sexta-feira, 29 de maio de 2020

Para evitar tragédia maior: lockdown, auxílio emergencial efetivo e fim da restrição ao investimento em Saúde, afirma Nicolelis

O combate de Nicolelis aos semeadores da morte

Presidente do Comitê Científico do Nordeste, Miguel Nicolelis, um dos neurocientistas mais célebres do Brasil e professor de Medicina da Universidade Duke, nos Estados Unidos reafirma: a grande tragédia aproxima-se, mas ainda pode ser evitada.  

Outras Palavras

Miguel Nicolelis em entrevista à Agência Pública

Semanas antes de Bolsonaro demitir o primeiro ministro da Saúde e demonstrar em uma reunião ministerial que enfrentar a pandemia não é sua prioridade, os governadores do Nordeste decidiram reunir um grupo de pesquisadores e cientistas renomados para ajudá-los a desenvolver estratégias de combate ao coronavírus.

Criado no fim de março, o comitê científico do Consórcio Nordeste é coordenado pelo médico Miguel Nicolelis, um dos neurocientistas mais célebres do Brasil e professor catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade Duke, nos Estados Unidos.

Em entrevista exclusiva à Agência Pública, Nicolelis é categórico: para evitar que tenhamos centenas de milhares de óbitos no Brasil, está na hora de adotar medidas drásticas. Ele defende que o lockdown seja feito onde o número de casos está crescendo e a taxa de ocupação dos hospitais, acima de 80%. Mas isso não significa simplesmente fechar tudo. Para ele, o Estado brasileiro tem que seguir o exemplo dos EUA e outros países, criando “um pacote efetivo de ajuda econômica ao cidadão que permita que as pessoas sobrevivam a um lockdown”.

Nicolelis detalha as estratégias recomendadas pelo comitê científico nordestino que podem ser replicadas em todo o Brasil e explica por que a negação da ciência ganhou força no país, promovida por mensagens que remetem a comportamentos primitivos, como a luta contra o inimigo e a defesa tribal contra uma ameaça externa. “Quando você apela para esse tipo de estereótipo, a racionalidade é engolida.”

Leia abaixo a conversa com o dr. Miguel Nicolelis, escolhido pelos apoiadores da Pública para esta edição da “Entrevista dos Aliados”. Se quiser escolher quem a Pública vai entrevistar da próxima vez, seja nosso Aliado.

O neurocientista Miguel Nicolelis, professor catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade Duke, nos Estados Unidos

A Organização Mundial da Saúde já afirma que a América Latina é o epicentro da pandemia e que o Brasil é o país mais preocupante. Você já vinha afirmando há um tempo que o Brasil seria o novo epicentro. Por quê? Quais foram os principais fatores que nos trouxeram até aqui?

Eu comecei a falar isso em março, antes de o comitê ser criado, porque tanto no Carnaval como logo depois uma enxurrada de pessoas entrou pelos aeroportos internacionais, já que o então ministro da Justiça não usou da prerrogativa de fechar o espaço aéreo brasileiro no momento correto. A comprovação disso é que todos os grandes focos de invasão do coronavírus no Brasil são as cidades que recebem voos internacionais da Europa e dos Estados Unidos: São Paulo, Salvador, Recife, Natal, Fortaleza e Manaus. [Esses voos] trouxeram a semente que poderia ter sido evitada se os aeroportos internacionais e o espaço aéreo do Brasil tivessem sido fechados. Esse foi o primeiro fator.

O segundo foi, evidentemente, a completa falta de organização de uma resposta nacional, mesmo com o tempo que a China e outros países europeus ganharam tanto para os Estados Unidos quanto para o Brasil. A gente viu o que aconteceu em todos os países que fizeram troça do vírus – Itália, Inglaterra, Estados Unidos e Brasil estão pagando um preço terrível. A total falta de preparo científico e até intelectual desses governos contribuiu decisivamente para as catástrofes que eles já experimentaram e que estão experimentando na primeira onda.

Aí a gente começou a fazer os modelos matemáticos e ficou evidente que, depois dos Estados Unidos, o Brasil ia ser o epicentro. Agora, a dúvida é se nós vamos passar os Estados Unidos nessa primeira onda, e eu acho que nós vamos. Eu não tenho 100% de certeza, mas a sensação que dá é que, até setembro, outubro, a gente pode estar à frente dos Estados Unidos em número de óbitos – porque a subnotificação brasileira é gigantesca, provavelmente maior do que a americana, que também é grande.

Tendo em vista que hoje [22 de maio] o Brasil já está com mais de 300 mil casos confirmados…

Nós temos 3 milhões, provavelmente, a expectativa mínima é que temos dez vezes mais [casos do que o número confirmado].

