quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

1º de Janeiro: PT assume o comando de Minas Gerais pela primeira vez

 
 
 
Pimentel confirmou ainda o nome de duas mulheres no primeiro escalão de seu governo: Macaé Evaristo será a secretária de Educação e Sinara Meirelles assumirá a presidência da Copasa (Companhia de Saneamento de Minas). Macaé, que é negra e tem um currículo respeitado, foi titular da pasta de Educação quando Pimentel era prefeito de Belo Horizonte.
 
Macaé Evaristo é secretária  de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI) do Ministério da Educação no governo Dilma Roussef. É professora da rede estadual  de ensino desde 1984. Foi secretária de Educação de Belo Horizonte e uma das responsáveis pelo programa de Educação Integral da capital mineira. Coordenou o programa de implantação de escolas indígenas de Minas Gerais entre 1997 e 2004.

O secretário de estado de Planejamento  e Gestão será Helvécio Magalhães. Médico formado pela UFMG e Doutor em Saúde Pública pela Unicamp. É servidor concursado da Prefeitura  de Belo Horizonte, onde foi secretário municipal de Saúde e secretário de Planejamento e Orçamento. No Ministério da Saúde, foi secretário de Atenção à Saúde no governo Dilma Roussef.

O secretário estadual de Saúde será Fausto Pereira dos Santos. Médico sanitarista formado pela UFMG. É doutor em Saúde Coletiva pela Unicamp.  É secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde. Foi secretário adjunto de Saúde da Prefeitura de Belo Horizonte. Presidiu a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) por dois anos.

Nilmário Miranda será secretário de estado de Direitos e Cidadania. Jornalista, é mestre em Ciências Políticas pela UFMG. Foi deputado estadual (1987-1990), deputado federal (1991-2003) e secretário nacional dos Direitos Humanos no governo Lula. Voltou à Câmara dos Deputados em 2013. Como deputado federal, presidiu a Comissão Externa para os Mortos e Desaparecidos políticos da Câmara dos Deputados e foi autor do projeto de lei que criou a Comissão de Direitos Humanos de Minorias, que presidiu em 1995 e em 1999.

Com predominância de um perfil político e mais secretarias que as atuais, o governo de Fernando Pimentel (PT) confirmou, ontem, os nomes para o primeiro escalão da gestão que porá fim a 12 anos de administração do PSDB em Minas Gerais. 
Ao todo, serão 22 secretarias, incluindo as cinco que serão criadas. O governador irá desmembrar uma das secretarias, a de Esportes e Turismo, criando duas pastas para os respectivos setores. 
Além disso, o petista vai criar as pastas de Recursos Humanos, de Agricultura Familiar e Reforma Agrária, de Direitos e Cidadania, bem como a Secretaria-Geral da Governadoria. Nesses casos, a posse dos secretários será depois da aprovação da criação pela Assembleia Legislativa. 
De acordo com nota divulgada pela assessoria de imprensa de Fernando Pimentel, o Escritório de Prioridades Estratégicas será extinto. 
A Ouvidoria-Geral do Estado será transformada em subsecretaria, vinculada à futura Secretaria de Direitos e Cidadania. Uma das bandeiras da campanha de Pimentel foi “ouvir para governar”. 
Conforme a assessoria, a Representação do Estado em Brasília também perderá o status de secretaria, passando a ser vinculada à Secretaria de Governo.
Na divisão dos postos, PT e PMDB ficaram com a maioria das secretarias, respectivamente 12 e seis. Já o PR, PCdoB e PRB levarão uma Pasta cada um. 
Apesar dos rumores de que Pimentel passaria a despachar no Palácio da Liberdade, foi confirmado que ele ficará instalado na Cidade Administrativa. 
O petista divulgou ainda os seis nomes de presidentes das estatais e autarquias - Codemig, Cemig, Prodemge, Copasa, BDMG e Controladoria-Geral do Estado. As nomeações dependem de aprovação em assembleia geral para a Copasa e a Cemig, ou dos conselhos de administração no caso da Prodemge e da Codemig. Ontem, o governo de Minas publicou no Diário Oficial a destituição dos presidente e vice da Codemig, Oswaldo Borges e Antônio Leonardo Lemos. Foi nomeado para ocupar o cargo de presidente até abril de 2015, o engenheiro Luiz Augusto de Barros. 
Uma edição extra do Diário Oficial do Estado deverá ser publicada hoje com a nova estrutura de governo e os nomes indicados. 


