democrático de Direito, não pode permitir o enfraquecimento de suas instituições democráticas de poder-serviço, garantindo equilíbrio entre os Poderes da República, considerados, especialmente, o papel institucional do Poder Executivo, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal, sem os quais a democracia mergulhará na escuridão e se pagará um preço ainda mais alto. Os Poderes exercem funções diferentes, mas nenhum é maior que outro. Sem eles, não há democracia.

 É necessário e urgente, por uma lúcida compreensão e práticas democráticas, neutralizar e vencer as ameaças a essas instituições, pela obrigação moral de todos de defendê-las e fortalecê-las. Não se pode, absolutamente, fomentar o risco de levar os brasileiros ao caos do enfraquecimento e até à destruição da nossa democracia.

 É no Estado democrático de Direito que se vai avançar na urgente busca do indispensável equilíbrio para a sociedade brasileira, detentora de todos os recursos para a superação dos vergonhosos cenários de misérias, com tanta pobreza, corrupção, privilégios, milhões de desempregados, com situações de crises humanitárias, exigindo velocidade e lucidez em respostas novas na economia, na educação e na saúde; avançar por meio de posturas adequadas no tratamento do meio ambiente, já tão pressionado pelos interesses econômicos; e avançar no cuidado prioritário dos pobres e pela exemplaridade responsável no exercício da política.

 Por isso, preocupados com os riscos do clima de afrontas e de fomento à intolerância, juntamos forças em nossas entidades para levar esta mensagem ao povo brasileiro.

 Marcados pelo sentido da solidariedade, sintam-se todos convocados a gestos e compromissos com a vida, superando bravamente as crises humanitárias, efetivando ações que façam o conjunto da sociedade brasileira trilhar os caminhos da Justiça, com lógicas e dinâmicas novas, na verdade e pela paz!

 Dom Walmor Oliveira de Azevedo Arcebispo de Belo Horizonte e presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil)
 Felipe Santa Cruz Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)
 José Carlos Dias Presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns - Comissão Arns
 Paulo Jeronimo de Souza Presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI)

sexta-feira, 13 de março de 2020

PT apresenta plano emergencial para enfrentar o coronavírus e retomar o crescimento


Nota oficial do Diretório Nacional do PT - A economia brasileira já estava gravemente enferma quando o mundo recebeu os primeiros impactos da pandemia do  coronavírus, agravados pela variação brutal dos preços internacionais do petróleo.
O país está fragilizado e sem liderança capaz de responder às necessidades de crescimento, geração de emprego e renda e dos investimentos públicos necessários para garantir acesso a educação, saúde, proteção social para a população.
Além de destruir as bases do crescimento, Bolsonaro e seu ministro Paulo Guedes mostraram-se irresponsáveis diante da nova conjuntura internacional e trataram com desdém um grave problema de saúde pública.

Cortar gastos e fazer mais reformas fragilizadoras do estado, como propõe o governo nesta hora tão grave, não é resposta para a crise do país.
A única saída possível é retomar um projeto de crescimento com inclusão, a partir do investimento público, do financiamento para produção e as famílias, da geração de empregos e do aumento da renda da população.
Para retomar o crescimento e proteger a população diante da pandemia de coronavírus, o Partido dos Trabalhadores propõe as seguintes medidas imediatas:

Para proteger a população na pandemia do coronavírus

  • Descongelar imediatamente os recursos para a Saúde represados pela Emenda Constitucional 95, o que representaria um aporte de cerca de R$ 21 bilhões ao SUS;
  • Fortalecer o trabalho das equipes de Saúde na Família e suspender imediatamente a Portaria 2.979/19, de forma a manter normalmente o repasse de recursos do SUS aos municípios;
  • Garantir a oferta de kits reagentes para realização de exames;
  • Fortalecer o trabalho das instituições de pesquisa e laboratórios públicos;
  • Garantir a oferta de leitos de UTI de forma a proteger a população de possíveis danos à saúde causados pelo COVID-19;
  • Adotar um protocolo único de proteção à população, englobando aspectos como quarentena, deslocamentos, aglomerações, funcionamento de escolas, comércio, etc.
  • Trabalhar pela cooperação com outros países em busca de informações técnicas, recursos e possibilidades de assistência para enfrentar a pandemia no país.
  • Determinar estabilidade no emprego e manutenção dos salários no setor público e privado pelo tempo que durar a pandemia.