Enquanto alguns estados discutem flexibilizar o isolamento social, na semana passada o comitê científico do Consórcio Nordeste recomendou o lockdown para mais cidades nordestinas. Você acha que está na hora de adotar esse isolamento social mais rigoroso no país inteiro?

Eu estou chegando a essa conclusão e estou vendo esse pensamento ganhando peso entre pessoas de várias regiões. Vi isso recentemente em propostas de pessoas no Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo, só não posso revelar a fonte. Acredito que, com a evolução dos dados, é a nossa única chance nesse momento.

A doença começou como se fosse uma guerra: um exército inimigo que invadiu pela costa em pontos estratégicos, pelas cidades que eu já mencionei, e agora a interiorização está progredindo rapidamente pela malha rodoviária. Nós temos estudos mostrando claramente isso. E tem um número significativo de regiões no Nordeste e no Brasil que está ainda com um número pequeno de casos onde ainda dá para evitar [o aumento exponencial de casos] se você puser um exército de médicos, agentes de saúde, enfermeiros, indo de casa em casa nessas localidades, para caçar os casos, isolar as pessoas, impedir a multiplicação de casos. [Se adotássemos essa estratégia] casada com o lockdown ordenado nacional, nós teríamos uma chance.

Porque você só precisa ver a taxa de mortes diária aumentando. As pessoas ficaram chocadas ontem [21 de maio] com 1.188 mortes, mas esse recorde não vai ficar aí, está absolutamente claro. O número de mortes diárias no Brasil vai subir dramaticamente, e nós vamos correr um risco dramático de colapso dos sistemas de saúde e dos sistemas funerários no país inteiro. O que aconteceu em Manaus não é um caso isolado, pode se transformar num caso generalizado. As pessoas não conseguem entender a dimensão do que nós estamos passando.

A decisão de decretar o lockdown deve ser tomada com base no critério do comitê: “curva ascendente de casos e óbitos e ocupação de leitos de UTIs e/ou enfermarias superior a 80%”?

Sim. Esse critério foi adotado porque ele permite que o gestor tenha tempo de reagir. Com 80% dos leitos ocupados, a expectativa é que você ainda tenha dois ou três dias para a ocupação plena. Nós estamos vendo isso: quando você chega a 80%, se não há nenhum plano de criação de novos leitos, a ocupação vai rapidamente para mais de 95%. Esse fato mostra quão importante é atacar o vírus onde ele nos ataca, nas trincheiras, nos bairros, nas casas.

O comitê científico defende que a interiorização da doença seja combatida com essas brigadas emergenciais, formadas por profissionais de saúde da família, que vão até as casas, testam os doentes e monitoram o contato com outras pessoas. Essa medida já está em atividade no Maranhão e no Piauí, certo? Quais são os principais entraves para a criação dessas brigadas em outros estados?

Você tem que levar em conta que vivemos em um país altamente burocrático, com níveis e níveis de burocracia e níveis e níveis de lobbies corporativos que são realmente inacreditáveis. O Maranhão já tem o seu decreto para recrutar médicos e fazer a revalidação de diplomas de médicos brasileiros que se graduaram no exterior. O Piauí já soltou o seu decreto de criação de brigadas e está para soltar o seu decreto de revalidação de diplomas. Nós acabamos de receber a notícia de que os conselhos universitários de três universidades estaduais da Bahia aprovaram a participação, em um programa de revalidação, de diplomas em nível estadual, mas que ainda precisa ser criado. E o decreto criando as brigadas da Bahia já existe e está à espera da assinatura do governador. Em diferentes estados, você tem diferentes realidades porque a máquina estatal burocrática funciona em diferentes tempos. Nós somos um conselho consultivo, nós recomendamos e fazemos sugestões, mas nós não operamos.

Como implementar essa estratégia em um país de dimensões continentais como o Brasil? Por que ela seria eficiente?

É um processo distribuído. Tudo que eu faço na minha vida profissional e científica se baseia no conceito de processamento distribuído. É como o cérebro humano funciona: quando o cérebro humano precisa resolver um problema complexo, ele divide a tarefa por bilhões de neurônios que contribuem, cada um, com uma parte pequena, mas que, no todo, realiza a tarefa.

A ideia aqui é a seguinte: você tem o Monitora, que é um aplicativo que te dá em tempo real onde estão os casos suspeitos. Com esses mapas, um grupo muito pequeno de pessoas pode ir nas vizinhanças, casa a casa, testando as pessoas, fazendo uma anamnese mais profunda, examinando e vendo se essa pessoa realmente tem coronavírus. E aí você pode fazer as recomendações, instruir como ela tem que se comportar, como tem que ser tratada, levá-la para o hospital se precisar, disponibilizar oxímetros, telefones celulares para elas poderem se comunicar com a telemedicina nos cinco estados onde ela existe no Nordeste.