Pimentel governará com políticos e mais secretarias



terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Jesus Nasceu em uma Ocupação, por Frei Rodrigo Péret

Do Fala Chico:
 
Por Frei Rodrigo Péret
 
 

A história desta foto: Esse menino dormia sereno na véspera do despejo das famílias de sem teto, do MTM - Movimento Terra e Moradia, acampadas, no bairro Ipanema na cidade de Uberlândia (MG), neste ano de 2014. 

Hoje, igual a essa criança, mais de 8 mil famílias, estão ocupando várias áreas em Uberlândia. Estão acampados buscando moradia. Querem um lote de terra para nossas famílias. Buscam fugir do aluguel. Procuram uma casa, um lar. 

Os pássaros tem seus ninhos, os animais suas tocas.

Nesse tempo de Natal, nós recordamos que chegada a hora de Maria dar a luz, ela e José procuraram um lugar, um abrigo, mas não encontraram,. Bateram em muitas portas e lhes foi negado um abrigo. Tiveram que ocupar uma estrebaria (um curral) e ali nasceu um menino, Jesus, que foi  envolvido em panos e colocado num cocho, numa manjedoura.

Nosso Salvador nasceu numa ocupação. Certamente uma ocupação diferente. Uma ocupação de um só casal, uma mulher grávida, prestes a dar a luz. Pode parecer para nós uma pequena ocupação, mas aquele casal representa, na verdade, toda humanidade. De certo não ficaram ali, mas aquele menino ocupou nossos corações, nossas vidas e nossa história. E aquela família se tornou o modelo para todas as famílias da humanidade. A natureza os acolheu com alegria, uma estrela anunciou o seu nascimento, os animais naquela estrebaria assistiram ao nascimento. Os pobres pastores vieram visitar, anunciados pelos anjos, e ate os reis vieram adorar o menino, e respeitaram o Deus Menino, numa ocupação.

Deus assumiu nossa fragilidade, por amor quis ser como nós. Herodes tremeu em seu poder, teve medo da frágil criança, nascida numa ocupação de um curral, na pequena vila de Belém.


O projeto de salvação que esse menino trouxe exige para nós conversão, exige partilha para que a justiça aconteça e sua presença se realize entre nós. O livro dos Atos dos Apóstolos nos dá um exemplo de como viver esse projeto: "Eles mostravam-se assíduos ao ensinamento dos apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações. Apossava-se de todos o temor, pois numerosos eram os prodígios e sinais que se realizavam por meio dos apóstolos. Todos os que tinham abraçado a fé reuniam-se e punham tudo em comum: vendiam suas propriedades e bens, e dividiam-nos entre todos, segundo as necessidades de cada um. Dia após dia, unânimes, mostravam-se assíduos no Templo e partiam o pão pelas casas, tomando o alimento com alegria e simplicidade de coração. Louvavam a Deus e gozavam da simpatia de todo o povo. E o Senhor acrescentava cada dia ao seu número os que seriam salvos." (At 2, 43-47). 

Feliz Natal!!!!!