Para enfrentar a crise econômica

  • Retomar os investimentos públicos em projetos capazes de gerar empregos e dinamizar a economia, utilizando todos os mecanismos de financiamento ao alcance do estado;
  • Retomar obras paralisadas por corte de recursos e contratar emergencialmente trabalhadores para execução de serviços públicos mais simples;
  • Abono emergencial para o salário mínimo e retomada da política de valorização permanente do salário;
  • Incorporar imediatamente ao programa as 3,5 milhões de famílias na fila do Bolsa Família e atualizar o valor do benefício; atender imediatamente os 2 milhões que estão na fila do INSS;
  • Financiar a renegociação das dívidas das famílias de baixa renda, reduzindo juros e estendendo prazos, de forma a que tirem o nome dos cadastros de crédito;
  • Retomar e ampliar os financiamentos para pessoas físicas e empresas por meio dos bancos públicos, fortalecer o BNDES;
  • Suspender os processos de privatização em andamento, retomar os investimentos das estatais, especialmente da Petrobrás, com retomada plena da política de conteúdo local;
  • Fixação imediata do preço do botijão de gás em R$ 49 para as famílias de baixa renda em todo o país.
  • Revogar a Emenda Constitucional 95 para recuperar os investimentos em saúde, educação, programas de proteção social e de transferência de renda;
  • Suspensão do trâmite das PECs 186 (Emergencial), PEC 187 (Fundos Públicos) e 188 (Pacto Federativo)

Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores
Brasília, 13 de março de 2020

Paulo Guedes na contramão do mundo

Serviços públicos de saúde universais são mais eficazes do que o privado no combate de pandemias.

O avanço do coronavírus pode ser um divisor nas políticas econômicas. As políticas liberais, que defendem cortes públicos, estão na contramão dos atuais entendimentos.

Paulo Guedes na contramão do mundo

terça-feira, 10 de março de 2020

No Ministério das Relações Exteriores da Alemanha o debate sobre Brumadinho

Debate sobre Brumadinho no Ministério das Relações Exteriores da Alemanha



O crime da Vale e da empresa alemã  TÜV SÜDem Brumadinho, bem como  a questão dos impactos da mineração no Brasil, foi debatido em evento promovido pela Sociedade Alemã - Brasileira ("Deutsch-Brasilianische Gesellschaft")*, no Ministério das Relações Exteriores da Alemanha (Auswärtiges Amt), em Berlim, no dia 9 de março. Essa atividade contou com o apoio e articulação da MISEREOR, uma organização católica de solidariedade e ajuda.

Dom Vicente Ferreira e Frei Rodrigo Péret, da Comissão Episcopal de Ecologia Integral e Mineração da CNBB foram os convidados do evento.

Dom Vicente de Paula Ferreira, bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte e responsável pela região de Brumadinho, descreveu o crime/tragédia, que ocasionou a morte de 272 pessoas, naquele município, e a destruição ambiental do vale do rio Paraopeba. Não há condições de se medir os impactos desse crime, no tecido social da região. O que ocorreu em Brumadinho não é uma questão local. Em Brumadinho vivemos o resultado de um sistema predatório de extrativismo. Brumadinho deve ser visto como resultado de um sistema econômico em que vivemos globalmente”, disse o bispo. 

Para Dom Vicente a agenda de incidência internacional, da qual ele está participando, juntamente com Frei Rodrigo se justifica a partir do fato de que tudo está interligado no mundo globalizado de hoje. “Não podemos continuar com um modelo que acumula lucros e deixa miséria, morte e destruição nos territórios”, afirmou o bispo, a partir de sua experiência em Brumadinho.

Frei Rodrigo Péret, frade franciscano da Rede Igrejas e Mineração, descreveu o processo criminoso de negligência e falsidade ideológica perpetrado pela Vale e a empresa alemã TÜV SÜD“Falsidade ideológica e uso de documentos falsos, para atestar a segurança e a estabilidade da barragem, estão no cerne da questão. A empresa Vale usou documentos falsos para obter licenças ambientais. Soma-se a isso o fato de que conhecendo o risco manteve as instalações administrativas, inclusive o refeitório, abaixo da barragem. Importante lembrar também que a Vale é reincidente neste tipo de crime, basta lembrar o de Mariana, em 2015”, afirmou o frade franciscano. Frei Rodrigo, ressaltou ainda que “Estes crimes revelam características do modelo minerário, bem como os desafios relacionados ao acesso à justiça, a questão da impunidade e a falta de responsabilidade das empresas e do Estado brasileiro”.