Esta estratégia não é só para o Nordeste, ela pode ser usada em qualquer lugar do Brasil, porque você pode usar os agentes da saúde da família para capilarizar. Então você tem um grande exército dormente que não foi priorizado na estratégia brasileira de combate. Os Estados Unidos não têm esse exército, mas nós temos.

Se você divide a tarefa em pequenas equipes que vão em bairros nas periferias e em diferentes municípios, você começa a reduzir os casos que vão ter que migrar para os hospitais e UTIs e precisar de ventiladores, por exemplo. É uma estratégia distribuída reconhecida em todo o mundo por ser efetiva.

É uma estratégia de prevenção, que foi o que não fizemos até agora.

É mais do que prevenção. É prevenção e cuidados primários iniciais porque, se você pegar [os casos da doença] cedo, você vai evitar que muitos casos compliquem. E aí você diminui a demanda por UTIs e por equipamentos que não estão mais disponíveis no mundo. Isso é vital. Nós fizemos a recomendação para o Nordeste, mas essa estratégia está sendo adotada e estão aparecendo brigadas espontâneas pelo Brasil, sem nenhuma coordenação, porque a ideia é lógica, reconhecida e dá resultados. O Piauí fez um estudo-piloto para ver o casamento do Monitora com uma equipe de saúde local, e em dois dias eles descobriram cem casos que não estavam contabilizados. E aí o governador do Piauí falou pra mim: “Nossa, temos a prova de que a sua ideia funciona”.

Para esclarecer, esse “grande exército dormente” são as equipes de saúde da família?

São os profissionais de saúde da família somados a um número estimado de 15 a 18 mil médicos brasileiros que têm diploma e registro no exterior, que poderiam dobrar o efetivo médico de saúde da família do Nordeste, que é por volta de 15 mil. E tem um outro contingente que são médicos estrangeiros que estão aqui, que fizeram parte do Mais Médicos e que poderiam também ser recrutados.

Além da dificuldade para revalidar os diplomas, por que está sendo difícil recrutar essas pessoas?

Está sendo difícil, evidentemente, porque existe a resistência de certas corporações médicas, como o Conselho Federal de Medicina. Esse entrave corporativo não tem lógica nenhuma, nós estamos em uma situação de guerra. Com o Brasil sendo invadido, como está sendo, você tem que usar todos os recursos disponíveis. E quem diz que um médico formado em Buenos Aires, no Porto, em Madri ou na Alemanha, e registrado para praticar medicina nestes lugares, por que ele não pode praticar medicina aqui? Ainda mais numa situação de emergência. É você desprezar a necessidade de salvar vidas e manter um dogma corporativo como sendo divino, acima de qualquer lógica e racionalidade. Eu nunca vou aceitar um negócio desse.

Além disso, o fato de não termos tido um comando central nacional desde o início cria entraves terríveis, porque você não tem um Ministério da Saúde pensando estrategicamente. E os erros vêm desde o começo, vêm desde o problema de reagir tardiamente, não é de agora. Eu não abro exceção para os ministros que estavam lá antes. Para mim, ninguém virou herói depois que saiu do governo.

O Brasil está combatendo a pandemia praticamente “no escuro”, com dados escassos e pouco confiáveis. No comitê científico montado pelo Consórcio Nordeste, vocês criaram estratégias para levantar casos em tempo real por meio de um aplicativo, unindo dados como malhas de trânsito e redes de UTI. Que informações preciosas vocês estão conseguindo extrair desse esforço?

Nós temos uma plataforma de colaboração, o Projeto Mandacaru, que está chegando a 2 mil pessoas de todas as áreas: biomédicos, físicos, matemáticos, cientistas de dados, cientistas da computação, sociólogos, economistas, antropólogos, psicólogos, especialistas em direitos humanos. E nós temos até um grupo de 200 artistas gráficos e digitais para criar as mensagens e tudo aquilo que é necessário para divulgar as ações do comitê. É importante caracterizar que a gente não está partindo de uma bolha científica para fazer nossas recomendações, a gente está olhando macroscopicamente em múltiplas dimensões.

Quando eu falo do lockdown nacional, não é uma proposta isolada de fechar tudo e pronto. Não, ela vem regida e sustentada por outras políticas que exigiriam que o Estado brasileiro fizesse o que o Estado americano e outros países estão fazendo: um pacote efetivo de ajuda econômica ao cidadão que permite que as pessoas sobrevivam a um lockdown.

Se os Estados Unidos mandaram US$ 1.200 para todas as pessoas com renda abaixo de US$ 90 mil e vão mandar de novo, se já colocaram quase três PIBs do Brasil na economia americana para manter o país vivo, por que o Brasil não faz a mesma coisa? O problema é que, se a gente não fizer uma coisa drástica como essa nesse momento, corremos o risco de ter centenas de milhares de óbitos no Brasil. Esse é o horizonte e essa é a prioridade: evitar essa catástrofe.