Frei Rodrigo de Castro Amédée Péret, ofm

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

A Revolta Cashmere: o inusitado movimento que apareceu nas ruas do Brasil em 2014


A Revolta Cashmere – o ano em que o brasileiro encarou seus mitos, por Sérgio Saraiva


Sergio Saraiva
Em um ano de acontecimentos da ordem de uma Copa do Mundo e de uma eleição antecedida de uma tragédia que vitimou um dos seus principais candidatos, o personagem principal não foi nem um atleta e nem um político, mas sim a figura do revoltoso cashmere.
Revolta Cashmere – assim a “The Economist” chamou o inusitado movimento que tomou as ruas do Brasil em 2014. Pessoas brancas, bem vestidas, daí o designativo de cashmere, bem posicionadas social e financeiramente, de repente saem às ruas no intento de derrubar um governo democraticamente eleito.
Sem a ironia típica dos ingleses, chamamos os de “os coxinhas”.
A “The Economist” foi realmente feliz. Sem dúvida, Revolta Cashmere é um nome adequado para descrever nossa luta de classes unilateral e invertida.
Não nos enganemos, vivemos a última década envolvidos em uma luta de classes como nunca antes neste país. Luta de classes singular, invertida, onde as classes dominantes são protagonistas. Reagem ao avanço das classes populares que marcham inconscientes da própria luta em que estão inseridas.
Em 2014, a luta que até então era surda, frente à eminência de mais quatro anos fora do poder federal, jogou o revoltoso cashmere nas ruas.
Seus gritos de guerra: “não vai ter Copa”, “vai tomar no cu”, “fora Dilma, e leve o PT junto” e o indefectível “vai pra Cuba”.
Basta recordá-los para ver que o revoltoso cashmere é antes de tudo um derrotado. Alguém que luta contra seu próprio país por nele se considerar um estrangeiro jamais vencerá.
Seu inimigo – os bolivarianos. Ainda que de bolivariano mesmo somente a mesma classe média reacionária no Brasil e na Venezuela.
O revoltoso cashmere se recusa a reconhecer que seu inimigo é qualquer ação que venha a reduzir, minimamente que seja, a nossa escandalosa desigualdade. Que reduza as vantagens comparativas com as quais se identifica como superior aos “nativos”. O revoltoso cashmere acusa Lula de jogar pobres contra ricos. E, como o revoltoso cashmere se filia aos ricos, sente-se pessoalmente atacado.
O ano mal havia começado e o combate que deram aos meninos pretos e mulatos dos rolezinhos que ousavam frequentar o mesmo shopping center que seus filhos mostrou o quanto de preconceito e hipocrisia há na nossa “democracia racial”. Os rolezinhos eram tão somente uma apropriação de valores burgueses por uma classe social de proletários que tinha tido seu poder aquisitivo melhorado.  Os burgueses julgavam, no entanto, que essa apropriação era, na verdade, um roubo. Mandaram a polícia bater nos meninos.
Foi também um momento tragicômico para os estamentos superiores da nossa pirâmide social. Juízes dando liminares que cassavam o direito constitucional de ir e vir. Personalidades constrangidas em mostrar todo o seu preconceito social, mas considerando os rolezinhos um perigo. E os garotos só a fim de dançar funk ostentação na praça de alimentação.
Lembrando daquele povo branco nas ruas em junho de 2013 pleiteando escolas e hospitais públicos “padrão FIFA”, perguntei-me: estiveram realmente dispostos a dividir a mesma enfermaria com o porteiro dos seus condomínios? Seus filhos iriam dividir a mesma classe escolar do filho da diarista no advento do tal “padrão FIFA” público e para todos?
Com a reação aos rolezinhos eles responderam: não.
Daí até a Copa, a violência explodiu. Se havia policiais suficientes para sufocar os rolezinhos, pareciam insuficientes e impotentes para controlar os revoltosos cashmeres e sua tropa de choque – os black blocs.
“Não vai ter Copa”.
