Pedro Casaldáliga defende mandato de Dilma em carta aberta sobre a crise
Pedro Casaldáliga é bispo emérito de São Félix do Araguaia, em MT. Ele, bispo Adriano Vasino e agentes da pastoral assinam carta aberta.
Casaldáliga é bispo emérito de São Félix do
Araguaia (Foto: Servicios Koinonia / Divulgação)
Araguaia (Foto: Servicios Koinonia / Divulgação)
Em carta aberta publicada no último domingo (3) na internet a respeito da atual crise política vivida pelo Brasil, o bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia, Dom Pedro Casaldáliga, defendeu o mandato da presidente da República Dilma Rousseff (PT), atualmente ameaçado pelo processo de impeachment. Em favor da manutenção do mandato da presidente devido ao risco de um "caos generalizado" no país, o manifesto classifica o processo de impeachment como uma “tentativa de golpe”.
“Repudiamos a tentativa de desestabilização de um governo democraticamente eleito, sob o risco de conduzir o país ao caos generalizado”, afirma a “Carta Aberta às Comunidades Sobre a Atual Conjuntura Política do Brasil”, assinada pelo bispo emérito Casaldáliga, pelo atual bispo Adriano Vasino e pelos agentes pastorais da Prelazia de São Félix do Araguaia (cidade a 1.159 km de Cuiabá).
O documento afirma que o atual momento de crise tem sido tratado de forma superficial e manipulada pela grande mídia, a suposto serviço de grupos conservadores, e defende que o Brasil não pode retroceder em relação aos avanços sociais obtidos nos últimos anos. Por outro lado, o texto pede apuração com rigor sobre as injustiças e casos de corrupção no Brasil, com punições aplicadas independentemente do partido a que pertençam os responsáveis.
Acreditamos que a sociedade brasileira, civil e organizada, esteja à altura de compreender a gravidade do momento e dizer NÃO a qualquer tentativa de golpe"
Carta Aberta às Comunidades Sobre a Atual Conjuntura Política do Brasil
Recessão e crise política
Redigido em conjunto, o texto publicado pela Prelazia em seu site oficialaponta a crise financeira de 2008, iniciada nos Estados Unidos, como a raiz da atual recessão brasileira.
Redigido em conjunto, o texto publicado pela Prelazia em seu site oficialaponta a crise financeira de 2008, iniciada nos Estados Unidos, como a raiz da atual recessão brasileira.
Além disso, o documento atribui às grandes empresas a crescente perda de direitos por parte de povos e comunidades e caracteriza a crise no Brasil como político e institucional.
Por isso, conquistas democráticas e valores humanos básicos estariam atualmente sob risco, argumenta a carta, que também faz referência aos casos de corrupção hoje investigados, pedindo “bom senso” aos parlamentares no Congresso Nacional.
“Como Igreja, apoiamos o combate às injustiças e a corrupção e apelamos ao Ministério Público e ao Judiciário que ajam com isenção, rigor e imparcialidade no exercício de suas funções, punindo os responsáveis independentemente do partido a que pertençam. O momento atual que a sociedade brasileira atravessa é delicado e exige acima de tudo uma reflexão aprofundada isenta de paixões e partidarismos. Apelamos para o bom senso dos integrantes do Congresso Nacional (deputados e senadores), afim de que saibam olhar a complexidade e delicadeza desse momento. Não podemos retroceder nas conquistas democráticas alcançadas”, enfatiza o manifesto.
Sob comando de Dom Pedro Casaldáliga (até 2005) e do atual bispo Adriano Vasino, a Prelazia de São Félix do Araguaia desenvolve desde a década de 1970 trabalho pastoral ligado a causas como a defesa de direitos dos povos indígenas e contra a violência dos conflitos agrários.
Confira abaixo a íntegra da carta aberta:
Carta Aberta às Comunidades Sobre a Atual Conjuntura Política do Brasil
“Quero ver o direito brotar como fonte, e correr a justiça qual riacho que não seca”
Am 5, 24.
Am 5, 24.
Os agentes de pastoral da Prelazia de São Félix do Araguaia, reunidos, nos dias 28 de março a 02 de abril de 2016, em São Félix do Araguaia, MT, com o bispo Dom Adriano Ciocca Vasino e o bispo emérito Dom Pedro Casaldáliga, manifestam grande preocupação com o momento sociopolítico que vivenciamos atualmente.
Sabemos que uma crise econômica, que se iniciou de forma concreta em 2008, está afetando fortemente o sistema capitalista e tem provocado, por parte de grandes empresas e países ricos como os Estados Unidos, uma investida violenta em diversos países em desenvolvimento. Tais países são vistos como fornecedores de matéria prima e mão de obra barata para alimentar o luxo e o consumo dos ricos de fora e da elite interna que tem se tornado cada vez mais rica e opulenta.
Povos e comunidades são desconsiderados e expropriados de seus direitos para abrirem espaços para as grandes empresas. No Brasil, a conjuntura atual é caracterizada por uma profunda crise política institucional, que ameaça as conquistas democráticas, rompendo com o pacto social realizado nas últimas décadas, bem como com o respeito aos valores humanos básicos.
Como Igreja, apoiamos o combate às injustiças e a corrupção e apelamos ao Ministério Público e ao Judiciário que ajam com isenção, rigor e imparcialidade no exercício de suas funções, punindo os responsáveis independentemente do partido a que pertençam.
O momento atual que a sociedade brasileira atravessa é delicado e exige acima de tudo uma reflexão aprofundada isenta de paixões e partidarismos. Apelamos para o bom senso dos integrantes do Congresso Nacional (Deputados e Senadores), afim de que saibam olhar a complexidade e delicadeza desse momento. Não podemos retroceder nas conquistas democráticas alcançadas.
Repudiamos a tentativa de desestabilização de um Governo democraticamente eleito, sob o risco de conduzir o País ao caos generalizado. Grupos conservadores, respaldados pela grande mídia, passam uma visão superficial e manipulada do grave momento que o país vive.
Acreditamos que a sociedade brasileira, civil e organizada, esteja à altura de compreender a gravidade do momento e dizer NÃO a qualquer tentativa de golpe.
O Povo já superou graves crises institucionais, saberá manter a serenidade e de forma pacífica fará valer o Direito e a Justiça.
São Félix do Araguaia – MT, 02 de Abril de 2016
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