O que nós estamos fazendo, que é único, é que nós estamos coletando informações de múltiplas fontes que as pessoas nem imaginam. Por exemplo, na época em que estava difícil estimar o isolamento social, eu entrei em contato com o pessoal que coordena as estações sismográficas no Nordeste para ajudar – porque na Califórnia se mostrou que, se você pegar os sismógrafos e mostrar a atividade da vibração que é conhecida naturalmente por causa do movimento dos carros nas rodovias, você era capaz de estimar o isolamento social. Aí nós começamos a trabalhar com essa análise de fluxos rodoviários. Começamos a descobrir que rodovias têm os maiores fluxos em que dias da semana e como as pessoas estão usando essa malha rodoviária no meio da pandemia e por onde existe o espalhamento preferencial geográfico dos casos pela malha rodoviária. Estamos criando ferramentas baseadas em simulações e análises desse tipo para dizer para os governadores como é que eles podem atuar cirurgicamente interrompendo certos fluxos, em diferentes momentos da semana. Enfim, nós estamos criando um arsenal muito mais amplo, e essa oferta de diferentes ferramentas é vital porque nós estamos numa guerra desconhecida. Assim como o mundo todo.

Veja o que aconteceu com Milão: a resposta foi tardia, os caras fizeram mais ou menos o que o governo federal fez no Brasil no começo, e a Lombardia foi dizimada. Mas aí você olha para a Grécia, por exemplo, um país falido, com um sistema de saúde completamente destruído, e tem número ridículo de positivos, porque eles fecharam o país no segundo dia depois que o primeiro caso foi descoberto. Se você olha para os países ao redor do mar Negro, como Bulgária e Romênia, é a mesma coisa, porque os caras fecharam cedo.

Mas aqui no Brasil eu vejo depoimentos de gente das universidades que simplesmente negam o que a gente vê no mundo inteiro. O exemplo da cloroquina é claro: o mundo inteiro já jogou isso no lixo. Até nos Estados Unidos, que foi onde começou a loucura, já está saindo da pauta pela quantidade de estudos que disseram que não acontece nada, que não tem efeito nenhum em nenhuma fase da doença. E aqui a gente ainda tem que brigar.

Curiosamente, esse movimento negacionista da ciência e de tudo que é baseado no método científico não começou aqui, ele é importado dos Estados Unidos. Todavia, ele está ganhando raízes e uma dimensão aqui que pode torná-lo maior do que ele é lá. Nós não vamos ser só os campeões de óbitos e casos, provavelmente, daqui a pouco nós vamos ser conhecidos como o país que enraizou o negacionismo científico.

Aqui no Brasil estamos vendo essa negação da ciência, dos protocolos médicos, da pesquisa, enquanto no mundo inteiro as pessoas estão sentindo o quanto a falta de apoio à ciência afeta todos nós. Por que você acha que existe essa descrença na ciência aqui e que efeito ela tem?

Isso é um capítulo do meu livro que foi lançado nos Estados Unidos e será lançado no Brasil em breve. São vários componentes.

Primeiro, o grau de conhecimento científico no Brasil é mínimo ou quase nulo. Não existe o incentivo à educação científica, mesmo quando você tem projetos de sucesso que ganharam prêmios no exterior, como foi o nosso. Durante dez anos nós tivemos duas escolas de educação científica no Rio Grande do Norte e uma no sertão da Bahia, onde formamos 11 mil crianças. E, no governo Temer, o Ministério da Educação decidiu fechar as escolas porque não eram prioridade.

Aí você chega a uma situação trágica como essa, em que a vida das pessoas está em jogo, e as mensagens que são passadas – e os caras do outro lado são muito espertos, eles usam psicólogos e neurocientistas para preparar isso – estimulam e dão apoio aos estereótipos mais primitivos do cérebro humano. A luta contra o inimigo, seja ele quem for, a defesa tribal do seu grupo social contra uma ameaça externa. Há 80 anos, o nosso querido Jung já falava que, quando você apela para esse tipo de estereótipo, a racionalidade é engolida.

Outro dia, em uma audiência no Brasil, falaram que o médico vai poder prescrever [a cloroquina] porque o paciente vai ter um termo de consentimento. A minha resposta é: em que lugar do Brasil um paciente à beira da morte ou o seu parente vão conseguir questionar o que existe por trás do termo de consentimento? Como ele vai saber a visão oposta, de que essa droga pode matar?

Você já afirmou que o governo Jair Bolsonaro menosprezou a gravidade e deu uma resposta confusa e tardia para a pandemia. O que nós poderíamos ter feito e não fizemos quando ainda não tínhamos nenhum caso confirmado de Covid-19 no Brasil?