“Desde o dia 25 de janeiro de 2019, quando do crime/tragédia comecei a viver uma conversão de vida. Incluí a pauta da ecologia integral. Tivemos de nos lançar a Igreja de corpo e alma para alcançar os caminhos dos atingidos. Assumir com amor e compaixão a dor e articular, dar as mãos, para exigir justiça e buscar caminhos novos. Somos uma rede de comunidades cristãs, grupos e movimentos. Criamos um trabalho de articulação social”, compartilhou Dom Vicente ao descrever o papel e o trabalho da Igreja, na região de Brumadinho,

A Conferencia dos Bispos do Brasil, em face dos impactos da mineração, violações de direitos humanos do setor minerário e em sintonia com a Encíclia Laudato Si, do Papa Francisco, instituiu, em 2018, uma Comissão Episcopal de Ecologia Integral e Mineração. Além dessa Comissão, juntamente com a Rede Igrejas e Mineração, de âmbito continental, o trabalho é o de acompanhar as comunidades atingidas pela mineração e buscar junto a elas e organizações da sociedade, saídas para modelos de vida que respeitem a natureza, promovam a justiça ambiental e o cuidado de nosso planeta, a nossa “Casa Comum”.

Frei Rodrigo ressaltou que é urgente superar o modelo extrativista predatório. “As mineradoras reconfiguram de forma negativa os territórios onde seus empreendimentos ocorrem, destroem a diversificação das economias locais e regionais, gerando o que se chama de minero dependência e zonas de sacrifício. A lógica dos lucros rege o setor da mineração e prevalece sobre a segurança das pessoas e da natureza.”  Em relação ao governo brasileiro, ressaltou que “a impunidade, resultado da captura corporativa do estado, se agrava com as políticas de flexibilização da legislação de proteção ambiental e de direitos humanos, do governo Bolsonaro”.

Seguiu-se um debate sobre questões mais amplas, como a do Fundo Amazônia, do qual a Alemanha (R$ 200 milhões) é o segundo maior doar. A Noruega é o principal doador do fundo (R$ 3,2 bilhões). A política anti-meio ambiente do governo Bolsonaro, as leis que tramitam no Congresso - mineração em terras indígenas, perdão a desmatadores, intenção de diminuir unidades de conservação, por exemplo -, além da inação diante da explosão de garimpos na Amazônia e do desrespeito aos direitos indígenas e comunidades tradicionais, são muito mal recebidas na Europa.. Tudo isso somado às tentativas de modificar a composição do Comitê Orientador do Fundo Amazônia (Cofa), que define sua aplicação e goza da confiança dos países doadores, compromete a continuidade das doações. O Fundo foi criado em 2008 para financiar projetos de redução do desmatamento, e est ameaçado também pelo desejo do governo de usar a verba para pagar indenizações a proprietários rurais com terras em unidades de conservação.

A agenda de incidência, na Europa, de Dom Vicente e Frei Rodrigo se encerra no dia 11 de março. A razão era dar visibilidade aos impactos advindos do Crime da Vale em Brumadinho, bem como ao trabalho da Igreja. Essa agenda foi organizada no âmbito da Comissão Episcopal de Ecologia Integral e Mineração da CNBB, em parceria com a Rede Igrejas e Mineração, tendo em vista conjuntura na região e no Brasil e a necessidade de dar visibilidade à questão. Apoiadores: Franziskaner Mission, Franciscans International, CIDSE, DKA, Adveniat e Misereor. Eles estiveram em Roma, com o papa Francisco; em Genebra, na 43a Sessão de Direitos Humanos da ONU, em Viena, Bruxelas, Essen, Dortmund e Berlim. Foram uma série de reuniões com parlamentares desses países e com deputados do Parlamento Europeu, bem como encontros com organizações da sociedade civil.

Fonte: Fala Chico

A Sociedade Alemanha - Brasil "Deutsch-Brasilianische Gesellschaft" (DBG) é uma instituição privada, sem fins lucrativos e suprapartidária. Ela foi fundada em 1960 por importantes personalidades da economia, da política e da cultura de ambos os países como uma das maiores associações bilaterais