Não era uma Copa, era uma revolução, tratava-se de derrubar o governo.
Uma campanha de desconstrução conduzida massivamente pela grande mídia tornou-se um fenômeno sociológico. Foi capaz de momentaneamente modificar a auto-imagem do brasileiro. O brasileiro passou de um povo alegre, hospitaleiro, festeiro e laissez faire para um povo capaz de ameaçar turistas estrangeiros como fossemos um terrorista do oriente médio. Carrancudo a ponto de não querer participar da própria festa pela qual esperou mais de meio século. Oportunista a ponto de agredir um símbolo como a seleção brasileira de futebol para chamar atenção para suas reivindicações salariais e intolerante e violento a ponto de linchar meninos carentes e senhoras emocionalmente desajustadas.
"Ei Dilma, vai tomar no cu".
Os jogos, no entanto, foram a primeira derrota dos revoltosos cashmeres. Foram um sucesso de organização e de público. Mas a pressão já havia feito seu estrago no moral da nossa seleção.
Ainda assim, nos setores VIPs dos estádios, lá estavam os revoltosos cashmeres ofendendo a presidente com termos de baixo calão. Mostrando ao mundo que formavam hordas bárbaras em meio a um povo que festejava nas ruas o congraçamento dos povos em torno do esporte.
"Fora Dilma, e leve o PT junto".
Acabada a Copa, a campanha eleitoral foi a grande batalha da Revolta Cashmere. Nela, as forças se dividiram literalmente como dois exércitos em guerra. O PT de um dos lados, todos os demais do outro. E lá estava o revoltoso cashmere exercendo o preconceito contra os pobres que ele chamava, na sua ignorância, de nordestinos. Pleiteando a divisão do Brasil em dois países antagônicos – o do norte e o do sul. O preconceito desavergonhado e a intimidação mais grosseira elevados à condição de manifestação política. Mas toda a violência contida no “Fora Dilma, e leve o PT junto” não bastou. Deu Dilma, deu PT.
"Vai pra Cuba".
Inconformado, o filósofo cashmere ainda ameaçava:
“Precisamos de uma militância de secessão: que os bolivarianos durmam inseguros com o dia seguinte, porque metade do país já sabe que eles não são de confiança. Que fique claro que a batalha foi ganha pelos bolivarianos, mas, a guerra acabou de começar, e começou bem” -Luis Felipe Pondé em “Diálogo ou secessão?”. 
E o revoltoso cashmere foi novamente às ruas, agora para pedir impeachment e a volta da ditadura militar. Chegou ao ridículo de em uma petição em inglês pedir à Casa Branca uma intervenção americana. Sonhava ser salvo pela cavalaria do General Custer.
Em sua batalha final, já uma luta de resistência, aos grupelhos, dirigiu-se à Avenida Paulista. Mas, agora, eram liderados por malucos decadentes. E no último e melancólico ato da Revolta Cashmere, seu eleito faltou à passeata que ele mesmo convocara – havia ido para a praia.  Os revoltosos cashmeres ficaram esperando Godot.
Por fim, mais uma série de derrotas simbólicas. O revoltoso cashmere ainda teve de ver seu cavaleiro vingador politicamente inviabilizado aposentar se precocemente e a pedido, mas com vencimentos integrais e apartamento em Miami. E vê aqueles a quem admira e adula, os diretores de grandes empresas de engenharia, seu símbolo de ascensão profissional, serem presos como corruptores na Operação Lava Jato.
Antes, vira seu Midas-X falir. Fechando o ano, ouviu Obama falar para Fidel Castro: “Somos todos americanos”. Obama foi para Cuba.
E assim, termina 2014 - o ano da Revolta Cashmere. Um ano em que fomos apresentados a nossa face mais hipócrita, preconceituosa, violenta e intolerante. Donde o brasileiro cordial? Foi um ano para confrontarmos nossos mitos.
Começaremos 2015, ansiando por nuvens escuras e tempestades. Até porque, ao lado progressista desta nação em construção, os enfrentamentos à Revolta Cashmere nos ensinaram a não temer tempos feios ou gente cheirosa.