A gente poderia ter feito o que a Alemanha e a Coreia fizeram: se preparar, se armar de um número de testes alto, criar toda uma estrutura de proteção, comprar máscaras e mais equipamentos de proteção individual, injetar dinheiro no SUS três meses antes da coisa explodir, contratar mais médicos, fazer um acordo tecnológico preferencial com a China, que na época tinha ainda estoque [de equipamentos] para vender – que foram vendidos para os Estados Unidos. Nós bobeamos. Poderia preparar a sociedade com uma campanha com uma mensagem clara alertando sobre o que vinha e quais eram os riscos. Poderia ter criado um comitê científico nacional, com pessoas capacitadas, para analisar tudo isso que precisa ser feito e basicamente criar um Estado-Maior de guerra, que é o que você precisa para entrar num troço desses.

Você precisa se armar de todas as ferramentas tecnológicas e todos os recursos humanos possíveis e estabelecer contatos dentro e fora do país para você ter suporte. Ou seja, se comportar como um governo do século 21, e não do Paleolítico Superior.

Quando essa pandemia acabar, como o Brasil pode se preparar para que uma eventual nova pandemia não seja tão devastadora?

“Quando a pandemia acabar” é uma expressão que eu não uso porque eu não consigo ver esse horizonte nesse momento. Para ser honesto, eu não consigo nem ver o pico da primeira fase. Os nossos modelos, as projeções ainda não conseguem achar o pico. Não há a menor dúvida que vai ter uma segunda fase no mundo. Ela provavelmente já começou na China. Inclusive, os pesquisadores americanos já falam que o país precisa se preparar nos próximos três meses para a próxima fase, restabelecendo os estoques de material de saúde, de hospitais etc. – e a primeira fase ainda não acabou nos Estados Unidos. Eles provavelmente vão chegar a quase 200 mil mortos nessa primeira fase.

Porque o grande receio de todo mundo agora é quão mais ou menos letal vai ser a segunda onda, já que o vírus está em constante mutação. Se a gente der sorte, ele pode mutar para um formato pouco adequado e sumir, como aconteceu com a primeira Sars e com a síndrome respiratória do Oriente Médio. Ou ele pode vir mais letal numa segunda fase, como na influenza de 1918.

Esse é o problema, não se sabe como vai ser a segunda fase. O Brasil muito provavelmente ainda vai estar no meio desse imbróglio institucional e não vai ter nem como se preparar. A segunda fase no Brasil pode ocorrer agora no inverno junto com a primeira. A gente vai ter um “perfect storm”, uma tempestade perfeita no Brasil, que é a junção dos casos de coronavírus com os casos de dengue, chikungunya, gripe e outras coisas. É o “general inverno” que na história da humanidade ganhou todas as batalhas das quais participou. Se existe um general invencível na história das guerras da humanidade, é o “general inverno”, do Napoleão Bonaparte ao Átila – não o virologista, o real [risos].

Nos últimos anos, houve a PEC do teto de gastos e inúmeros cortes de gastos em saúde, em pesquisa, em universidades públicas. Como isso impactou a nossa resposta à pandemia?

A primeira lição da pandemia, que é uma lição global aprendida pelo mundo inteiro, é que todas as políticas macroeconômicas que foram usadas como desculpa para desinvestir na ciência e na saúde pública estão caindo por terra, estão sendo tratadas com escória porque elas causaram parte das mortes que nós temos.

A saúde pública e a ciência são as grandes esperanças do pós-pandemia. A nova ordem mundial que vai surgir leva em conta que essas coisas são prioridades.

Só no ano passado, o Sistema Único de Saúde perdeu mais R$ 20 bilhões – que é quase 20% do orçamento do SUS. E o SUS, nesse instante, é a única coisa que está segurando o Brasil: a capilaridade do SUS, a existência do SUS, os médicos e os funcionários do SUS. Porque nos Estados Unidos não tem SUS, e é por isso que eles estão chegando a 100 mil mortes nos próximos dias. E eu falo isso sem nenhum colorido político, sabendo que o vírus não tem nem política nem ideologia. Não tem cabimento, neste momento, falar de política, porque só deveria haver uma prioridade, que é minimizar o sofrimento humano do Brasil: reduzir o número de mortes, reduzir o número de casos e reduzir a fome das pessoas que não estão conseguindo sobreviver ao isolamento social.

sábado, 23 de maio de 2020

A ameaça à democracia e à república


Reunião Ministerial do dia 22 de abril (Foto: Marcos Corrêa/PR)

Que gente desqualificada!

Nenhuma preocupação com a pandemia, nenhuma empatia com as famílias que perderam entes queridos e a revelação da miséria moral deste governo.

 Um repertório de crimes, quebra de decoro, infrações administrativas e interferência nas instituições.

A ameaça de Bolsonaro de armar a população, principalmente porque proferida em um contexto de enfrentamento armado a opositores políticos, deve ser repudiada, pois é uma ameaça ao direito à manifestação, à liberdade de expressão, à livre associação e ao sistema internacional de direitos humanos.

Agride a legislação brasileira vigente sobre o tema e ameaça a vida de todas as pessoas, principalmente as mais vulneráveis.  

Não é só a democracia que está em risco.

 A própria república está ameaçada. 

Todos que participaram desta reunião, os que falaram e os que aceitaram as aberrações e ficaram calados são bandidos.

 Vai ficar ecoando em nós a intenção deste desgoverno: vamos aproveitar agora que todos estão distraídos com a pandemia e acabar com o estado brasileiro. 

Perdeu-se a condição republicana.

 Ficou evidente a deterioração total da condição republicana, da condição nacional, da condição de ser brasileiro.

Este governo é o escritório do ódio e do crime.

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Fora Bolsonaro : ele quer o caos para o seu projeto autoritário de poder


Bolsonaro não se importa com a tragédia sanitária e nem com a crise econômica. 

Ele quer o caos, ele joga no caos,  porque para o seu projeto autoritário e no delírio permanente em que ele vive,  o caos  pode gerar a possibilidade dele se eternizar no poder.

Desta forma. é necessário conter constitucionalmente esse projeto ditatorial de poder.

Torna-se fundamental abrir o processo de impeachment.

Bolsonaro ataca a constituição, ataca o código penal e coloca em risco a vida de milhões de brasileiros.

Este desgoverno não tem planejamento, não tem estratégia para enfrentar essa pandemia.

O que temos é uma total ausência de articulação e liderança do governo federal.

Estamos dependendo das ações dos governadores e prefeitos. Se não fossem eles a situação seria mais dramática.

Temos um presidente que não respeita a ciência, a saúde pública e as autoridades sanitárias.

O maior aliado do vírus se chama Jair Bolsonaro.

A economia tem que está a serviço da vida. 

E neste momento o distanciamento social é o único caminho, pois não temos ainda um medicamento comprovadamente eficaz e nem a vacina.

Além de tudo isso, há ligações do presidente com as milícias, intervenção na polícia federal para proteger a família e a irresponsabilidade na forma que se apresenta frente à epidemia do coronavírus.

Por tudo isso, é necessário um pedido suprapartidário de impeachment, que deveria ser encabeçado por entidades da sociedade civil, por movimentos sociais, por juristas e por parlamentares de diversos partidos para retirar esse presidente.

Há por parte de Bolsonaro uma crueldade ao lidar com a pandemia. É um sociopata.

O problema vai além da questão política. É questão de humanidade.
 
Algum dia talvez esteja no banco dos réus em algum tribunal internacional por genocídio.






Após Teich, o Breve, Bolsonaro quer um terraplanista no Ministério da Saúde

Leonardo Sakamoto
No Uol 



Teich, o Breve, foi um ministro da Saúde perdido, incompetente e inexpressivo. 

Foi humilhado repetidas vezes pelo chefe, que ocupou militarmente a pasta e não teve pudores de demonstrar publicamente que o empresário-médico não apitava nada. 

O resumo de sua passagem foi a patética cena em que descobriu pela imprensa que Jair Bolsonaro decidiu liberar da quarentena academias, salões de beleza e barbearias sem lhe consultar. 

 Mas nestas poucas semanas que ficou no cargo, apesar das concessões para sua própria dignidade, não abraçou duas aberrações do chefe: o libera-geral da cloroquina para tratar todos os pacientes de covid-19 e a defesa do "isolamento vertical" - a ficção infanto-juvenil de que o vírus mata apenas idosos e pessoas imunodeprimidas e, portanto, para combatê-lo basta trancar esses grupos em casa. Isso levou Nelson Teich ao cadafalso. 

 O presidente não quer alguém que atue de forma minimamente técnica no Ministério da Saúde. Quer alguém que diga a ele "sim, senhor!" e "amém".

 Bolsonaro tem duas apostas hoje. Primeiro, forçar que a economia volte ao "normal", pois sabe que um desemprego prolongado transformará seu mandato em morto-vivo e sua reeleição, em 2022, em conto da carochinha. 

O problema é que voltar ao trabalho e reabrir comércios não vai afugentar o vírus, pelo contrário, será o empurrãozinho que ele precisa para passarmos de tragédia para massacre. 

 Entra, então, a segunda aposta: caso hospitais entrem em colapso, cadáveres se amontoem, faltem recursos para milhões sobreviverem e ocorram saques e protestos, o presidente poderá tomar medidas autoritárias, centralizando poder, como um estado de sítio ou a suspensão de direitos e liberdades. Um antigo sonho de consumo. 

 Nesta quinta (14), que quer a previsão de uso da cloroquina para sintomas leves de covid-19 e não apenas em quadros mais graves. O presidente não tem provas de que isso dará certo, mas lhe sobram convicções. A questão é que nada indica que o medicamento salvador seja este, como apontam pesquisas em todo o mundo, como as que analisaram milhares de pacientes e foram publicadas no New England Journal of Medicine e no Journal of the American Medical Association. 