domingo, 28 de dezembro de 2014

Notícias sobre o Senador nota Zero

Aécio nota zero. "Veja" rifa o playboy!

Por Altamiro Borges

Não é para menos que o cambaleante Aécio Neves anunciou, em entrevista à Folha nesta semana, que "já cumpri meu papel" e que o governador Geraldo Alckmin deve ser o candidato do PSDB em 2018. Além da sua dupla derrota – na corrida presidencial e na manutenção do governo de Minas Gerais –, o senador sabe que não conta com a simpatia da oligarquia nativa. Ele é visto como um playboy sem condições de governar o país. A elite até o apoiou, no seu ódio ao lulopetismo, mas ele "já cumpriu o seu papel" e pode ser descartado. O "Ranking do Progresso", publicado nesta semana pela "Veja", sinaliza que ele já virou bagaço. Passado o pleito, ele recebeu nota zero do panfleto da direita nativa.   
 
 
Do brasil247.com:

Nota zero de Veja em Aécio já o exclui de 2018?

:


 
É quase surreal que a revista Veja, que sempre foi tucana e rompeu qualquer barreira ética na disputa presidencial de 2014, tenha classificado o senador Aécio Neves (PSDB-MG), em seu ranking dos parlamentares mais atuantes do País, como o pior senador brasileiro, com nota zero; qual será o significado disso?; será que as elites paulistas já começam a definir que ele não será candidato em 2018?; com Aécio fora do jogo, restam dois favoritos: o governador Geraldo Alckmin e o senador José Serra
 
 
Do Rede Brasil Atual:
 

Aécio Neves governador pôs dinheiro público em rádios e jornal da família

Dinheiro do governo estadual abasteceu empresas de comunicação controladas por familiares do senador tucano, além dos veículos que jamais negaram apoio a seus projetos políticos
 
 
Comentário do Miguel do Rosário, no blog O Cafezinho:
 
Ah, como é bom ser tucano!

Se a Dilma tivesse uma rádio, e tivesse repassado R$ 2,99 do governo federal para ela, a oposição e a mídia já estariam pedindo impeachment.

Como é tucano, então pode.

Só uma dúvida, incluíram as estatais de Minas nessa conta?

E antes de 2003, quando o PSDB tinha o governo federal, a rádio de Aécio levou alguma coisa?

Parodiando o Titãs, a gente quer saber inteiro, não pela metade!
 
 
 

sábado, 27 de dezembro de 2014

Belluzzo critica ação dos cartéis da construção e da informação na crise

Economista, diz que Dilma é uma das poucas pessoas por quem põe ‘a mão no fogo’. Para ele, presidenta é ‘atormentada’ por cartéis e o que ‘estão fazendo com a Petrobras é imperdoável’

por Redação Rede Brasil Atual

REPRODUÇÃO/TVT
Belluzzo
'Defendo as empresas, não seus donos: os que cometeram malfeitos têm de cumprir o que a lei manda'

São Paulo – “A economia brasileira tem os seus cartéis, dentre os quais os mais importantes são as empresas de construção”, diz o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, professor da Unicamp. Em entrevista ao Seu Jornal, da TVT, Belluzo afirma que a importância do setor de construção da economia – junto com a Petrobras responde por sete a nove pontos percentuais da taxa de investimentos no país – não exime os empresários do setor de serem punidos com o rigor da lei. “Estou defendendo as empresas, e não os empresários, os que cometeram malfeitos têm de cumprir o que a lei manda.”
Ele vê no entanto, que a crise da Petrobras envolve, além dos casos de corrupção – que têm de ser investigados e solucionados para que a empresa se recupere –, questões geopolíticas externas e interesse internos: “Está lá no Congresso o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) clamando pela mudança do modelo de partilha para o modelo de concessão. Concessão é adequado para quando você vai descobrir as reservas de petróleo. Você não pode aplicar isso a reservas já descobertas, seria uma impropriedade. Isso envolve uma questão geopolítica, de interesse, no fundo, de se privatizar ao máximo a exploração do petróleo e tirar do controle da Petrobras”, observa. “Por isso o caso da Petrobras é muito grave. Isso que foi feito é imperdoável, porque fragiliza muito a empresa.”
O economista se solidariza com a presidenta Dilma Rousseff: “É uma das poucas pessoas pelas quais eu ponho a mão no fogo. Eu sei que ela deve estar atormentada e é inacreditável que tentem imputar a ela alguma coisa parecida com corrupção”, diz. E faz uma referência à atuação da imprensa brasileira. “A imprensa brasileira é um cartel. Um cartel da informação, o que é grave para um país que quer avançar na democracia, na melhoria dos padrões de convivência. É preciso diversificar os meios de comunicação e não permitir que o cartel continue operando. E o cartel está operando.”
Assista à entrevista concedida a Talita Galli, da TVT.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Aumenta em quatro vezes participação de alunos mais pobres nas universidades públicas