Pelo contrário, há mais problemas do que soluções envolvendo a cloroquina. 

 Independentemente de quem seja, Bolsonaro quer alguém obediente, que aceite passar por cima da ciência e da medicina, e o ajude a devolver o Brasil à normalidade. No fórceps, se for preciso. 

Ou seja, que em nome da tranquilidade de seu mandato ou da proteção de sua visão autoritária, entregue à população brasileira à própria sorte.

domingo, 10 de maio de 2020

Flávio Dino anuncia que irá requisitar leitos de hospitais privados para pacientes da Covid-19

Governador do Maranhão, Flávio Dino

Governador do Maranhão, Flávio Dino (Foto: Gilson Teixeira/Secap)

Brasil 247 - O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), usou o Twitter para anunciar que irá publicar um decreto requerendo administrativamente os leitos de hospitais da rede privada para atender pacientes da Covid-19 nos municípios de São Luís e Imperatriz. 


"Nesta manhã, vou publicar decreto de requisição administrativa de leitos de hospitais privados em São Luís e em Imperatriz. Coronavírus deve ser a prioridade de todos, já que infelizmente temos milhares de pessoas doentes no Brasil", postou Flávio Dino. 
São Luís foi a primeira cidade do país a decretar o “lockdown” (bloqueio total) para tentar conter o avanço da pandemia provocada pelo novo coronavírus. Segundo dados do Ministério da Saúde, o maranhão registra 6.765 casos e 355 mortes por Covid-19. 
Segundo Dino, a maioria da população está consciente sobre a necessidade das medidas de isolamento social, mas aqueles que ainda não estão convencidos mudaram de percepção em função dos bloqueios das ruas e avenidas. 
"Temos a orientação da polícia de cumprir a lei. O primeiro caminho é o diálogo, se necessário for, se houve resistência, neste caso, a lei será cumprida. Temos previsões legais quanto ao cometimento de crimes. Creio que isso, se ocorrer, será um ou outro caso, porque as pessoas estão convencidas, e, quem não se convenceu, será convencido pelas barreiras que serão colocadas a partir de amanhã", destacou.
Confira a postagem de Flávio Dino sobre o assunto.

Nesta manhã, vou publicar decreto de requisição administrativa de leitos de hospitais privados em São Luís e em Imperatriz. Coronavírus deve ser a prioridade de todos, já que infelizmente temos milhares de pessoas doentes no Brasil.


sábado, 9 de maio de 2020

Os desafios dos Estados durante a Crise é tema da Brazil Conference

Em painel moderado por Andreza Matais, os Governadores João Doria (SP), Helder Barbalho (PA), Renato Casagrande (ES), Flavio Dino (MA) discutem os desafios enfrentados por seus estados na pandemia de coronavírus.

Governadores se unem contra Bolsonaro e apontam impeachment. Obstrução de justiça e ingerência em outros poderes são os crimes do presidente.

Assistam a partir do minuto 13:52



terça-feira, 5 de maio de 2020

Covid-19: desigualdades, vulnerabilidades, silenciamentos e ignorâncias



C. Sociais e Humanas em Saúde e Covid-19: compreender as interdependências para produzir resistências


Com o título Covid-19: desigualdades, vulnerabilidades, silenciamentos e ignorâncias, pensadores de diferentes perspectivas das Ciências Sociais e Humanas em Saúde jogaram novas luzes no entendimento da pandemia no painel realizado em 30 de abril, na Ágora Abrasco, programação de debates realizada na TV Abrasco, ampliando sentidos e olhares para além da dimensão estritamente biomédica, fazendo valer a importância dessa área na constituição da Saúde Coletiva.
Docente do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC/UFBA) e da Coordenação da Comissão de Ciências Sociais e Humanas em Saúde da Abrasco, Monica Nunes faz a abertura e apresentação da sessão, ressaltando o papel das diferentes expertises reunidas para uma análise complexa e com maior profundidade do fenômeno.
“Num país como o nosso não é possível de isolamento sem falar de redes compensatórias e redes solidárias. Por que essa negação do Executivo? Por que essa negação da ciência no nível ideológico?” levantou Sandra Caponi, professora titular do Departamento de Sociologia e Ciência Política da Universidade Federal de Santa Catarina (DSCP/UFSC), afirmando que o negacionismo tem como características o uso de temas isolados para o questionamento da visão crítica da ciência, além de mecanismos discursivos marcados por distorções e esvaziamento das ações de pessoas e grupos.
Para ela, há grandes afinidades entre o negacionismo e a razão neoliberal. “Na lógica neoliberal, o SUS, a educação pública e a previdência social são estigmatizadas e lidas como políticas destinadas àqueles que não conseguiram vencer” analisou Sandra, afirmando que a visão do governo é que nada deve mudar após a pandemia. “Há o falso dilema entre vida e economia, que não é uma exclusividade brasileira, mas que não é uma questão, mas sim uma escolha biopolítica entre proteger a vida ou expô-la à morte” sentenciou Sandra.
Também professora do ISC/UFBA, Leny Trad deu sequência às exposições, perguntando a quem interessa silenciar as Ciências Sociais e Humanas em saúde justamente nessa pandemia, articulando o discurso negacionista com os constantes ataques às humanidades. O último foi a suspensão das bolsas PIBIC a “quaisquer áreas que não tecnológicas”, sacramentada em portaria do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em 23 de abril.
No entanto, a docente ressaltou que essa tentativa dos obscurantistas é em vão. “Essa busca [de invisibilização] não tem nos detido; e o campo nunca esteve tão afiado, com produções oportunas”, disse Leny, citando a psicóloga boliviana Maria Galindo, que expõe a pandemia como um elemento que traz à tona problemas históricos posto embaixo do tapete pelo pensamento colonial; e Paul Preciado, que articula ao coronavírus o conceito de máscara cognitiva, impedindo a muitos uma reflexão crítica sobre o fenômeno, e que tem sido cada vez mais produzido fora das torres de marfim das universidades.
Observar a situação da população negra e dos auxiliares de enfermagem como categorias com altos percentuais entre os óbitos são elementos, para Leny, que ressaltam a necessidade de um olhar interseccional para revelar hierarquia social e racial que permanece imutável no Brasil contemporâneo. “Qualquer quarentena é sempre discriminatória. Mais possível para uns do que para outros e impossível para um vasto grupo de cuidadores, sem esquecer que matar e deixar viver fazem parte dessa dinâmica” trouxe a expositora, citando Judith Butler e Achille Mbembe.
Compreender as interdependências para produzir resistências: Docente e pesquisador do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS/Uerj), e vice-presidente da Associação Brasileira de Antropologia (ABA), Sérgio Carrara destacou o trabalho político desenvolvido pelas entidades científicas como Abrasco, ABA e Sociedade Brasileira progresso da Ciência (SBPC) como fundamentais para a resposta social à pandemia. “É a solidariedade como reação”.
Num tempo em que são retomadas tecnologias do século XVII como a quarentena, o docente criticou os modelos epidemiológicos excessivamente individualistas. “As pessoas não são pontinhos e a sociedade não é um quadro branco. Será que temos condições de pensar a epidemia numa topografia social acidentada como a brasileira?” questionou Sergio Carrara, sem destacar a importância dos modelos matemáticos, porém buscando olhar além deles.
Para o pesquisador, é necessário pensar interdependência, mesmo entendendo os pontos de vulnerabilidade social, como forma possível de articular ações de resistência. “Nossa relação com os sepultadores é uma dessas relações que a sociedade prefere não pensar. A gente percebe que eles são e já eram fundamentais, e que não eram percebidos” finalizou Sergio Carrara.
Vulnerabilidades, privilégios e interdependências também marcaram a fala de Dudu Ribeiro, historiador especialista em gestão estratégica de políticas públicas e coordenador da Iniciativa Negra por Uma Nova Política sobre Drogas. “Essas desigualdades produzem silenciamentos e ignorâncias e dão pistas de como os avanços da pandemia funcionam diferentemente para uns e outros, entre o Titanic e o Navio negreiro. Corpos circulantes e os em isolamentos provocam contagens completamente diferentes” apontou.
Ao destacar a dimensão ainda mais impactante do que comumente é chamado de micropolítica, ele destacou o caráter nocivo das guerras às drogas e as estratégias de aproximação entre os considerados “inimigos” dos “homens de bem”: vírus, estrangeiros, negros em políticas de superencarceramento, e as mulheres negras, às quais destacou como centrais na articulação das redes de cuidado dentro das favelas.
Para ele, somente com esses reconhecimentos a sociedade terá alguma capacidade de dar uma resposta à pandemia sem deixar os grupos historicamente excluídos para trás. “Esse diálogo da produção científica com saberes potentes da vida, a partir de papéis motivadores, é necessário. Como fazer com que isso não se perca e que possamos produzir mais conexões?” encerrou Dudu lendo um trecho de “Cartas à minha mãe”, da escritora cubana Teresa Cárdenas.
Antes de abrir para o debate, Monica Nunes arrematou a discussão, costurando as ricas visões expostas nas falas do painel. “Além das estigmatizações citadas, vejo também uma visão da natureza como inimiga. Essa pandemia faz a gente pensar como estava andando nossa convivência ecológica e a desarmonia na nossa relação com a natureza, o que pode nos fazer entender melhor a emergência dessa epidemia” marcou a abrasquiana. Assista abaixo na íntegra.