(Foto de Margarida Neide / Agência A TARDE)
 
 
Resultado direto de 12 anos de PT no governo, das inúmeras políticas de inclusão social implementadas pelas administrações do partido, registrou-se um aumento em quatro vezes do ingresso dos jovens das famílias mais pobres nas universidades públicas. O dado revela não apenas que a ampliação das oportunidades – uma obrigação do Estado -  é possível mas, sobretudo, mostra a garra desses estudantes que estão correspondendo às expectativas e ao investimentos que o governo tem feito na área de educação.
Os dados desse aumento são da Síntese de Indicadores Sociais do IBGE. Eles apontam que a presença dos 20% mais pobres da população brasileira na universidade pública aumentou quatro vezes entre 2004 e 2013. “Houve políticas de ampliação de vagas e outras (medidas) como o ProUni (Programa Universidade para Todos) e as cotas, mas também houve aumentos da renda e da escolaridade média (do brasileiro)”, comemora a responsável por essa parte da pesquisa no IBGE, Betina Fresneda.
 
Em 2004, esses alunos representavam apenas 1,7% do total das vagas nas universidades públicas brasileiras. Em 2013, chegaram a 7,2%. Nas universidades privadas também houve aumento de alunos deste segmento: eles passaram de 1,3 % para 3,7%. Em contrapartida, houve uma queda da participação dos 20% mais ricos. Eles passaram de 55% para 38,8% nas instituições de ensino superior públicas; e de 68,9% para 43% nas de ensino privadas no mesmo período.
 
O IBGE também aponta a redução da distorção idade-série entre os jovens de 15 anos a 17 anos. Em 2004, apenas 44,2% desses alunos cursavam o ensino médio (adequado à sua idade); em 2013, esse percentual subiu para 55%. Já o número de jovens que não estudam também diminuiu: passou de 18,1% para 15,7%. Na faixa dos alunos de 13 anos a 16 anos fora da série adequada o índice, que era de 47,1% em 2004 diminuiu para 41,4% em 2013.
 
A preocupação deve continuar incidindo, porém, aponta o IBGE, entre os chamados nem nem, jovens que não estudam, nem trabalham. Em 2013, um em cada cinco jovens brasileiros entre 15 anos e 29 anos (20,3%) não estudava nem trabalhava. A faixa etária que mais concentra este segmento (24%) é a de jovens entre 18 anos e 24 anos.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Natal: O Divino entre Nós

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Frei Gilvander Moreira


Estamos no meio do turbilhão de uma crise plural: política, econômica, ecológica, ética, das Instituições etc. Urge recriarmos relações éticas e estruturas de fraternidade para que a crise plural não nos impeça de caminhar, ainda nesta vida, para o bem.
 
Em tempo natalino e em todos os dias do ano novo, como vivenciarmos então relações éticas que viabilizem (mais do que transformação) a transfiguração das instituições e de nós mesmos?
 
A desconexão cultural existente entre o ser humano e a natureza ameaça ambos e não pode continuar. “Salvemo-nos com o Planeta”. Devolvamos ao Natal seu caráter de celebração da vitória da vida projetada para solidarizar pessoas e povos, religiões e culturas em torno da causa da Paz, Shalom!
 
Advento, expectativa para a grande festa. Natal, o divino a nos envolver. Celebramos Deus irrompendo de dentro da história humana, em Jesus de Nazaré. Em tantos que o precederam e cuja riqueza partilha e, depois, em tantos que sorveram a riqueza de seu Evangelho a favor de povos e culturas.
 
Em Jesus de Nazaré, Deus se fez frágil como um bebezinho dependente, que precisava ser amado. Ele também precisou ser alimentado, cuidado... amado e desejado...Caso contrário, ele não seria humano... Jesus não nasceu Cristo; se tornou Cristo, ungido, filho de Deus. “Humano assim só poderia ser divino”, exclamou o papa Paulo VI. Jesus se fez ecumênico, aberto ao outro, a todos.
 
Conviveu e burilou a dignidade e a grandeza em nós. Ele anunciava, por seu modo de ser e de agir, o seguinte: “Veja o vigor, a missão, o divino existente em cada ser humano, nas comunidades e nas culturas. Não busque fora o que fervilha em você e nos outros. É das relações (humanas, ecológicas) que a inspiração e idealismo de libertadores brotam.” Na Encarnação de Deus na história, no galileu de Nazaré, se misturam cotidianamente fé e política, sagrado e profano, pessoal e social, céu e terra.
 
Sem dualismos, com o nascimento de Jesus ficou decretado cultivar a unidade que há de reinar na imensa vastidão dos infinitos pontos que entrelaçam a vida.

Natal, portanto, é tempo - ao reverenciar o evento-Jesus – de vislumbrar e assumir em toda criança – de preferência em pobres, doentes e excluídas de toda cultura e religião, de cores e de etnias - um símbolo da presença amorosa de Deus.
 
O Natal pode ser terapêutico, uma vez que contemplar a presença divina no que é simplesmente humano e em cada criatura, ser vivo que compõe a biodiversidade.
 
O Natal do Nazareno seja nosso natal. Natal como irrupção da luz e da força divina presente no humano e em todas as criaturas, essa grande comunidade de vida, da qual fazemos parte.
 
Com Dom Hélder Câmara, abramos o coração e exclamemos: Que Tua mensagem se torne carne de nossa carne, sangue de nosso sangue, razão de ser de nossa vida. Que ela nos arranque do comodismo da boa consciência! Seja exigente, incômoda; pois, então, nos trará paz profunda, paz diferente, a tua paz”.
 
Sejamos Natal: dádiva do Deus amor nas relações humanas e ecológicas. Eis uma rica oportunidade que vale a pena abraçar. Cada pessoa, todo grupo se engaje na construção da paz e da justiça em seu meio, inserindo na História algo do Deus libertador a congraçar-nos em universal fraternidade.
 
É hora de encarnarmos a regra de ouro: “Não faça aos outros aquilo que não quer que lhe seja feito”. Ou seja, mais do que um pensar ético, um agir ético é imprescindível para realizarmos o desafio de transfigurar as instituições e as pessoas.
 
Que cada pessoa expresse a outra seus votos de um feliz e abençoado Natal - com a amplidão e a profundidade de uma saudação indiana, namastê: o Deus que está em mim saúda o Deus que está em você. Alegremo-nos em restituir ao mundo a sacralidade histórica da criança de Belém em prol de vida com boa qualidade em famílias e instituições.
 
Frei Gilvander Moreira *
 
* Carmelita, mestre em Exegese Bíblica, professor de teologia Bíblica, assessor da CPT, CEBI, CEBs, SAB e Via Campesina
 
 

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Receita de Natal, por Frei Betto






Receita de Natal
 
FREI BETTO
 
Natal é o momento de voltar a ser menino. Abandonar tudo aquilo que, em nós, não é próprio da infância: vingança, mágoa, ressentimento, lembrança de coisas más, ambições desmedidas... Se tais sentimentos existem numa criança é porque fizemos dela um adulto precoce.

Naquele Menino, Deus entrou em nossa história pela porta dos fundos. Não como filho de César ou do faraó. Mas de um carpinteiro e uma camponesa. Filho de uma família tão pobre que não encontrou lugar em Belém. Teve de nascer como um sem-terra, no cocho, lá onde se guardam animais. Quantas vezes Jesus não encontra lugar também no presépio do nosso coração! Este impregna-se de vaidade, ódio, prepotência, sem que haja lugar para o filho de Maria e José. O próprio Jesus adverte: "Felizes os que têm espírito de pobre" (Mt 5, 3).

Celebrar a irrupção de Jesus é nos fazermos presentes ao outro, imagem e semelhança de Deus. Na medida que somos presentes a outras vidas, como dom gratuito, reatualizamos o verdadeiro sentido do Natal.

Os relatos natalinos do Evangelho incluem até figuras consideradas impuras pela mentalidade da época, como os pastores, primeiros adoradores do Menino. Hoje, falar em pastores, sobretudo para quem não vive numa sociedade rural, soa poético. Na época, pastor era uma profissão vergonhosa, pois lidava com carne de animais. Seria uma humilhação a filha de alguém se casar com um deles. E, no entanto, aqueles que eram marginalizados foram os primeiros a se aproximar do Menino.

Nas representações do Natal, destaca-se a estrela de Davi. Trata-se de um símbolo astrológico. Júpiter simbolizava o rei dos astros; Saturno, o planeta do povo judeu; e Peixes, a constelação do fim dos tempos. Portanto, ao unir Júpiter e Saturno numa conjugação na constelação de Peixes, procurou-se ressaltar que entre o povo judeu (Saturno) nasceu o rei (Júpiter), que veio realizar, na época de Peixes, a plenitude dos tempos.


Andamos em busca de um presente, o amor que sacia o coração; queremos nos abrir para que o divino irrompa em nossas vidas





Assim, a Bíblia quer mostrar que, de alguma forma, a revelação divina perpassa todos esses sinais, simbolismos, arquétipos, fatores culturais e espirituais que existem na história dos povos. E são utilizados no relato evangélico para anunciar: o menino Jesus é o filho de Deus entre nós.

Francisco de Assis sugeria que, no Natal, distribuíssemos carnes a todos, pois nessa noite celebramos o grande acontecimento histórico: "O Verbo se fez carne..." Dizia ainda Francisco que deveríamos espalhar sementes pelos campos, distribuir alpiste aos pássaros, dar comida aos pobres e nos presentear mutuamente, num gesto sacramental de que, nessa noite, Deus se fez presente entre nós. 

Assim, o presente que nos damos uns aos outros reproduz sacramentalmente o presente que Deus, nosso pai e nossa mãe, nos dá em nosso irmão Jesus. A noite de Natal é de alegria para quem sente no coração o eco divino. E de tristeza quando o coração busca essa ressonância e não encontra. Ainda que nos encham de presentes, de comidas e de bebidas, fica um vazio, uma ponta de tristeza. Mas esse travo não é de todo negativo. É o sinal de que temos fome de Deus, de que ainda perdura em nós a voracidade pelo transcendente.
 
Essa melancolia que nos acomete na época do Natal, como se algo estivesse faltando, malgrado as comemorações e os presentes, é o apetite espiritual não saciado. De fato, andamos em busca de um grande presente, o amor que sacia o coração. Queremos nos abrir, não para que Papai Noel entre por nossas janelas, mas para que o divino irrompa em nossas vidas.
 
Para quem vai celebrar o Natal, pode-se escolher entre duas receitas. Receita para fazer uma festa: tomar um punhado de gente, misturá-lo em torno de uma grande mesa, acrescentar comida e bebida sem sabor de comunhão, agitar com bastante música, rechear com muitos presentes e servir, como se fosse Natal, essa festa como outra qualquer.
 
Receita para fazer um Natal: tomar um grupo de irmãos ligados pela mesma fé, unidos numa única esperança. Juntar Cristo a eles. Deixar fermentar até nascerem o homem e a mulher novos. Servir evangelicamente a quem tem fome e sede de justiça.

(Texto de Dezembro de 2001) 

Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, 56, é escritor e assessor de movimentos pastorais e sociais, autor da biografia de Jesus "Entre todos os homens" (Ática), entre outros livros.